Nos primeiros minutos de “Suspiria: a Dança do Medo”, remake de 2018 dirigido por Luca Guadagnino, aparece uma frase emoldurada na parede, "ninguém pode tomar o lugar de uma mãe”. Essa frase, além de alertar aos telespectadores sobre o destino da protagonista, também significa que o novo longa-metragem não quer “tomar o lugar” da obra clássica do mesmo nome, dirigida por Dario Argento. 

Mesmo sendo uma readaptação, Guadagnino cria uma obra independente e separada de Argento. Entre os poucos aspectos em comum com o antecessor está a própria premissa da história: Susie Bonnion, uma jovem dançarina estadunidense consegue uma vaga na prestigiada academia de dança Markos Tanz Company, na Berlim dos anos 70. Após Susie se aproximar de sua orientadora, Madame Blanc, começamos a perceber que algo sombrio ronda as dependências da academia de dança. Outro fator em comum, mas nem tanto, é que os dois filmes são divididos em atos, e cada um deles acrescenta algo na loucura e na psique da personagem principal.

Porém, a diferença entre as obras está literalmente no subentendido. O filme original traz uma narrativa que instiga o telespectador sobre se algo de errado está acontecendo na academia ou é fruto da imaginação da protagonista. Na readaptação, a narrativa é outra, deixando claro desde a chegada de Susie na Markos Tanz Company que algo de errado existe naquele lugar. 

 

Critica Suspiria 2019 Dakota Johnson

Suspiria de 2018 é um remake de um filme consagrado dos anos 70. Foto: Divulgação

A sétima arte é “revolucionada” pelos dois diretores. No clássico, as cores primárias e bem vivas são usadas para compor a fotografia da obra. Esta escolha de paleta não era comum nas produções dos anos 70, quando estreou. Na obra de 2018, as cores são totalmente opostas, com presença de tons pastéis e frios, trazendo aquele aspecto de filmes antigos já visto em outras produções de Guadagnino, como é o caso de “Me Chama pelo seu Nome”, de 2017. Então, temos um filme antigo com cara de novo e um filme novo com cara de antigo. 

Além do mais, há a relevância social  das duas obras. O filme dos anos 70 não tinha a preocupação social em trazer mulheres fortes para a telinha. Esse ponto foi corrigido por Guadagnino com um roteiro envolvendo o sagrado feminino (até porque são bruxas) e debates a respeito da sexualidade, como também as mulheres no mercado de trabalho.

Por isso, não é à toa que o elenco do remake é majoritariamente composto por mulheres. Um exemplo claro é a quantidade de papéis que a atriz Tilda Swinton interpreta no filme: Madame Blanc, Mãe Markos e também - é óbvio - um personagem masculino, Dr. Jozef Klemperer, que ela mesma interpretou debaixo de muita maquiagem. 

Como foi visto, Suspiria de 2018 é um remake de um filme consagrado dos anos 70. Para isso, o diretor precisou inovar, mas os fãs da obra cult se decepcionaram com Luca Guadagnino, pois queriam ver a bobinha da Susie Bonnion criada por Argento de volta às telas. Mesmo com avaliação baixa no Rotten Tomatoes pela fanbase da obra clássica, o filme de 2018 foi cirúrgico na renovação do roteiro, algo que difícil de ser visto no cinema, ainda mais quando é um remake do gênero terror/suspense.

Ficha Técnica
Aluno: Alex Dolgan
Publicação: Valéria Laroca
Supervisão de Produção: Marcos Zibordi
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

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