Todo Dia a Mesma Noite, nome escolhido por Daniela Arbex para seu livro-reportagem, traz junto a cada linha a torturante memória para quem lê e quem sentiu o acontecimento, um incêndio que matou 242 pessoas na boate Kiss. A jornalista cumpre os preceitos do gênero livro-reportagem, apuração intensa que dá ao leitor um entendimento o mais completo possível sobre determinado assunto. 

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Capa do livro "Todo dia a mesma noite". Foto: Sara Dalzotto

A história é traduzida de relatos da noite de 27 de janeiro de 2013, na boate Kiss, em Santa Maria-RS, uma cidade universitária. Ao ler, pude me imaginar em diversas das situações citadas pela autora. Imagens que possivelmente continuarão em meus pensamentos, bem como os jovens em uma simples ida à balada no final de semana, coincidentes ocasiões que fizeram outros estarem lá, e ainda mais: cinco amigas se arrumando juntas para comemorar um aniversário, enquanto a mãe de uma delas reforçava o clichê “filha, te cuida”. A passagem é a seguinte: 

“Com fome de viver, ela se preocupava pouco com o futuro. Deixava a mãe, Ligiane, preocupar-se pelas duas, afinal tinha tempo de sobra pela frente, e isso lhe bastava.

 — Filha, te cuida — pedia Ligiane.

 — Mãe, sabe o que eu descobri? Que quando uma mãe diz ‘te cuida’ para a filha ela quer dizer ‘eu te amo’.

 — Então te cuida!”. 

Algumas horas depois, os corpos das meninas estavam no último ponto de procura dos familiares: o Centro Desportivo Municipal.

Nas palavras e frases usadas para descrever a busca por sobreviventes, telefones tocam simultaneamente e a palavra “mãe” nas telas acesas muitas vezes é visível; gritos por socorro de pessoas que seriam mais difíceis de salvar são contados. Detalhes dos relatos como esses fizeram toda a diferença para mim, que pude tentar compreender o caos, a tristeza e a agonia perpetuada, que exigiu grande força dos profissionais de salvamento, que precisavam ignorar as centenas de ligações perdidas nos telefones em meio a corpos caídos. 

Apesar da tristeza, o livro-reportagem é escrito de maneira sensível. A leitura é necessária, recomendada a quem gosta de ler histórias reais.

 

Ficha Técnica

Aluno: Sara Dalzotto

Publicação: Maria Helena Denck 

Supervisão de produção: Marcos Zibordi

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Mauricio Liesen