Somadas, as quatro candidatas obtiveram 11 votos. Na média, cada candidata conquistou menos de três eleitores para sua candidatura.

Nas Eleições Municipais de 2020, as candidatas mulheres que receberam menos de cinco votos representam 66% das candidaturas à Câmara de Vereadores de Ponta Grossa. Sendo assim, ao todo, quatro mulheres obtiveram menos de cinco votos na cidade. Os homens que apresentaram esses números somam duas candidaturas.
As quatro candidatas com menor índice de votos gastaram com a campanha. Luana (PTC) que não obteve votos, gastou R$415,79; Maidi Schotig (Patriota), obteve dois votos e gastou R$238,79. Missionária Michelle (PTC) fez quatro votos e gastou R$1760,79; Cabeleireira Leila (nome na candidatura) que se chama Karina de Fátima D’Amico de Almeida (PROS), obteve cinco votos e gastou R$1777,49.
No balanço de gastos da campanha, Christopher Ferreira, candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT), obteve apenas um voto e não apresentou gastos com a campanha. Já João Borracha do Partido Trabalhista Cristão (PTC), obteve apenas um voto e gastou R$1715,79. A reportagem não considerou a candidatura de Cláudio da Farmácia (PTC) pois se encontra anulada sob judice. A tabela abaixo compara os gastos com a campanha ao número de votos obtidos pelas candidatas.

Infográfico: Vitor Almeida


A Cientista Política e pesquisadora em comunicação política online, Michele Goulart Massuchin afirma que é muito recorrente esses casos dos votos que “custam caro”, ou seja, muito dinheiro recebido e poucos votos retornados. “Não é um caso só de Ponta Grossa, o que nos leva a pensar que esse dinheiro pode estar sendo usado, em algumas vezes, até por outros, para outras candidaturas que não exatamente essas, porque, se for o caso, o que acontece é que os partidos estão usando essas mulheres apenas para que eles cumpram as cotas e não necessariamente que elas são colocadas ali para entrarem na disputa propriamente dito”, explica.
Em novembro deste ano, a reportagem do Periódico apurou que as mulheres em Ponta Grossa representavam 33% das candidaturas, a lei determina no mínimo 30%, ou seja, dos 466 candidatos, 155 são mulheres. Os dados do IBGE apontam maioria feminina no eleitorado ponta-grossense. Na cidade, as mulheres representam 53% dos eleitores; os homens, 47%. A diferença total é de 14.227 eleitores.

 

Infográfico: Vitor Almeida

Sobre as candidaturas

A reportagem entrou em contato com o PTC na sede nacional para entender o caso da Luana Franciele Cordeiro que recebeu 415,79 para a campanha e não obteve voto, ou seja, nem a própria candidata votou em si mesma. Até o fechamento da reportagem não obtivemos retorno. A candidata Maidi Schotig obteve dois votos nessas eleições, mas em sua conta pessoal do Facebook, (link do perfil disponibilizado publicamente no site do TSE), a candidata fez campanha através de sua foto de perfil para Laco Filho, também do Patriota. A candidata também foi contatada, mas não obtivemos retorno. A reportagem procurou as demais candidatas, mas não conseguiu retorno pela não disponibilização de contato no site do TSE. A reportagem entrou em contato com o Ministério Público do Paraná a fim de saber se há medidas de fiscalização dessas candidaturas. Até o fechamento da reportagem o MP não retornou nossas questões.

Sobre a cota partidária
A revista online Gênero e Número publicou uma reportagem em outubro desde ano mostrando que dos 33 partidos no Brasil, apenas Unidade Popular (UP), Partido Social Cristão (PSC) e NOVO apresentaram pelo menos 30% de candidatas mulheres à Câmara de Vereadores em todos os municípios que lançaram candidaturas. Massuchin explica que, apesar da cota partidária ser uma boa medida para o aumento da participação feminina, não é a solução de todos os problemas. “É uma construção que vai se dando ao longo do tempo também com a mudança da própria cultura política dos cidadãos, dos eleitores que vão entendendo ao longo do tempo a necessidade de pensar e de eleger candidatas mulheres”, diz.

Como explicar o baixo número de votos para candidatas mulheres?
“É possível explicar a partir de uma série de elementos, alguns considerados pela literatura como estruturais e outros como relacionados diretamente com o contexto eleitoral. Como se a corrida pelo voto e pela eleição já começasse desproporcional antes mesmo da divisão do financiamento e da divisão do tempo de TV”, explica Massuchin. Segundo a pesquisadora, a divisão sexual do trabalho, a dificuldade que as mulheres possuem de criarem suas redes, acarretada pela sobrecarga na divisão das tarefas domésticas, dificulta no seu tempo de campanha e no tempo de vida pública.

O outro lado da moeda
Ao contrário do que se apresentou nas eleições à Câmara de Vereadores de Ponta Grossa, a disputa da prefeitura da cidade teve, nas duas candidatas mulheres, a maior distribuição de votos. A professora Elizabeth Schmidt (PSD), eleita para o mandato 2021-2024, enfrentou no segundo turno a deputada estadual Mabel Canto (PSC), ou seja, para o cargo de prefeita, as urnas assinalaram a preferência do eleitorado pelas candidatas mulheres. “É preciso entender e olhar para essas mulheres e ver o que acontece nas suas trajetórias. Em muitos casos, são mulheres que vêm de uma família na qual já há um histórico político, então elas acabam agregando o capital político que vem de seus familiares. Às vezes do pai, do avô, isso apareceu em algumas candidaturas em 2020. Esses elementos acabam fazendo com que algumas poucas mulheres tenham não só grande quantidade de votos, mas também mais tempo de televisão”, diz Massuchin.
Uma reportagem do Periódico, de novembro deste ano, mostra como a trajetória na vida pública das candidatas traz a inserção política abordada pela pesquisadora. Mabel Canto é filha do ex-prefeito Jocelito Canto (eleito em 1996), já Elizabeth Schmidt é atual vice-prefeita de Ponta Grossa. “Mesmo seguindo a cota, sabemos que temos 30%, normalmente seguido pelos partidos. No entanto, apresentamos um número muito mais baixo do que isso, daquelas mulheres que realmente são eleitas. E aí, quando olhamos para essas eleitas, quase sempre, elas já possuem essa trajetória prévia vinda, às vezes, de algum familiar, ou dela mesmo por ter começado muito cedo na vida pública”, completa Massuchin.

Como aumentar a participação feminina na política?

De acordo com a Cientista Política, o aumento da participação tem a ver com a formação de lideranças. “Se os partidos ajudarem a formar lideranças, inserindo e oferecendo formações, isso vai, com certeza, ajudar nesse processo de aumento da participação, porque a gente vai ter mulheres mais aptas e mais ambientadas com as discussões sobre administração pública e sobre uma série de elementos que, por contada construção histórica, elas estiveram mais distantes do que os homens.”, completa.

Veja o VT da reportagem produzida por Vitor Almeida no YouTube

Ficha técnica:

Repórter: Vitor Almeida

Vídeo: Vitor Almeida

Edição: Vitor Almeida

Supervisão: Angela Aguiar, Cintia Xavier, Jeferson Bertolini e Vinicius Biazotti.