A artista é convidada para o Setembro em Dança, um dos maiores eventos culturais do Paraná
Ana Botafogo tem 45 anos de carreira nos palcos dançando. Ela é uma das bailarinas convidadas para a palestra que acontece nesta terça-feira, 13, às 14h, no Cine Teatro Ópera. Ana é a primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A experiência dela no ramo foi motivo para ser jurada na mostra competitiva de balé clássico que acontece em Ponta Grossa. A participação dela faz parte da programação do Setembro em Dança, o maior evento de dança do estado do Paraná. O Periódico aproveitou a passagem de Ana Botafogo pela cidade e a entrevistou sobre o futuro da dança no País e ela deu dicas para quem deseja seguir a profissão.
Periódico: Durante a pandemia, a dança foi deixada de lado. Que dificuldades você encontra hoje para um bailarino que quer viver da dança no Brasil?
Ana Botafogo: Foram momentos muito difíceis na pandemia, sobretudo para o artista bailarino. O bailarino, apesar de ter se mantido em forma dentro de casa, precisa de espaço e do palco para poder se desenvolver enquanto artista e fazer toda a técnica que a dança exige, seja ela qual for. Os bailarinos estão se recuperando, muitos se perderam porque precisaram sobreviver, ter trabalhos, e deixaram de dançar por conta da sobrevivência. Hoje, os festivais estão recomeçando e isso é muito bom, não só para companhias e grupos profissionais, mas para os jovens bailarinos, que começam a entrar em mostras competitivas e concursos, e tem como estímulo se preparar, ensaiar e participar de mostras.
Atualmente, você trabalha mais com workshops e palestras. Qual considera ser sua missão nessa área?
Minha missão, agora longe dos palcos, é estimular os jovens bailarinos a ter essa paixão pela dança e continuar, porque eles são responsáveis pela continuação da dança dentro do cenário brasileiro. Tenho preparado alguns bailarinos para concursos e é isso que gosto de fazer. É muito importante que quem tem festivais, como o Setembro em Dança, possa continuar, porque são esses eventos que estimulam bailarinos a se aprimorarem. Estar no palco é diferente do que estar em sala de aula. As pessoas me perguntavam se quando eu parasse de dançar eu não ia fazer mais nada, mas ainda temos muito para fazer com a dança e pela dança.
Justamente pelo fato da dança ter sido deixada de lado durante a pandemia, você acredita que o que temos de fomento à cultura é suficiente?
Ainda não. Tivemos muitos problemas, ainda existe a Lei Rouanet, que é a maior que temos [para a cultura]. Acho que houve um atraso muito grande na organização e na análise dos projetos. Há um movimento grande dos artistas e produtores culturais para que possamos retomar e ter incentivos do próprio governo, porque isso ajuda a classe cultural em um todo. Sou uma pessoa positiva e esperançosa. Já temos que pensar em 2023, porque agora temos as eleições e tudo fica parado.
Foto: Joyce Clara do Lago Pereira dos Santos
Você acredita que a dança ainda é elitizada?
As pessoas pensam muito nisso, mas cada vez mais isso foi morrendo, sobretudo nos grandes centros, onde já vemos um movimento maior da dança e do balé, com um público maior. A missão do bailarino é popularizar a dança, acho que consegui bastante, mas não podemos esmorecer. Temos que levar a dança para o povo entender o que é e depois virem para o teatro. O público em geral precisa ter acesso à dança, música, teatro.
No eixo Rio-São Paulo existem mais projetos, apresentações e espetáculos de dança. Mesmo atuando mais nesses centros, qual importância você dá para a dança no interior?
Total importância. São eventos como esse, que trazem profissionais e professores da dança, que vão fazer essa interação com os alunos da região, porque traz também uma gama de estudantes que não são só daqui da cidade. Essa aglomeração em torno da dança é muito boa, faz toda diferença na vida do aluno bailarino.
Para finalizar, você teria alguma dica para bailarinos que estão começando a carreira?
Tenham foco e disciplina. A dança exige disciplina, porque precisamos trabalhar o físico, o corpo, a mente e a técnica, seja qual dança for. O bailarino é atleta e ator, além da técnica, ele precisa transmitir emoções e o principal, precisa emocionar o público.
Serviço:
O Setembro em dança é um festival realizado pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, juntamente com a Secretaria Municipal de Cultura. Com início em 2 de setembro, o evento ocorre até sábado, dia 17. São mais de 160 horas de programação que envolvem aulas, workshops, oficinas e mostras competitivas. A programação completa você encontra no link.
Ficha técnica:
Reportagem: Isadora Ricardo
Edição de áudio: Leriany Barbosa
Publicação: Maria Helena Denck
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Maurício Liesen