O noticiário policial conquista a atenção da grande maioria dos leitores, ouvintes e telespectadores de jornais em todo o mundo. Enquanto pautas sobre cultura, por exemplo, recebem poucos likes em redes sociais de veículos de imprensa, notícias envolvendo crimes brutais provocam grande curiosidade e revolta. Empresas que vivem de audiência, quantidade de acessos e venda de tiragens não ignoram o fato - e, às vezes, a atenção é tanta que leva a abordagens sensacionalistas.
O longo - porém instigante - filme de David Fincher chamado O Zodíaco, aborda de forma competente as investigações policiais e jornalísticas acerca dos assassinatos em série cometidos pelo serial killer que dá nome à trama, entre os anos 60 e 70, na Califórnia. A produção de 2007 analisa a obsessão, tanto por parte da polícia, quanto por parte da imprensa, em descobrir o autor dos crimes que chocaram a sociedade norte-americana.
As cartas misteriosas dizendo "Urgente para o editor" demonstram a vaidade do assassino em chamar a atenção dos jornais para a sua identidade e seus grandes feitos. Zodíaco pressiona a imprensa a publicar o material, e se as capas não fossem dedicadas a ele, o criminoso provocaria mais mortes. “Se ele matar 12 pessoas, a culpa não será nossa!”, diz um dos jornalistas da redação do San Francisco Chronicle, jornal que ambienta a trama. Era preciso não só “evitar” mais crimes, mas também garantir a atenção do público.
Um dos momentos emblemáticos do filme se dá na cena em que um telejornal conversa ao vivo, por telefone, com o assassino. É como se os apresentadores estivessem falando com uma grande personalidade, e em dado momento o criminoso simplesmente mata uma mulher, para que todos os telespectadores ouçam.
Foto: Divulgação O Zodíaco
A cena lembra a desastrosa cobertura feita pelo programa A Tarde é Sua, do canal Rede TV!, sobre o caso Eloá, jovem sequestrada e morta pelo ex-namorado Lindemberg Farias, em 2008. Em seu heroísmo (e fome de audiência), a apresentadora Sônia Abrão tenta negociar com Lindemberg, e acaba contribuindo para o desfecho trágico de um sequestro que durou mais de 100 horas. Conseguir pontos no IBOPE justifica quase todo tipo de absurdo.
Voltando ao filme, as investigações se prolongam por anos, sem conclusão. A agenda da mídia, acompanhando o andamento do caso na polícia e o interesse público, diminui o destaque anteriormente dado às ações do Zodíaco. Robert Graysmith, o cartunista do San Francisco Chronicle, decide empreender uma investigação autônoma. As críticas do jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr.) em relação à obsessão do desenhista revelam a intensidade do interesse de Graysmith em torno do caso.
A narrativa é longa, e talvez esse seja o único defeito. Entretanto, o que esperar de um filme que trata de investigações minuciosas? O incrível é que, nem sendo tão detalhista, o enredo consegue ser entediante.
Ficha Técnica
Aluno: Carolina Olegário
Publicação: Isadora Ricardo
Supervisão de produção: Marcos Zibordi
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Mauricio Liesen