DCE da UEPG realiza primeira Parada Cultural LGBTQ+ dos Campos Gerais com atrações artísticas e debate sobre direito e diversidade de gênero
Marcha da visibilidade lésbica em Ponta Grossa Foto Arquivo Lente Quente/Débora Chacarski
Treze atrações culturais integram a programação da Primeira Parada Cultural LGBTQ+ dos Campos Gerais que será realizada no próximo domingo (25). Segundo os organizadores do evento, que é realizado pela gestão Língua Solta – DCE UEPG, a dificuldade de obter recursos financeiros, o que inclui a falta de respaldo por parte da prefeitura, está entre os principais obstáculos enfrentados.
A expectativa dos organizadores é que cerca de mil pessoas participem da Parada. E, para atender à estrutura necessária, o primeiro apoio buscado pelo DCE foi institucional, através da Fundação Municipal de Cultura. O objetivo era dar mais legitimidade ao evento e também fomentar esse tipo de espaço cultural no município.
De acordo uma das organizadoras da Parada e integrante da gestão Língua Solta, Clara do Prado, houve um esforço em tentar pautar a data para inseri-la no calendário de eventos do município, como ocorre em Londrina e em Curitiba. Prado acredita que isso facilita a participação da entidade realizadora em licitações públicas de espaços e de equipamentos.
Eduardo Godoy, diretor da Fundação Municipal de Cultura, que é uma das apoiadoras da Parada, afirma que um evento do porte da Parada é muito importante, tanto para o fomento da cultura como também da economia. “O DCE procurou a gente para solicitar apoio para a Parada Cultural LGBTQ+ e, de início, já nos interessamos”, descreve.
O diretor destaca que os direitos culturais estão garantidos no Plano Municipal de Cultura. O apoio da Fundação, ressalta, se dá “mais pela proposta do evento discutir temas e trazer esse debate [sobre LGBTQ+] com o enfoque em cultura”.
No entanto, Godoy ressalta que, por questões legais, a Fundação não pode dar apoio financeiro sem o trâmite de editais públicos abertos ou licitações. O diretor explica que, dessa forma, o apoio se restringe ao apoio institucional. Isso significa a presença da marca nos materiais de divulgação do evento, bem como sugestões de atrações culturais.
Outro entrave encontrado pelo DCE foi que a Parada começou a ser organizada antes das eleições. Dessa forma, explica Clara do Prado, muitas instituições partidárias de esquerda, que apoiam campanhas a favor da democracia e do antifascismo, não tinham como apoiar financeira e institucionalmente o evento.
O DCE UEPG conseguiu arrecadar cerca de R$ 5 mil dos R$ 10.150 previstos no orçamento. Eventos menores como festas, saraus, atividades culturais denominadas de “Pré-Paradas” também são formas de arrecadação de verba para a Parada. Os organizadores também contaram com a contribuição financeira de lojistas, amigos e apoiadores dos direitos LGBTQ+.
Até o momento de fechamento da reportagem, os organizadores haviam utilizado o recurso arrecadado para o pagamento da equipe de limpeza, saúde, segurança e os banheiros químicos. Clara reitera que, como não houve a possibilidade de concorrer ao edital da prefeitura para eventos em espaços públicos, os serviços foram contratados de forma privada.
De acordo com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura, é possível solicitar o apoio da Guarda Municipal e da Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTT) para eventos públicos. Entretanto, o DCE não havia realizado a solicitação, informação que foi confirmada pela organização do evento.
O integrante da gestão Língua Solta – DCE UEPG e um dos organizadores da Parada, Erick Teixeira, afirma que a tentativa de executar uma parada LGBTQ+ acontece desde 2013. Entretanto, o estudante acredita que, por desacordos ideológicos entre os organizadores, somente agora o evento esteja sendo realizado. “A gente vê que existe uma demanda da população. Recebemos muito apoio das pessoas, não só da comunidade LGBTQ+, desde que começamos a organizar o evento ”, ressalva.
