O evento reforça a inclusão e a representatividade para pessoas com deficiência

Os Jogos Paralímpicos estão entre os eventos mais importantes do calendário esportivo mundial, não apenas pelo alto nível, mas também pelas oportunidades profissionais, de representatividade e de inclusão social. A 17ª edição das Paralimpíadas  conta com 4400 atletas de 168 delegações, que competem em 22 modalidades esportivas. A delegação brasileira é composta por 280 atletas, e inclui 255 paratletas, 19 atletas-guias, três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro no remo, que representam o país em 20 das 22 modalidades. 

Desde o início dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, em 28 de agosto, mais de 200 paratletas representam o Brasil na maior competição paradesportiva do mundo. Para a comunidade de atletas de Ponta Grossa, a visibilidade do evento influencia diretamente o incentivo das práticas esportivas e as aspirações dos jovens paratletas. Ponta Grossa conta com iniciativas de incentivo e práticas de paradesportos. Atualmente, são 14 modalidades esportivas disponibilizadas gratuitamente à comunidade pessoas com deficiência (PcD), incluindo modalidades paralímpicas como atletismo, judô, paranatação e tiro com arco. 

O paratleta de tiro com arco Douglas Leon conheceu a modalidade pela recomendação de um amigo e hoje atua profissionalmente, ele compete em nível estadual e prepara-se para competições nacionais. Para Leon, o esporte paralímpico no Paraná cresce gradualmente. Mesmo assim, considera importante mostrá-lo para a comunidade local, especialmente para as pessoas com deficiência. Na visão de Douglas, esse é inclusive um papel que as Paralimpíadas exercem. “É um evento que mostra para todas as pessoas que têm deficiência que elas são capazes de fazer qualquer esporte, só depende delas. Isso mostra que o mundo está aí, para várias pessoas com deficiência, mostrar do que elas são capazes”, afirma. 

Janine Aparecida da Cruz é professora de Educação Física na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Ponta Grossa e faz questão de reforçar a capacidade dos atletas para os seus alunos. Durante as Olimpíadas, em horário de aula, os alunos assistiram alguns dos jogos, e o planejamento é o mesmo para as Paralimpíadas. “Elas servem de incentivo para as crianças. As Paralimpíadas ainda mais, porque eles se identificam”, afirma. Além disso, a educadora física explica que o esporte é importante no desenvolvimento cognitivo, especialmente das crianças com deficiências. Ele ajuda no desenvolvimento da coordenação motora fina e no processo de aprendizagem da escrita, por exemplo. 

O preparo físico e mental dos paratletas também depende da atuação de profissionais qualificados, que trabalham com o desenvolvimento das habilidades de cada atleta. Os professores e instrutores buscam viabilizar oportunidades e incentivar a superação de preconceitos  relacionados às limitações dos atletas. Cláudio Roberto Ferreira dos Santos é professor de tiro com arco em Ponta Grossa e atua com paratletas há mais de 20 anos. Ele entende que a visibilidade promovida pelas Paralimpíadas deixa de ser somente esportiva e contribui com o aspecto social. “Eles se projetam., Ffaz parte da nossa atividade promover, independente da pessoa, uma perspectiva de que ela tenha um desenvolvimento além do que acha que é. Toda vez que a gente conversa sobre esporte com um paratleta, nós temos que mirar no máximo, que são as Paralimpíadas”, reflete. 

O papel da mídia na representação das conquistas paralímpicas é essencial para que os atletas locais fiquem mais próximos dos seus ídolos e referências nos esportes. O treinador Cláudio Roberto reforça que, ao assistirem atletas com as mesmas deficiências em posições de destaque, os paratletas passam a sonhar com  maiores conquistas pessoais. “Esse fator de aparecer na mídia, mostra para eles mais opções e possibilidades. Isso faz com que saibam que têm sim o lugar deles no sol, como todos nós”. No entanto, observa o atleta Douglas Leon, a cobertura midiática ainda é insuficiente e, em muitas situações, não reflete os méritos dos paratletas. “A Paraolimpíada traz muito mais medalhas do que a Olimpíada para o Brasil, e isso não é comentado, porque não tem mídia. Tem muitos paratletas que não são conhecidos como são os atletas normais”. 

Cópia de Cópia de Socialização e coordenação motora são habilidades melhoradas no Judô Foto Laura Urbano

Socialização e coordenação motora são habilidades melhoradas no Judô | Foto: Laura Urbano

 

Resiliência: a capacidade de adaptação

As modalidades paralímpicas contemplam três grupos de deficiência: física , visual e intelectual. Luciano Rodrigues Ferreira é professor de Educação Física, especializado em jJudô, e desenvolveu técnicas de adaptação do esporte para cadeirantes. “Os movimentos, que tradicionalmente usam as pernas, são adaptados para os braços e os troncos. Esta prática mostra que mesmo sem o movimento das pernas, estes atletas podem lutar no judô”. Ferreira também explica que o judô é importante para a disciplina e autonomia e, além disso, desafia os alunos e mostra que eles são capazes de superar desafios.

William Fabiano Miranda é um dos três atletas praticantes do judô adaptado para cadeirantes em Ponta Grossa. Ele conta que, por quase 27 anos de vida, teve limitações de mobilidade em mais da metade do corpo e, depois de ter contato com esse paradesporto, percebeu uma melhora significativa no controle corporal. “Antes eu não conseguia controlar uma parte do meu corpo, agora eu consigo até mesmo dar alguns passos sem me desequilibrar”. Em relação à visibilidade das Paraolimpíadas, Miranda reflete sobre a sua condição e o que é mostrado nos jogos paralímpicos. “É muito importante porque, geralmente, quem tem a minha deficiência não chega a essa idade [dos atletas] e nem mesmo a minha. Então é legal ver que algumas dessas pessoas conseguem competir”, desabafa. 

 

Ficha Técnica

Produção: Laura Urbano e Maria Vitória Carollo

Edição: Annelise dos Santos e Betania Ramos da Silva 

Publicação:  Annelise dos Santos e Betania Ramos da Silva 

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado 

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