Contrariando dados do IBGE, a Junta Comercial do Paraná e CAGED elencam que Ponta Grossa teve geração de empregos superior ao quadro nacional no período entre 2016 e 2019.

 

Comércio no Centro de Ponta grossa | Imagem: Leonardo Mordhost/Portal Comunitário

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que desde 2016 mais de 340 mil empresas já foram fechadas em todo País. No Paraná, a conta atinge 10 mil fechamentos. O desemprego atinge mais de 17,5 milhões de brasileiros, sendo 12,6 milhões de desempregados e 4,9 milhões, desalentados. Entre os trabalhadores sem carteira assinada o número ultrapassa os 11,7 milhões, e 24,2 milhões estão por conta própria. No Paraná ao menos 536 mil paranaenses estão à deriva no mercado de trabalho, segundo o IBGE.


Em contrapartida, dados da Junta Comercial do Paraná de dezembro de 2017 a junho de julho de 2019, e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Paraná, de julho de 2018 a julho de 2019, colocam Ponta Grossa em contraste com a situação nacional. Segundo a Junta, nenhuma empresa de Ponta Grossa, nos últimos três anos, entrou na lista de empreendimentos falidos ou em recuperação judicial. De acordo com o CAGED, de junho do ano de 2018 para o do ano de 2019, a cidade gerou um total de 21 510 admissões contra 21.127 demissões.


O saldo positivo de 386 (+0,45%) empregos com carteira assinada gerados coloca a cidade entre as 40 do Paraná que mantiveram o número de contratações maior que o de demissões. O município ficou a frente de cidades como Guarapuava (-311, -0,83%), Paranaguá (-827, -2,31%) e Umuarama (-235, -0,84%); mas atrás de outras como Curitiba (+ 15 632, +2,31%), Londrina (+884, +0,59%) e Maringá (+3 880, +2,68%). Os dados mostram um avanço em relação ao mês de julho de 2018, onde houve 2.704 contratações contra 3.036 demissões, o que totalizou um saldo negativo de -0,34%.

 

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Em nível estadual, os dados do CAGED colocam os serviços como o setor que mais gerou empregos no Paraná. Com 299.988 contratações versus 272.639 demissões, o saldo foi de 27.349 empregos gerados. O número contratações no setor de serviços é superior à de outros setores, como construção civil (8.042) e agropecuária (871).
Para o secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, José Vanilson Cordeiro, os indicadores não traduzem a realidade. “Temos várias empresas que desativaram ou pararam com a atividade, mas não legalmente. Por isso há um desencontro entre elas, as estatísticas de falência e sua contabilização em órgãos como a Junta Comercial”, revela Vanilson.


O sindicalista comenta que a elevada taxa de contratações e demissões na cidade são um reflexo dos períodos úteis do comércio local. “Nos últimos quatro meses do ano, a partir de setembro, ocorre um período forte de incremento nas contratações especialmente voltado para suprir a demanda do período natalino no comércio, o que explica a expectativa positiva para os próximos meses”.


Vanilson explica que o alto nível de contratações e demissões dos últimos 12 meses denunciam um mercado de trabalho que não oferece condições de planejamento a médio ou longo prazo para o trabalhador, assim como uma estagnação na economia. O secretário geral exemplifica que o piso salarial em média de R$ 1.300,00 para o comércio, sem benefícios, como plano de saúde e jornada de trabalho aos domingos e feriados, pode levar à desistências no trabalho.


Já para Rafael Scozynski, do Sindicato dos Varejistas de Ponta Grossa (SindiLojas), o estado atual significa uma esperança para um engate geral da economia local depois da desaceleração de 2015, quando segundo a Federação do Comércio do Estado do Paraná (Fecomércio) índice de desemprego atingiu um saldo -3,64% no primeiro semestre. “Ponta Grossa vem se destacando no cenário estadual devido ao saldo positivo da economia, mas ainda não é o suficiente. Se compararmos com os saldos positivos do início da década passada, vemos que hoje estamos com uma retração econômica muito forte. Isso é resultado dos índices de 2015, um dos piores anos que já tivemos. Só agora a economia está conseguindo voltar a respirar”, comenta Scozynsky.


O executivo do SindiLojas comenta que, em termos de emprego, a cidade mantém certa estabilidade devido ao modelo econômico que está inserido, onde os empregos terceirizados das indústrias criam uma dinâmica produtiva que abastece setores como o comércio e serviços. “A indústria, mesmo gerando menos empregos diretos, comparado ao comércio, junto com empregos terceirizados [serviços de segurança, limpeza, alimentação entre outros] cria uma massa salarial maior, que é aplicada na dinâmica monetária da cidade e fortalece todos os setores, como o comércio e os serviços”.


Contudo, Scozynsky também enxerga uma possibilidade de formação de pirâmide invertida devido à procura atual por qualificação. “Como a qualificação é um ponto muito discutido na atualidade, principalmente entre jovens recém saídos da universidade, é possível que daqui algum tempo cargos mais remunerados e de responsabilidade, não ofereçam tanta demanda para a oferta no mercado. Isso tende a favorecer funções mais técnicas e braçais".


Para o professor Osvaldo Callegari, do Departamento de Administração da UEPG, a cidade se beneficia de uma estrutura industrial referência na região, algo que faz da cidade um polo primário de distribuição de renda, e assim beneficia perifericamente o setor de serviços que tende manter a geração de empregos, mesmo que volátil. “A indústria ajunta um montante [de dinheiro] significativo, que desloca uma cadeia produtiva para a manufaturação de matéria prima. Isso mantém a oferta de empregos, que beneficiam o setor de serviços através da massa salarial deslocada urbanamente pela cadeia produtiva em torno da produção industrial. Toda essa estrutura impede que o desemprego generalizado atinja Ponta Grossa na mesma escala do âmbito nacional”, afirma o docente.


A Associação Comercial, Empresarial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG) foi procurada pela reportagem para comentar os dados, mas até o momento da publicação não tivemos retorno.

 

Ficha Técnica:

Produção: Yuri F. Marcinik
Supervisão: Professoras Angela Aguiar, Fernanda Cavassana e Hebe Gonçalves
Edição: Alexandre Douvan