A iniciativa da Parada ter partido do DCE e não de entidades voltadas à comunidade LGBTQ+ de Ponta Grossa, segundo Clara do Prado, tem um motivo especial. A organizadora do evento destaca o fato de as gestões recentes serem compostas, em sua maior parte, por LGBTQs. Associado ao histórico de luta e de resistência do movimento estudantil, isso acaba por promover o debate sobre questões de gênero e sexualidade.“Quando a gente fala de LGBTQ+ temos que ter consciência de que ainda muitas letras não aparecem [na sigla]. É importante a gente se educar sobre isso também e entender que, mesmo com a Parada, não conseguimos chegar e representar todas as letras. Mas já é um começo”, complementa.
Brasil se destaca por violência contra LGBTQ+
O Brasil é o país que mais mata LGBTQ+ no mundo. A cada 19 horas, um é assassinado por crimes de ódio - aqueles que são motivados pelo preconceito e geralmente de forma brutal. O dado é do Grupo Gay da Bahia que, há 38 anos, realiza o levantamento. Segundo o estudo, foram registrados cerca de 445 homicídios em 2017, o ano mais violento - pelo número de ocorrências - desde que a pesquisa foi iniciada.
A organização da Parada visa a aumentar o debate em torno dos direitos da comunidade LGBTQ+. Para Clara do Prado, isso se torna fundamental face ao crescimento da extrema-direita no atual cenário político brasileiro, em que se destacam políticos com perfis conservadores. “Quando a gente fala de minorias, estamos falando do valor político que essa vida representa. Estamos falando de pessoas que vão perder direitos a partir desse projeto de governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro”, destaca.
Embora luta contra a violência que acomete a população LGBTQ+ seja uma das pautas de atual gestão do DCE, o evento é visto como um momento de comemoração pela conquista. “Estamos cansados de ir pra rua com pautas tristes. A Parada Cultural é um dia para celebrarmos a diversidade e difundirmos o trabalho que a comunidade LGBTQ+ realiza”, afirma Prado. “Nós resistimos e ocupamos Ponta Grossa”, conclui.
Uma das conquistas da Parada é o apoio jurídico para mudança de nome social de pessoas transexuais. O projeto de extensão da UEPG Núcleo Maria da Penha (Numape), com o apoio da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil de Ponta Grossa, pretende realizar, durante o evento, atendimento jurídico gratuito. O objetivo é sanar possíveis dúvidas acerca dos trâmites para o acesso a esse direito.
Vale lembrar que, desde 2017, Ponta Grossa comemora o Dia Municipal de Combate ao Preconceito. A data passou a integrar o calendário oficial do município após declarações homofóbicas do vereador e pastor Ezequiel Bueno (PRB). Isso se deu no ano passado quando o político afirmou estar decepcionado com a vinda da cantora Pabllo Vittar para apresentação na Munchen Fest.
Na ocasião, o vereador pastor ameaçou prender a drag queen após ter caído em uma fake news que circulou nas redes sociais, afirmando que a artista iria às escolas falar sobre “ideologia de gênero” para crianças. Após o incidente, a antiga gestão do DCE da UEPG - Desatando Nós - conseguiu que o vereador Rudolf 'Polaco' Christensen (PPS) apresentasse o Projeto de Lei 344/2017 que, aprovado ao final de novembro de 2017, instituiu a data comemorativa.
A concentração para a Primeira Parada Cultural LGBTQ+ terá início a partir das 13 horas, na Concha Acústica da Praça Barão do Rio Branco. Às 15 horas, terá início a marcha para a Praça Barão de Guaraúna, conhecida como Praça dos Polacos. A caminhada seguirá até a Avenida Vicente Machado. O final da programação cultural está previsto para às 20 horas, na Estação Saudade, no Parque ambiental. Entre as atrações, estão shows, apresentações de drag queens, espetáculo teatral e três exposições de ilustrações e fotografias. Haverá shows da banda A Vera e da cantora Mayara Ferraz.
O apoio individual dos cidadãos da cidade vem através de pequenas ações como compra da bandeira LGBTQ+, rifas e adesivos. Para contribuir, basta entrar em contato com os organizadores através das redes sociais: no Instagram, @paradalgbtpg, e no Facebook no site do DCE.
A sigla LGBTQ+ significa Lésbicas, Gays, Transexuais e Queers. Há ainda a grafica LGBTTQ+, que acrescentaria Travesti ao termo.