Verba direcionada não atende os grupos culturais afro-brasileiros da cidade
Há pouco mais de dois meses foi realizada, em Ponta Grossa, a 18ª Conferência Municipal de Cultura que, segundo o Portal Federativo, têm por objetivo promover discussões de âmbito político-cultural do município e também discutir o planejamento das atividades que irão acontecer no decorrer do ano. Porém, durante os três dias de Conferência, uma das questões levantadas foi a falta de representatividade afro-brasileira no cenário da cultura ponta-grossense, em decorrência, também, da falta de recursos.
Através de um levantamento dos grupos culturais presentes na cidade de Ponta Grossa, foram identificados cinco deles que procuram a visibilidade e ações que disseminem a cultura afro-brasileira na região. De acordo com os responsáveis, há uma dificuldade de se manter sem um auxílio do governo, como exemplo, a Sociedade Afro-Brasileira Cacique Pena Branca, que se mantém ativo desde 1995 e desenvolve atividades como o Clube de mães, aulas de capoeira e artesanato. Segundo a responsável pela sociedade, Mãe Tânia, são 14 anos sem nenhum tipo de auxílio federal, estadual ou municipal, apenas as ações independentes. Antes disso, ela relata que havia uma verba federal que era repassada apela Secretaria de Ação Social. “Sempre solicitamos auxílio governamental, para que possamos realizar atividades de cunho social e cultural voltadas à população carente. Estivemos na Câmara diversas vezes, porém, não temos retorno de apoio e de direcionamento de recursos”, relata Mãe Tânia.
Outro grupo que também dá visibilidade para a cultura afro através da música é o grupo UBAtuque, que existe há três anos e se mantém ativo de forma independente desde sua fundação. O instrutor de percussão do grupo Ricardo Correa, explica que o único apoio governamental que tiveram foram espaços para ensaios concedidos pela Fundação Cultural de Ponta Grossa. Porém, apoio financeiro não é realizado e alguns projetos não podem sair do papel. “Teve alguns componentes do grupo que construíram projetos para levar música para crianças e musicalização para os bairros, mas não foi viável devido à dificuldade de locomoção e à falta de apoio governamental para viabilizar esses projetos”, finaliza.
Além da lacuna de recurso, outra adversidade constatada na Conferência foi a baixa contribuição e participação das pessoas na conferência e nos espaços de decisão. Durante os três dias do evento poucas pessoas compareceram, conforme manifestou o crítico de Teatro, Hélcio Kovaleski. “Vejo que pouquíssimos participantes da comunidade artística estão presentes aqui na conferência, o que dificulta muito”, diz Hélcio.
Na 18ª Conferência Municipal de Cultura, houve a nomeação dos conselheiros de cultura e suplentes dos seguintes segmentos: música, literatura, artes-visuais, teatro, dança e circo, artes e manifestações populares, tradicionais e étnico-culturais, cine/foto/vídeo, este último com apenas o titular. Juntos, os conselheiros responderão pela cadeira até 2019. Amazonas Batista, nomeado representante titular do segmento artes e manifestações populares, tradicionais e étnico-culturais, frisa que as pessoas valorizam as raízes culturais da região, como a cultura alemã e holandesa, mas se esquecem da importância que a raíz negra tem para o município e questionou a visibilidade dada aos grupos negros da cidade de Ponta Grossa: “Eu já sofri muito preconceito e gostaria que houvessem mais oportunidade para que à cultura afro-brasileira ganhasse espaço e visibilidade nos projetos e nas ações culturais que acontecem na aqui em Ponta Grossa”, enfatiza o conselheiro.
Para o grupo Capoeira Muzenza, fundado em 1972, o sustento se dá pela cobrança de mensalidades das aulas de capoeira que são oferecidas, mas o apoio para desenvolvimento de ações em comunidades desprovidas foi dificultado pela ausência de suporte do governo, é o que diz o responsável pelo grupo em Ponta Grossa, professor Alceu Zagurski – Mestre Polaco: “já pedimos para a prefeitura para desenvolvermos trabalhos com crianças carentes aqui da cidade, mas não foi obtido resposta. Já fizemos projetos sociais em Palmeira, Carambeí, Reserva, Teixeira Soares e Fernandes Pinheiro, mas em Ponta Grossa nunca conseguimos”.
O investimento na cultura
De acordo com o Portal Federativo, o Governo Federal tem o propósito de coordenar e apoiar os estados e municípios na elaboração das ações locais que são desenvolvidas na área da cultura. Para atender a essa questão, o principal projeto do Ministério da Cultura, Fundo Nacional de Cultura (SNC), foi criado em 2012. A função do SNC é transferir os recursos da União com o intuíto de ampliar os projetos culturais dos estados e municípios através do Programa Nacional de apoio à Cultura (PRONAC), por exemplo, conhecido popularmente como Lei Rouanet.
O estado também precisa criar os órgãos de gestão e secretarias. Porém, no município de Ponta Grossa não há apoio financeiro no eixo cultural repassado elo Estado, o que dificulta o desenvolvimento de ações culturais na cidade, explica o diretor da Fundação Municipal de Cultura, Eduardo José Godoy.
Segundo ele, a verba utilizada pela cultura vem de iniciativas do próprio município e de alguns recursos federais que são repassados para a Fundação por meio da elaboração de projetos e conquistados em editais. O diretor afirma que é raro que a cidade consiga o apoio efetivo dos poderes estaduais e federais para a realização de projetos culturais. “Ponta Grossa conta, atualmente, com apenas um repasse garantido do governo federal, o qual é destinado à feira do livro que acontece anualmente aqui no município. Os demais projetos realizados em Ponta Grossa são todos custeados com arrecadação própria, por meio dos impostos tributários da cidade”, pontua.
Acesse o link e confira os destaques da 18º Conferência Municipal de Cultura da cidade de Ponta Grossa.