Drag-queens e DJs conquistam público e lotam casas noturnas da cidade
Ser artista e conseguir sucesso no Brasil pode ser difícil, e quando o/a artista é LGBTQIA+ (lésbicas, gays, transexuais, intersexuais, queers…) as dificuldades são ainda maiores. Mesmo com todas as pedras no caminho, a cantora Liniker levou para casa o Grammy latino na categoria de melhor Álbum de Música Popular Brasileira com Índigo Borboleta Anil. Distante de Las Vegas e das grandes cidades, em Ponta Grossa, artistas LGBT também conquistam cada vez mais espaço no cenário cultural local.
William Cabral Nunes dá vida à Lilo, drag-queen que, além das roupas e acessórios extravagantes, marca presença como cantora, compositora e DJ na cidade. “Desde muito novo eu tive referências artísticas muito bacanas, tanto no cenário nacional quanto no internacional. Eu me via cantando e dançando desde muito novo”, conta William. Música brasileira, referências ao universo pop e funk, composições autorais e performances artísticas integram o repertório da artista. Quando seu nome é anunciado para apresentações, Lilo arrebanha público fiel e costuma lotar as casas noturnas.
Lilo e Matheus Camargo no 34º Festival Universitário da Canção (FUC), realizado em 2022. Foto: Reprodução Cultura Plural
Para William, artistas LGBT ainda são muito marginalizados no Brasil. Ponta Grossa segue na mesma linha. “A gente vive numa cidade muito conservadora e num país que não é acostumado a consumir cultura. Quando você faz esse recorte para um artista LGBT, você fica mais à margem ainda”, afirma.
No mesmo barco está Vinicius Schultz, ou Vinnni, que é DJ e recentemente começou a carreira de cantor. Para ele, a arte pode ser usada como meio para propagar a luta contra o preconceito e a violência. O artista lançou seu primeiro single no mês passado, Apocalypse Vibes, um misto que inclui música popular com eletrônica e indie. Mesmo com o destaque no cenário cultural, ele não deixa de pontuar a violência que os sujeitos LGBT’s são submetidos. “Isso [violência] pode ser feito de muitas maneiras, das mais explícitas e políticas, falando abertamente sobre; até maneiras mais sutis. Por exemplo, até uma música sobre paixão ou sobre a existência de alguém LGBT já é um modo de espalhar uma boa mensagem sobre”, afirma Schultz.
Apesar de otimista, Vinicius conta que ainda assim costuma frequentar e se apresentar em locais direcionados ao público LGBT para evitar desconforto. “Eu prefiro focar em lugares que já sejam explicitamente voltados ao público LGBT do que correr risco de estar sob o critério de alguém'', afirma. A preocupação com a violência faz sentido, pois de acordo com o relatório produzido pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) referente ao ano de 2021, o Brasil lidera a lista de países que mais matam LGBT's no mundo. Segundo o levantamento, houve uma morte a cada 29 horas. No total foram 276 homicídios e 24 suicídios no ano passado. O GGB ainda afirma que os homossexuais masculinos são há quatro décadas os mais atingidos pela violência.
Ficha técnica:
Reportagem: Levi de Brito
Edição e publicação: Ana Barbato
Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Ricardo Tesseroli