Coletiva com elenco de ‘Tudo’ revela expectativa sobre o futuro do teatro e destaca  a importância da cultura como forma de resistência 

 

A última segunda-feira foi marcante para a cultura de Ponta Grossa: foram abertas as cortinas do Festival Nacional de Teatro Amador (Fenata), com programação totalmente presencial, depois de duas edições realizadas de modo virtual. Em clima de esperança, o professor Nelson Silva Junior, representante da Pro-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e um dos organizadores do evento, abre a 50ª edição do evento para anunciar a coletiva sobre a peça de teatro “Tudo”, que traz como elenco Vladimir Brichta e Julia Lemmertz. 

A comédia, de autoria do dramaturgo argentino Rafael Spregelburd, é dirigida pelo curitibano Guilherme Weber. A peça também esteve em cartaz durante o 30° Festival de Teatro de Curitiba. Dividida em três atos, a história acompanha três situações: uma repartição pública, uma ceia de natal e uma noite chuvosa. No cenário com apenas algumas cadeiras pretas, os atores encenam por 90 minutos respostas (ou a busca delas) sobre a burocracia do Estado, a fetichização das artes e questões religiosas. Por trazer personagens que recheiam o cotidiano de muitas pessoas, não há como não se identificar com alguma passagem do espetáculo. 

 



Segundo o elenco, a peça não sofreu nenhuma adaptação de roteiro ao longo dos meses, porém acompanhou a mudança de clima do país. “A peça rigorosamente é a mesma, a alteração está na vida, no público, em como bate o que a gente fala, no momento em que a gente vive”, discorre Lemmertz. Quem for assistir ao espetáculo na busca de resposta aos temas encenados, terá uma surpresa. Os atores indicam que não existem respostas claras na peça, mas que outras dúvidas surgem durante as representações. “Eu acho que o bom teatro contribui, dizendo: ‘você está com uma dúvida? Vou te dar uma porção delas’ Porque é através das dúvidas que a gente avança”, comenta Vladimir Brichta.

Para além da coletiva sobre a peça, os atores se posicionaram sobre o desenvolvimento da cultura e a volta do festival de modo presencial. “O fato do festival existir há 50 anos já significa alguma coisa. A arte, o teatro é resistência, é insistência”, comenta Julia Lemmertz, que deu vida à Neli, uma típica funcionária de repartição pública que não tem exatamente uma função definida. No mesmo tema, o ator Claudio Mendes abordou a apresentação em um festival que resistiu à censura da ditadura militar e ainda resiste, o mais longo do país. “O público de festival não existe outro igual. É sempre uma expectativa muito grande e sempre a melhor expectativa”, comenta Mendes.

Foto Iolanda Lima Lente Quente

Foto: Iolanda Lima / Lente Quente

O elenco também comentou sobre o clima político do país e a importância das iniciativas culturais do poder público para fora dos grandes centros. Em pauta, após serem questionados a respeito de trazer o espetáculo para uma cidade do interior, houve comentários a respeito da esperança de novas políticas de incentivo no futuro, a conexão do Festival com a Universidade e um balanço sobre as políticas públicas culturais antes e pós-pandemia. “Sempre foi difícil, mesmo nos melhores momentos. A cultura nunca foi reconhecida com seu devido valor e importância”, afirmou Cláudio Mendes. A respeito do clima do país e de Ponta Grossa, Vladimir Brichta divaga sobre o conservadorismo e a arte. “A gente tem um lugar de diálogo mesmo com o conservadorismo. A arte precisa fazer essa ponte. Mas, quando há censura e outros atos antidemocráticos, é apavorante. Uma distopia completa”.

A programação do evento será totalmente presencial. Além dos teatros da cidade, os espetáculos também serão apresentados em praças e espaços alternativos. A lista também contempla o público infantil e outros estilos. A programação completa está disponível no site oficial do festival. 

 

Ficha Técnica:

Reportagem: Tamires Limurci

Edição e publicação: Catharina Iavorski

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Marcelo Engel Bronosky e Ricardo Tesseroli