De acordo com a prefeitura, homens também podem sofrer abusos e não foram contemplados no projeto

 

No mês passado, o Executivo barrou o projeto de lei n° 242/2022, que relata sobre a obrigatoriedade da participação de profissionais da saúde do sexo feminino e assegura acompanhantes às pacientes mulheres em procedimentos médicos que necessitam de anestesia e exposição do corpo, sejam particulares ou pelo SUS. De acordo com a prefeita, essa prática fere o princípio da igualdade entre homens e mulheres, segundo a Constituição Federal e coloca sobre questionamento ético os profissionais da área da saúde. Ainda segundo o Executivo, a lei priorizaria as mulheres de forma unilateral, uma vez que os homens também realizam procedimentos que necessitam de anestesias e têm seus corpos expostos.

 

prefeita

Imagem: reprodução | PMPG

 

Elzira Rebonatto Barbosa, de 69 anos, realizou um procedimento em que precisou ter metade de seu corpo sedado. No centro cirúrgico havia duas enfermeiras, além dos médicos responsáveis pela operação. “Só me senti confortável, pois apesar de não sentir nada do meu corpo a partir da barriga, eu estava enxergando tudo o que acontecia, além da presença das enfermeiras. Mas, mesmo com elas, gostaria que tivesse algum familiar junto, que assim eu ficaria mais segura”, relata.

O mesmo apontamento foi feito por Lara Giordani, de 20 anos, que realizou um exame em que foi anestesiada no início do ano. Ela conta que, apesar do procedimento realizado não envolver contato do profissional com suas partes íntimas, o corpo estava exposto e ela sentiu medo em estar sozinha. “Apesar de ser um exame simples, o receio de ficar sozinha em uma sala com profissionais que eu não conheço, estando sedada, era absurdo. Faz muita falta a presença de alguém em que eu confie para que assegure durante o processo, para ver que está tudo bem”, desabafa. 

O projeto, de autoria dos vereadores Joce Canto (PSC), Jairton da Farmácia (União Brasil) e Leandro Bianco (Republicanos), foi elaborado após o caso envolvendo o anestesista Giovanni Quintella Bezerra, do Rio de Janeiro, que estuprou uma mulher durante o parto. Na Câmara, o mesmo foi aprovado em unanimidade. Segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH), até julho deste ano, houve mais de 145 mil protocolos de denúncia envolvendo violência contra a mulher e a maioria diz respeito às violações sexuais. O Paraná é o oitavo estado nessa lista. 

Em outros locais do país, como Mato Grosso, os deputados estaduais aprovaram uma lei semelhante. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura para detalhar os motivos do projeto não ser aprovado e a resposta foi o envio do parecer que explica o impedimento, sendo que tal documento já havia sido divulgado anteriormente e consultado pela reportagem.

 

Ficha técnica

Reportagem: Ana Luiza Bertelli Dimbarre

Edição e publicação: Ana Luiza Bertelli Dimbarre

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli e Marcelo Bronoski