Fotojornalismo é um tipo de fotografia que surge de uma pauta jornalística e tem como objetivo contextualizar uma notícia. A imagem deve conter algum tipo de ação e, na maioria dos casos, elemento humano ou algo que remeta de uma forma muito clara a pauta, pois necessita trazer informação para o público. Por exemplo, se a pauta é um protesto, alguma fotografia desse evento precisa conter vários ou um indivíduo e algum cartaz que identifique o porquê daquelas pessoas estarem se mobilizando.

O fotojornalismo como prática e profissão sofreu diversas mudanças nos últimos anos, mas só a partir dos anos 60 é que as mulheres começaram a ocupar este espaço e serem reconhecidas como fotojornalistas. Há uma masculinização da profissão, que valoriza certos atributos que vêm de estereótipos masculinos, como força física e objetividade. Geralmente, os homens são protagonistas quando se trata de tirar fotos. 

Em Ponta Grossa, nas redações, as pessoas contratadas para fotografar alguma pauta são apenas homens, como é possível observar na redação da assessoria da prefeitura, onde costuma-se contratar dois fotógrafos para acompanhar os e as repórteres. Atualmente, as mulheres são maioria nas empresas jornalísticas e em cursos de graduação em jornalismo. No fotojornalismo, ainda são minoria e mesmo que algumas não sejam jornalistas, elas marcam presença na área. Porém, as desigualdades continuam existindo. 

Em 2018, foi lançada a campanha online Deixa Ela Trabalhar, que surgiu de casos de mulheres que estavam sendo desrespeitadas e sofrendo assédio enquanto trabalhavam. Este tipo de campanha contribui com a profissão de fotojornalista e com a questão das mulheres, chamando atenção da sociedade e das empresas jornalísticas para o respeito às profissionais, além de oferecer mais espaços para elas atuarem e divulgarem os seus trabalhos e coberturas fotojornalísticas. E é eficaz para destacar o debate ético em relação à falta de espaço profissional para as mulheres. 

Pertinente a isso, os coletivos fotográficos formados apenas por mulheres surgem como uma forma de união e empoderamento feminino. As mulheres possuem uma visão diferenciada para traduzir fatos em imagens, por serem uma minoria na sociedade. Porém, isso não quer dizer que seja possível identificar qualitativa ou tecnicamente em uma fotografia se ela foi tirada por uma mulher ou não, pois elas possuem a competência necessária igual à dos homens, e é isto que todo mundo deveria perceber.

Como exemplo, podemos citar o Coletivo Mamana, um coletivo brasileiro de mulheres fotojornalistas que utiliza o Instagram para publicar os seus trabalhos. Atualmente, o perfil do grupo possui 4,3 mil seguidores. Por sua vez, o YVY Mulheres da Imagem possui quase 5 mil seguidores no Instagram, com objetivo de dar relevância a atuação e subjetividade de mulheres fotógrafas. A cada semana uma fotógrafa publica seu trabalho na conta.

Outro coletivo que se destaca na área do fotojornalismo é o Fotógrafas Latam, que busca divulgar fotógrafas latino americanas que possuem propostas visuais relacionadas aos direitos humanos, o perfil do Instagram possui mais de 25 mil seguidores. O projeto surgiu em 2018 com as fotógrafas colombianas Fernanda Patiño e Lorena Velasco. As fotógrafas que desejam participar podem publicar seus trabalhos utilizando as hashtags #fotografaslatam e #fotografas_latam.

Para os autores Kovach e Rosenstiel (2003), o jornalismo produzido por profissionais com perspectivas diferentes é melhor do que qualquer outro, sob um ponto de vista individual. Essa discussão é importante para pensar na pluralidade da profissão sob uma perspectiva de igualdade entre gêneros e humanização da profissão de fotojornalista. O jornalismo deve ser produzido com diferentes olhares. Com isso, pode se diferenciar da mídia tradicional que sempre pauta os mesmos assuntos e acaba excluindo as pessoas que estão à margem da sociedade, minorias. Aqui se faz necessário discutir sobre as oportunidades dadas às mulheres para contribuírem na profissão a partir das suas próprias perspectivas do fotojornalismo.

É importante destacar que a mídia possui um papel importante em relação ao fotojornalismo ao circular as imagens que são mais impactantes, principalmente na contemporaneidade, quando as fotografias são compartilhadas rapidamente e levantam debates nas redes sociais on-line.

Sobre isso, Christofoletti (2008) dá exemplos de imagens que repercutiram muito na mídia, como a fotografia da criança sudanesa espreitada pelo abutre. Ele aponta que essas imagens são lembradas pelas pessoas porque a mídia faz com que elas circulem sem fronteiras, causando grande impacto, “a mídia facilitou nosso acesso a esses fatos; o jornalismo permitiu que soubéssemos deles e que os guardássemos conosco” (Christofoletti, 2008, p.10).

Essa discussão das fotografias no jornalismo também pode ser feita a partir do que consta no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, documento que expõe direitos e deveres éticos aos jornalistas. Em seu artigo 12º, que trata de imagens, consta que é responsabilidade do jornalista rejeitar edição nas fotografias e se houver o profissional precisa informar o público, o fotojornalista deve ser sincero ao publicar suas fotos para a população. Já o artigo 2º se refere ao acesso à informação e liberdade de imprensa, neste sentido o exercício do fotojornalismo deve ocorrer de forma livre e sem censura.

A imprensa tradicional escolhe as fotografias que acredita serem relevantes para a sociedade. Em contrapartida, os coletivos utilizam espaços na internet para divulgar fotografias que são necessárias à população e que não aparecem na mídia. Assim, têm o objetivo de auxiliar na construção da opinião popular sobre direitos humanos e justiça social na contemporaneidade, quando as fotografias são compartilhadas rapidamente e levantam debates nas redes sociais on-line.

 

*Este texto, produzido na disciplina de Ética e Legislação em Jornalismo, expressa a opinião da autora e não se vincula à opinião do Portal Periódico.

 

Referências

FENAJ. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, 2007.
CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008.
KOVACH, Bill. ROSENTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo: o que os jornalistas devem saber e o público exigir. Geração Editorial, 2003.

 

Ficha técnica 

Texto: Veridiane Parize
Revisão: Professora Fernanda Cavassana
Supervisão: Professoras Angela Aguiar e Fernanda Cavassana

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