Artistas ponta-grossenses familiarizados com desenho e pintura destacam autonomia na tatuagem como uma maneira de sustento
A tatuagem é uma cultura que se populariza cada vez mais no Brasil. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro-Empresas (SEBRAE), existem mais de 22 mil estúdios de tatuagem no país. Essa manifestação artística é uma forma de eternizar algo na pele. Muitas delas têm um significado especial, já outras, nem tanto. O tatuador é o artista responsável por transformar um desenho que está no papel em uma arte fixada na pele humana.
Uma flash tattoo é uma arte única, apenas uma pessoa pode comprar e tatuar | Foto: Loren Leuch
Em Ponta Grossa, a indústria da tatuagem também cresce e se torna fonte de renda para pessoas que atuam no ramo. O motivo? Autonomia. Daniella Cristina Rota é tatuadora há 7 anos, ela ingressou na profissão pois trabalhava em um estúdio como body-piercing. Assim, viu na tatuagem uma forma de trabalhar como autônoma. “Eu queria trabalhar para mim, queria uma profissão que, onde eu fosse eu pudesse trabalhar. Eu achava que era algo distante, mas, talvez, por estar dentro do estúdio, facilitou o aprendizado”, explica.
Thiago Stalhschmidt Gomes, nome artístico Grilo, conta que, desde que se conhece por gente, sempre gostou de desenhar. Pela familiaridade com a arte e por ela ser uma fonte de renda, ele decidiu então investir no ramo da tatuagem. Thiago conta que buscou aprender em casa, com tutoriais e treinando em pele artificial. Depois de adquirir esse conhecimento, ele migrou para tatuar em estúdios colaborativos. Hoje ele tatua no estúdio Casa Víbora e investe seu tempo em aprimorar seus conhecimentos em desenho para melhorar suas criações. “Desde moleque, eu sempre andava com a caneta na mão e a tatuagem foi um passo lógico para eu conseguir ganhar dinheiro. Eu ainda moro com meus pais, então não tenho aquela necessidade de ter muito dinheiro. Por isso, ainda me dou ao luxo de só tatuar”. O tatuador acrescenta que largou seu emprego para focar no desenho e na tatuagem e espera que possa evoluir ainda mais na profissão.
Outro caso é o da Thais Maria Crovador. Ela começou a tatuar há menos de um ano. Muito familiarizada com a arte, Thais cresceu pintando quadros e desenhando no papel. Após se formar em psicologia, acabou se afastando da arte. Depois de atuar na linha de frente da pandemia da Covid-19, como psicóloga hospitalar, percebeu que a profissão não estava fazendo bem a ela, por isso, decidiu retomar e investir no seu lado artístico. “Foi quando um amigo meu pediu para que eu criasse uma arte para que ele pudesse fazer uma tatuagem. E ao apresentar a proposta ao tatuador, esse profissional sugeriu que eu poderia investir nesse ramo”, explica. Desde então, Thais vem se profissionalizando na área, fazendo cursos e investindo na profissão. Hoje ela ainda concilia as duas profissões e espera que futuramente possa apenas tatuar.
Processo criativo
A tatuagem é uma manifestação artística que está há muito tempo presente na sociedade. Segundo o autor Toni Marques, os primeiros indícios da tatuagem foram encontrados na era Paleolítica Superior, há cerca de 10.000 anos a.C. Com o tempo, a prática e os significados da tatuagem foram mudando, na primeira década do século XIX era moda entre a marinha Americana. No século XX, era símbolo de desordeiros e gangsters. Hoje a tatuagem ganha espaço estético e artístico, de forma que os tatuadores podem escolher seus estilos e criar os próprios desenhos para vender.
Cada artista tem sua particularidade no quesito processo de criação e estilo. Daniella Cristina segue um estilo de fine line, ou seja, tatuagens mais delicadas e normalmente femininas. Ela explica que normalmente o cliente leva uma referência da tatuagem, e ela tenta criar um desenho por cima, mudando alguns traços sem tirar a essência. Sobre artes próprias, Daniella acrescenta: “tudo que eu desenho, eu já penso em tatuar na pele de alguém. As vezes crio desenhos mais elaborados, mas o pessoal tem um pouco de medo de tatuar, por isso muitas vezes acabo desenhando tatuagens mais comerciais”.
Na busca por um estilo próprio, Thiago opta por criar seus desenhos e focar uma parte do seu trabalho nas “flash tattoos”, que são tatuagens menores e 100% autorais. Seu processo criativo se inicia pensando nas proporções da tatuagem em relação ao corpo humano. “Quando eu vou fazer um desenho para tatuagem eu penso em que parte do corpo ela pode estar e, também, no tamanho, para ficar proporcional”, explica. Acrescenta que para as tatuagens flash, ele trabalha com coleções, cada coleção tem um tema e são 8 desenhos que seguem esse padrão. “Geralmente a ideia já está na minha cabeça antes de eu desenhar. Eu gosto bastante de olhar para alguma coisa e distorcer a realidade. Por exemplo, a última coleção que eu fiz foi de criaturas macabras”, diz. Em relação a ideias vindas dos clientes, Thiago expõe que sente um bloqueio criativo e a forma de resolver isso é sempre estar estudando novas formas de desenhos.
Ao pensar na tatuagem como uma obra de arte, Thais Maria Crovador tenta deixar sua marca autoral, mesmo que a ideia seja do cliente. “Eu procuro, respeitando o desejo do cliente, trazer um pouquinho de mim nessa obra e criar algo único e personalizado”. Thais fala ainda que pede as referências para o cliente e o lugar que deseja tatuar. “Juntando a ideia da pessoa com o meu conhecimento, procuro chegar em um resultado que agrade e que comunique aquilo que o cliente quer dizer”, afirma.
Luana Machinski é tatuadora há 7 anos. Ela explica que a tatuagem é uma forma de expressão e personalidade pessoal. Por isso, além de garantir para o cliente que a tatuagem siga os desejos pessoais, ela tenta deixar um pouquinho do seu estilo na arte. “Primeiro eu peço para o cliente me passar todas as informações, de tamanho, local e referências. Depois monto a arte junto com o cliente, para que mantenha o significado desejado, mas sem fugir do meu estilo”.
O lado artístico da tatuagem está se mostrando mais presente. Os tatuadores estão cada vez mais tentando fugir das tatuagens comerciais para deixar sua marca na pele e na vida das pessoas. Como comenta Thiago “a tatuagem não é qualquer arte que você desenha no papel e joga fora, ela fica pra sempre. Tatuagem é mudança, muita gente vem tatuar algo com um significado especial para se sentir bem consigo mesmo”.
Ficha Técnica
Produção: Loren Leuch
Edição e publicação: Mariana Borba, Luisa Camargo, Mariana Real
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Furtado