Sem nome, sem empatia e sem esperança. É difícil tentar imaginar que alguém consiga se identificar com uma personagem com essas características. Entretanto, é exatamente isso que ocorre com aqueles que se aventuram e decidem assistir Fleabag, série de 2016 idealizada por Phoebe Waller-Bridge. A personagem principal tem todas as características que ficam escondidas no subconsciente, aqueles traços de personalidade que todo mundo finge não possuir: ela é mal educada, calculista e não sente carinho nem pelas outras pessoas, nem por ela mesma. 

Fleabag conta a história de uma mulher não nomeada (no roteiro, ela é chamada pelo nome da série, que, no inglês, se refere a uma pessoa suja, sem moralidade), enquanto ela tenta passar pela vida ignorando a tudo e a todos. No momento em que a conhecemos, a personagem está passando por processos de luto e dificuldades financeiras, além de ter que encarar uma relação das mais complicadas com sua família. A narrativa é construída na análise das interações de Fleabag com as outras pessoas, além de suas interações com a câmera, que serve como um segundo relato da personalidade da personagem. 

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Imagem: Reprodução

A genialidade do roteiro de Phoebe Waller-Bridge está justamente na utilização de uma personagem que ao mesmo tempo é a pior pessoa do mundo e o retrato dos seres humanos que já passaram por uma situação complicada. Fleabag é fruto de todos os acontecimentos e todas as pessoas que já a afetaram. Ao invés de superar suas dificuldades e encontrar o amor em lugares incomuns, a personagem se tornou entorpecida, dormente. A obra de Phoebe Waller-Bridge é uma viagem às camadas mais profundas da mente humana, as partes que nem nós conhecemos sobre nós mesmos. 

Fleabag é a externalização do lado triste da humanidade e, mesmo assim, é difícil não gostar dela, imaginar o processo que leva uma pessoa a enxergar a vida de maneira tão negativa, olhar no espelho e enxergar uma pessoa genuinamente ruim. A questão é que a personagem não é ruim, e, ao longo das duas curtas temporadas, é possível entender que a atenção que não recebeu durante toda a sua vida faz com que ela faça coisas odiosas, já que, para Fleabag, qualquer reação, mesmo que ruim, significa que ela finalmente está sendo vista. Essa característica da personagem é demonstrada, também, pelas piadas constantes que ela faz com ela mesma e com as outras pessoas. Para alguns, essas piadas podem parecer de mal gosto e indelicadas, mas, de alguma maneira, na série elas funcionam, e trazem um tom engraçado e dramático ao mesmo tempo para a narrativa.  

O sucesso de Fleabag não quer dizer que todas as pessoas são ruins, e sim que reconhecem os processos que fazem com que suas dores fiquem escondidas. A personagem tem a coragem de falar o que não é dito, não é pensado e não é refletido. 

 

Ficha Técnica

Aluna: Maria Helena Denck

Publicação: Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Mauricio Liesen

Supervisão de publicação: Mauricio Liesen

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