Pais desaprovam envolvimento dos filhos com teatro e desestimulam profissionalização
Iniciativas como "Expondo-nós" da acadêmia BA dá oportunidades para os pais conhecerem o trabalho dos filhos no teatro | Foto: Eduarda Macedo
O teatro para muitos é visto como uma arte majestosa, divertida e cheia de emoções. Os atores dão vida a vários personagens em diferentes grupos e escolas de teatro da cidade. Mas uma coisa que fica nos bastidores é a falta de reconhecimento e apoio dos familiares aos jovens talentos que pisam nos palcos em busca de seus sonhos.
Um exemplo disso é um jovem ator que preferiu não se identificar. Ele afirma que já passou por muitas dificuldades quando decidiu entrar para um dos grupos de teatro na cidade. “Meu pai odiou quando eu contei pra ele que estava no teatro, ele falou muitas coisas pesadas e que eu não teria futuro.” O ator relata que quase foi expulso de casa, pois, segundo seu pai , aquilo que ele estava fazendo era algo muito promíscuo e que não era coisa “de homem”. O pai comenta que não gostaria de ver o filho seguindo o caminho do teatro. “Eu acho que meu filho deveria estar mais focado na faculdade, na sala de aula e não pulando por um palco”, comentou. O ator, apesar disso, não pensa em desistir do teatro. “Eu amo o teatro e não vai ser meu pai gostar ou não que vai me tirar dele. Claro que é difícil não ter essa rede, porém sei que tenho amigos que me apoiam mais que minha família.”
Outra jovem atriz, que também preferiu não ser identificada, conta que se apaixonou pelo teatro ao participar do Grupo de Teatro Universitário (GTU) e que isso a inspirou a fazer artes visuais, um choque para a família.“Eu sou bissexual e minha familia culpou o teatro pela minha sexualidade. Porque, segundo eles, artistas ultrapassam os limites e talvez essa coisa de humanas mexam com o meu psicológico” relata a atriz.
Para a diretora da escola de teatro e dança, Bianca Almeida, muitos pais julgam a produção artística como indecente e marginal. “Eles ficam com um certo receio. É aquilo que eles pensam que o filho vai ter que fazer teatro nu. E não é isso, a arte é uma ferramenta de transformação”. Bianca ainda afirma que há diferenças entre os alunos que têm o apoio familiar e os que não têm, no qual, quem tem a rede de apoio é nítida a evolução, pois se sentem seguros.. “Muitos pais já vieram falar, ‘Bianca, eu nunca imaginei que minha filha ia ficar transformada no bom sentido’. Eles apresentam melhoras até na faculdade e dentro de casa”, conta a diretora. E quando não há o incentivo dos familiares muitos alunos chegam tristes à aula. “Às vezes quando é necessário cortar contas o primeiro é o teatro. E não deveria porque o teatro é uma questão de qualidade de vida, ele trabalha a parte de cura”, finaliza Bianca.
Nem todos vivem essa mesma experiência, a atriz Jeny Hornung conta que sempre teve o apoio de seus familiares, mas apenas vê o teatro como um hobby e não como uma possibilidade de profissão. Porém, segundo Jeny, a família problematiza alguns personagens que ela interpreta. “Uma vez eu interpretei uma personagem que só usava ataduras e durex de roupa e uma bêbada. Isso talvez danifique um pouco a visão pessoal da minha família. Porque ninguém entende de verdade o conceito que a vulgaridade também é utilizada na arte e na expressão e acham desnecessário”. Segundo a atriz, seu pai não gosta das peças que ela faz por achar que os personagens possuem uma “energia ruim ". Aqui em Ponta Grossa as pessoas sempre se ligam ao tradicional e não ao arriscado. Não incentivando muito o teatro nas crianças. Isso também cria a imagem na família que teatro é só ler um texto e interpretar um conto de fadas”, finaliza a atriz.
Ficha Técnica
Produção: Eduarda Macedo
Edição e publicação: Gabriel Ribeiro
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos