Quando pensamos no jornalismo, devemos lembrar que a profissão deve prezar sempre por uma produção justa e ética, não pender para questões mercadológicas e capitalistas. Sempre almejando pela informação da forma mais clara, precisa e diversa possível, ir contra esses ideais “é um ato contra a humanidade e a favor de uma ética essencialmente particularista” (Karam, 1997, p. 26). No momento em que analisamos a realidade do jornalismo na internet, há uma luta constante pela atenção do público, afinal, com a grande soma de materiais que está circulando na web, as pessoas acabam se dispersando em meio a tantas informações. E prender a atenção do leitor fica mais difícil.


Os meios de comunicação, com viés econômico, tendem a pender para um lado menos ético, apelando para chamadas e conteúdos mais sensacionalistas para conseguir um número maior de cliques. Como Nguyen (2016) coloca, o jornalismo não é mais aquilo que anteriormente era produzido apenas pelo profissional, mas tornou-se também aquilo que o público deseja. Todas as informações e interesses dos internautas são gravados e salvos, para que os profissionais assim possam ser capazes de estabelecer a tematização da agenda dos portais on-line, procurando como alternativa as chamadas sensacionalistas em redes sociais, o que acaba ferindo todos os ideais éticos da profissão.


O hábito de dar visibilidade à violência e títulos chamativos apenas para um maior engajamento é uma das consequências dessa cultura de caça cliques nas redes sociais digitais. Esse comportamento se instalou apenas para aumentar a visibilidade de portais de notícias, sem levar em conta as matérias ofertadas. Quando pensamos pelo viés ético, ter a informação é importante para que saibamos o que está acontecendo no mundo. No entanto, não devemos nos conformar com o mínimo de conteúdo que está sendo imposto. Por isso, precisamos discutir questões como direito, moral e ética dentro do jornalismo (Karam, 1997). Até porque a discussão mais complexa do tema pode estar presente no texto e não apenas na chamada, afinal o título não oferece sozinho o aprofundamento do assunto.


O portal noticioso ARede, de Ponta Grossa, é um veículo local que tem como linha editorial o jornalismo regional. A página no Facebook do portal tinha um total de 137.289 curtidas no período que foi analisado (25 de novembro de 2019). Ao observar a linha do tempo da página, percebemos que as postagens são, em sua maioria, chamadas de acidentes e violência, materiais que chamam mais atenção e têm maior engajamento. Bueno e Reino (2019) colocam que, no momento em que pensamos historicamente a trajetória do texto, dentro da imprensa, percebemos que o título é o elemento que surge como um dos primeiros recursos usados como estratégia para prender a atenção do leitor. E nas redes sociais, são os títulos que ganham mais destaque, porque são eles que chamam o público para consumir o conteúdo.


Para exemplificar os tipos de chamadas com um teor sensacionalista que busca apenas o clique, trago duas chamadas de violência da página do Facebook do portal ARede. No primeiro exemplo, “Mãe ataca com pedras homem que tentava estuprar sua filha”, o título chama a atenção pelo uso forte das palavras como “ataca”, apelando para o sentimento de revolta popular. O fato de a mãe ter feito “justiça com as próprias mãos” chama, por si só, atenção, o que contribui para um sensacionalismo e assim aumentando as interações. O envolvimento com a publicação também é relativamente alta, considerando o tempo que ela havia sido publicada, totaliza 116 curtidas, 19 comentários e 13 compartilhamentos, com destaque para o “amei” como segunda maior reação. Outro post colocado de forma sensacionalista é o “Mulher é encontrada morta em “lixão” com marcas de agressão”. A matéria é de um release de Curitiba, mas a chamada dá a entender que a notícia é de Ponta Grossa, o que faz com que o leitor local se interesse pelo material.



Na comparação, podemos ver uma posição não ética por parte da imprensa com relação à profissão, quando, na primeira chamada, reforça discursos e os trata de maneira banal, apenas buscando a atenção de quem interage com a página. A ocultação de informações na segunda chamada também é algo que fere a ética jornalística. Beneficiando-se da curiosidade do público, as chamadas são pensadas para atrair as pessoas, no entanto, para isso, são feitos cortes em frases que dão ênfases em trechos menos informativos e mais apelativos para chamar atenção. Por isso, o caça cliques se coloca na posição daquilo que não é verdadeiro, o veículo oferece ao leitor, em troca de cliques, aquilo que não existe, uma mentira. A ética acaba sendo alvejada e morta sem piedade, no entanto nesse caso o jornalismo esquece de fazer uma chamada para o assassinato dela.

 

*Este texto, produzido na disciplina de Ética e Legislação em Jornalismo, expressa a opinião da autora e não se vincula à opinião do Portal Periódico.

 

Referências

BUENO, Thais; REINO, Lucas. SEO no jornalismo: títulos testáveis e suas implicações. Estudos de Mídia e Jornalismo, v. 16, n. 2, 2019.
KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 1997.
NGUYEN, An. O Julgamento das Notícias na Cultura “Caça-clique”: o impacto das métricas sobre o jornalismo e sobre os jornalistas. Revista Parágrafo, v. 4, n. 2, p. 88-100, 2016.

 

Ficha Técnica

Texto: Arieta de Almeida
Revisão: Professora Fernanda Cavassana
Supervisão: Professoras Angela Aguiar e Fernanda Cavassana