Retorno busca diminuir déficit de aproximadamente três milhões de reais acumulado pelo clube nos últimos dois anos 

 

O Operário Ferroviário Esporte Clube fará sua primeira partida com presença de torcida no estádio Germano Krüger desde a chegada da pandemia da covid-19. A autorização do Conselho Técnico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi dada na sexta-feira, 17, liberando a presença de público em espaços de prática esportiva. A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa já  havia autorizado o retorno das atividades desde 27 de agosto. O jogo contra a Ponte Preta pela Série B do Campeonato Brasileiro acontece na próxima quarta-feira, 22. 

A reunião do Conselho Técnico da CBF deliberou que cada cidade que sediar jogos ficará responsável por estabelecer medidas sanitárias para o retorno do público. No caso do Operário, o clube elaborou um protocolo de prevenção contra a contaminação da covid-19, aprovado pela Secretaria de Saúde de Ponta Grossa.

Para a infectologista Gabriela Margraf, as medidas preventivas estipuladas pelo clube são compatíveis com um baixo risco de infecção pela covid-19. “Acredito que num ambiente aberto e bem ventilado como um estádio, com as pessoas seguindo o protocolo, não vejo problema nenhum em retomar as torcidas, nesses ambientes abertos, o uso da máscara, a quantidade reduzida de pessoas, a apresentação de exames e o distanciamento são ótimas medidas para evitar a proliferação”, diz.

 

mudada

 

Arte: Rafael Piotto

Contudo, a infectologista critica a escolha da aferição de temperatura como medida obrigatória. “Ao longo da pandemia percebemos que a aferição de temperatura não é muito efetiva, porque ela deve ser feita na testa e não no pulso, como normalmente é feita. Isso acaba gerando temperaturas incompatíveis, e a gente também sabe que os pacientes começam a transmitir o vírus 48 horas antes dos sintomas aparecerem”, afirma. 

Para Gabriela, os riscos são grandes em ambientes fechados, diferente do estádio. “A gente precisa estar com uma porcentagem muito maior da população completamente vacinada para ser seguro realizar eventos em ambientes com baixa circulação de ar”, diz. 

Operário Ferroviário

 

O retorno da torcida ao estádio Germano Krüger estava sendo estudado antes da liberação do Conselho Técnico da CBF, explica o gestor do Grupo Operário Ferroviário Esporte Clube, Álvaro Goes. À frente da diretoria desde 2014, Goes relata que os times que disputam partidas contra o Operário na Série B, como Cruzeiro, Goiás, Vilanova e Confiança, tinham obtido autorização para venda de ingressos por meio do Supremo Tribunal Federal. 

Além disso, o clube vem enfrentando dificuldades financeiras desde o começo da pandemia, em especial com a diminuição de assinaturas nos planos para sócios torcedores. “No começo da pandemia nós tínhamos mais de 10 mil sócios-torcedores e hoje nós não temos nem 1.500, o que engloba 33% do nosso orçamento atual. Por causa dessa diminuição, estamos com um déficit de aproximadamente três milhões de reais”, afirma. 

Segundo Álvaro, o orçamento anual do Operário Ferroviário se divide igualmente entre patrocinadores, transmissões televisivas e sócios-torcedores. Com a diminuição das assinaturas ao longo da pandemia, o Operário deixou de arrecadar, em  média, 500 mil reais por mês, o que fez com que o clube cortasse gastos na compra de jogadores, contratação de comissão técnica e reformas no centro de treinamento. 

“Hoje eu diria que nosso impacto no final do ano, se nós atingirmos nossa meta de subirmos para a Série A e tivermos que pagar a premiação, vai girar em torno de quatro milhões, e nós não vamos corrigir esse valor em três meses, teremos que jogar esse déficit para nosso orçamento do ano que vem”. O gestor também afirma que não haverá reajuste no valor dos ingressos em comparação com os preços de antes da pandemia. 

Álvaro explica que o clube não pode garantir que não ocorra a contaminação pela covid-19, mas está trabalhando para evitar a proliferação do vírus no espaço. “É hipocrisia eu dizer que num ambiente aberto como um estádio não vai ter contaminação; pode ser que haja sim, ninguém tem essa certeza, então talvez não seja o momento mais certo de voltar, mas é o momento que o Operário mais precisa”, explica. 

A respeito do protocolo de medidas sanitárias elaborado pelo clube, Álvaro explica que a expectativa é de gradativamente aumentar a capacidade de público conforme a vacinação avance no município. “Com a vacinação em massa crescendo, quem sabe no final de outubro ou novembro poderemos aumentar a adesão de público? Mas só será permitido entrar no estádio aqueles que tiverem as duas doses da vacina, e quem tiver a primeira dose ou não tiver tomado, vai ter que apresentar exame negativo, pois precisamos garantir a segurança de todos”, afirma. 

Goes ainda destaca que o clube contará com a ajuda da Guarda Municipal e da Polícia Militar na organização da entrada e saída dos torcedores do estádio para evitar aglomerações.  

 

OPERÁRIO TORCIDA João Guilherme Castro

 

Foto: João Guilherme Castro / Arquivo Periódico

A torcida

Assim como o clube, a torcida operariana estava se preparando para retornar ao estádio, de acordo com o diretor geral da Torcida Organizada ‘Trem Fantasma’, Gabriel Depetris. “Assim que começaram a divulgar que poderia ocorrer a volta aos estádios e os outros times estavam com torcedores nos jogos, voltamos a chamar o grupo e se preparar para apoiar o Operário”. 

Gabriel relata que, durante a pandemia, o grupo buscou seguir em atividade, apoiando o time em dias de jogo ao lado de fora do estádio, mas muitos torcedores pararam de participar. “Tentamos evitar as aglomerações, mas o estar junto é a potência da torcida, então em comparação com antes da pandemia, reduzimos em muito nosso número de ações e perdemos muitos associados”, diz. 

Um dos argumentos para a volta ao estádio é relativo aos sócios-torcedores “Muitos de nós seguimos com a assinatura e não pisamos há quase dois anos dentro do estádio; pagamos por metade do ingresso sem poder comprar, então está saindo caro para o torcedor que quer apoiar o time, mas não pode ver ele de perto”, afirma. O diretor ainda reforça que, mesmo com a liberação, muitos torcedores devem manter-se acompanhando o time de dentro de casa.

O gerente de vendas Gerson Viechneiski é um dos torcedores que não pretende retornar ao estádio no momento atual. Torcedor do Operário desde que o time iniciou a campanha que levou aos títulos seguidos de série D e série C, Gerson relata que durante toda a pandemia seguiu acompanhando os jogos de dentro de casa, e acredita que ainda não é o melhor momento para voltar presencialmente. “Eu me sinto inseguro porque acho que as pessoas que vão ao estádio não se comportam da maneira que deveriam, a gente vê como está pela televisão: tem todas as precauções no estádio, a capacidade é inferior, o distanciamento é colocado, mas as pessoas não respeitam, eles vão pra perto do campo, querem ficar aglomerados, torcendo juntos, o torcedor não tem colaborado”, diz. 

Gerson pretende retornar ao estádio se perceber que a torcida em Ponta Grossa está cumprindo com o protocolo criado pelo clube.

 

Ficha Técnica

Repórter: Manuela Roque 

Edição e Publicação do Texto: Maria Eduarda Eurich e Yasmin Orlowski

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Adicionar comentário

Registre-se no site, para que seus comentários sejam publicados imediatamente. Sem o registro, seus comentários precisarão ser aprovados pela administração do Periódico.