Reportagem traz relatos de frequentadores de bailes que destacam o papel social da casa de dança

Foto 1 Construção da sede em alvenaria

Foto: Arquivo pessoal de Vera Lúcia Laranjeira Manoel

Fundado em 1880 por um grupo de jovens negros que não dispunham de espaço na cidade para se divertir e conviver socialmente, o  Clube Literário e Recreativo 13 de Maio ainda mantém viva a tradição dos bailes. O Clube é um ponto de referência da cultura e da história em Ponta Grossa, destaca-se como um lugar de dança e de encontro, principalmente para pessoas da terceira idade.

A historiadora Merylin Ricieli, que pesquisa dinâmicas sociais e espaços de resistência da população negra em Ponta Grossa, ressalta o papel do clube na construção de narrativas e memórias coletivas. Ela fala sobre a importância do clube como uma agência de empoderamento e celebração da cultura negra. “O 13 de Maio, além de espaço de resistência e território negro, é lugar de sociabilidade e age também nas construções identitárias negras”. 

A pesquisadora destaca que a preservação de espaços  de resistência como  o  13 de Maio é importante para preservar as memórias dos frequentadores. De acordo com ela, memórias são fundamentais para compreender a diversidade racial que compõe a população de Ponta Grossa. Para Merylin, os concursos de beleza negra que ocorriam no clube foram relevantes no movimento contra o racismo. “Foram os mais marcantes para mim, porque existia ali a garota 13 de Maio, a mais bela negra, rainha da primavera, e era tudo pensado para a valorização da mulher e da beleza negras”, conta.

A historiadora Priscielli Rozo, especializada em arte e cultura, destaca a necessidade de preservar os espaços culturais como forma de manter viva a herança deixada pelos antepassados. Segundo ela, esses locais são verdadeiras manifestações das tradições e valores transmitidos ao longo das gerações, que permitem uma conexão única entre passado, presente e futuro. “O clube é crucial para a nossa identidade, pois ajuda a combater o mito do Paraná branco, proveniente da imigração”, explica.

Atualmente, no clube, os bailes acontecem nos fins de semana e nas terças-feiras. As modas antigas e as canções românticas e gauchescas, embalam as tardes e noites de cerca de 500 pessoas da cidade, que vêm de bairros distantes ou de outros municípios para se divertir, rever os amigos e, principalmente, dançar.

Na seleção do repertório, o sertanejo e ritmos gaúchos têm a preferência dos músicos,as canções, novas e antigas, ecoam pelas paredes da  casa velha. Desde 2012, Luciano Elias Dura aluga o espaço para tocar os bailes. Porém, conta que há dificuldades em alugar um prédio tombado por conta de processos burocráticos. Luciano  relata que tenta realizar a troca de portas e do telhado, ações necessárias para a segurança dos frequentadores, mas a fiscalização exige que as peças sejam idênticas, caso contrário o clube corre o risco de ser multado.

Entre as mesas decoradas com toalhas vermelhas, os casais se movem graciosamente pela pista de dança de madeira. Para muitos, esses eventos representam mais do que simples bailes; são momentos de convívio social, em que a alegria de estar junto é celebrada e compartilhada em meio a risos, conversas e passos de dança. 

Elvira Ramos, de 88 anos, voltou a frequentar o clube, após ter ficado longe por um tempo. “Eu vim hoje porque estava com saudade dos músicos e dos conhecidos”. Quando chegou na porta do estabelecimento, foi recebida com muitos abraços de seus colegas de baile. Ela conta que frequenta o local para se divertir e praticar os bailados que aprendeu em um curso de dança, quando era mais jovem. “Eu fui rainha de carnaval por dois anos e foi muito especial para mim, porque tenho muitas amizades aqui no 13 de Maio” , relata a frequentadora.

Samuel Soares, de 58 anos, é outra presença constante nos eventos do 13, comparece todo final de semana e até mesmo às terças-feiras. Para ele, o clube não é apenas um local de entretenimento, é um refúgio vital. Soares compartilha sua história pessoal e revela que o clube desempenha um papel crucial no seu cotidiano. Relembra também momentos difíceis, um casamento mal sucedido e a perda da filha de 17 anos. "Eu venho para me distrair, porque se ficar em casa, eu fico pensando no que perdi e na minha vida. E, aí, para eu não entrar em depressão, venho para o clube”, conta.

Lucas Carneiro Silva trabalha como barman no estabelecimento há três anos. Além das amizades feitas nesse tempo, explica que nunca imaginou trabalhar no ramo, mas encontrou no 13 de Maio uma nova profissão. Lucas explica o movimento da casa: “Tem final de semana que chega a passar de 500 pessoas, quantidade muito boa para a gente”.

Com 144 anos de história, o 13 de Maio nunca caiu no esquecimento da população de Ponta Grossa. A exemplo de outros estabelecimentos, o local também passou por dificuldades durante a pandemia da Covid-19. Segundo os organizadores, agora os negócios voltaram ao normal. Os bailes continuam lotados, tanto nos feriados quanto nos finais de semana.

 O clube já foi casa de outros estilos de música. Leonice Ferreira declara que quando frequentava o clube o que mais se tocava era o rock. “Pessoas de cabelos compridos eram comuns no salão. Dançávamos em fileiras de cinco ou seis amigos. Fazíamos os passinhos dos flashbacks, íamos para se divertir e passar a noite. Era como se fosse uma balada dos anos 80”, comenta.

A primeira sede do Clube 13 de Maio, erguida em 1921, era uma construção de madeira. Em 1935, o clube inaugurou sua nova sede, de alvenaria, onde permanece até os dias atuais. O Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Ponta Grossa tombou o prédio em 2001.

 

Ficha Técnica

Produção: Diogo Laba e Radmila Baranoski

Edição e publicação: Gabriel Ribeiro

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Kossar Furtado

 

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