A obra O avesso da pele discute racismo e é vencedora do Prêmio Jabuti de 2021
O livro de Jeferson Tenório conta a história de Pedro, personagem que teve o pai morto em uma abordagem policial | Foto: Joyce Clara
O livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, passa por ações de censura desde março por parte de instituições de ensino que argumentam haver trechos de cunho sexual na narrativa e, na avaliação delas, teor doutrinário. O conteúdo do livro foi considerado impróprio, principalmente a jovens estudantes do ensino médio. A obra foi recomendada pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), porém, o Núcleo Regional da Educação de Curitiba (PR) estabeleceu a retirada do título das escolas. Os temas centrais do livro trazem assuntos como identidade, racismo, violência policial, sexualização dos corpos negros e o luto, que levaram a obra a ser vencedora do Prêmio Jabuti em 2021.
Para o professor Mauro Marcolino, que atua na rede de ensino básico há 35 anos, o livro não possui conteúdo impróprio e as temáticas são importantes para levantar pautas como o racismo. O professor complementa que a censura faz com que a sociedade seja privada de novos conhecimentos. “Na escola, essa privação nega conhecimentos essenciais do funcionamento da sociedade”, explica.
Sobre o argumento usado pelos que apoiam a retirada do livro, alegando ser um conteúdo sexual exagerado para os jovens, e que não complementa a narrativa, ele afirma: “O livro não trata de pornografia, o tema é sobre racismo. A sexualidade jamais deveria ser punida. É a essência da natureza. Se não existisse, a vida não existiria. A moral construída é que determina o que é aceitável ou não. Nesse momento, as pessoas querem determinar o que podemos ou não ler”, observa.
Kethlyn Costa de Oliveira, acadêmica de Direito na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e leitora de O Avesso da Pele, reforça que o que se destaca na história é o tema do racismo. “Eu chorei do início ao fim do livro por ter uma história muito sensível e que envolve diversas problemáticas advindas do racismo e dos traumas que ele causa às pessoas pretas. É um livro que recomendo para todo mundo, ainda mais para pessoas brancas que, pelo pacto da branquitude, não percebem o quão violento é o racismo. O livro é uma denúncia à violência policial que mata os mesmos corpos, historicamente estigmatizados”.
Sobre o conteúdo sexual na obra, ela fala que ele está relacionado ao racismo na narrativa, e que esse trecho é impactante, por se tratar de um tema sensível. “A parte que está sendo censurada, se vermos, trata da objetificação e hipersexualização que existem nos corpos pretos. Também noto como impactante a morte, os empecilhos afetivos por questões de traumas e outras tantas questões essenciais para percebermos como o racismo é mordaz em inúmeros fatores”, afirma.
Atualização(14/04/2024)
Após um mês do recolhimento, livro retorna para a rede estadual de ensino no Paraná e em Goiás. Em nota a Secretaria de Educação dos dois estados afirmaram que o livro passou por uma análise pedagógica do conteúdo.
Ficha Técnica:
Produção: Joyce Clara
Edição e publicação: Mariana Real e Carolina Olegário
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Candida de Oliveira