Lider religioso é recebido após 20 anos da construção da mesquita em Ponta Grossa

“Eles pensam muito mal sobre o Islamismo, fiquei surpreso”, relata Ali Rahimi, xeique religioso da Mesquita Imam Ali, em Ponta Grossa. O iraniano mora há quase um ano na cidade e percebe o pouco que se sabe sobre o Islamismo. Rahimi veio para assumir a mesquita que, só após cerca de 20 anos de construção, recebe um líder religioso.

O xeique menciona a surpresa das pessoas quando, em uma reunião na cidade, ele citou a expressão “A paz de Deus esteja com Ele”, se referindo a Jesus. “Quem não acredita em Jesus, não é muçulmano. O Alcorão Sagrado tem um capítulo chamado Maria, que fala sobre a história do nascimento do profeta Jesus”, explica.

Ali Rahimi, xeique religioso da Mesquita Imam Ali em Ponta Grossa. | Foto: Vítor Almeida

O xeique ainda ressalta a importância da semelhança entre Cristianismo e Islamismo. “Temos várias coisas iguais [ao Cristianismo] e isso é muito importante. O seu Deus e o meu Deus são o mesmo. Para o Cristianismo, Judaísmo e Islã, o Deus é o mesmo. Quem não acredita nos profetas antigos, como o Adão, Abraão, Moisés, Noé, Jesus, não é muçulmano. Tudo isso está escrito no Alcorão Sagrado”, completa.

Embora afirme ser preciso ensinar o Islamismo para os brasileiros, o xeique ressalta: “Não vim aqui para converter. Vim para explicar sobre o Islã”. Rahimi elogia o respeito da população local quanto à cultura Islâmica. “Minha filha vai para escola com véu e todos a respeitam. Tanto aqui em Ponta Grossa quanto em outras cidades que fui, todos sempre respeitaram”, afirma. Mas fica surpreso com indagações como “se a mulher muçulmana toma banho com roupas”. “É engraçado”, diz.

O xeique avalia a falta de conhecimento sobre o Islã com a carência de conteúdo na língua portuguesa. Rahimi consegue se comunicar bem em português, por isso sente falta de veículos de comunicação que falam do Islã no Brasil.

Segundo o xeique, Ponta Grossa tem cerca de 120 muçulmanos, entre Xiitas e Sunitas. A maior parte dos muçulmanos na cidade é de fora do país.

Na projeção mundial, de acordo com o instituto Pew Research Center, a população de muçulmanos chegará a 29,7% (2.761.480.000 de pessoas) em 2050. No último levantamento realizado em 2010, os muçulmanos representavam 23,2% (1.599.700.000 de pessoas) da população no mundo. Comparativamente, a projeção da população cristã no mundo em 2050 será de 31,4% (2.918.070.000 de pessoas), além de continuar como a religião com o maior número de adeptos. A projeção para o número de pessoas que não são formalmente ligadas a uma religião em 2050 será de 13,2% da população (1.230.340.000 de pessoas), enquanto em 2010, o estudo apontava 16,4%.

O instituto ainda projeta que, em 2050, o Islamismo deva ser majoritário em 51 países ao redor do mundo. O xeique atribui o crescimento de adeptos por considerar o Islã uma religião “completa”. O muçulmano deve realizar cinco orações ao dia.

Alcorão Sagrado

A relação da religião com grupos extremistas do oriente médio, para Ali Rahimi, é associada ao desconhecimento das pessoas que tendem a ver o Islã como religião que pratica o terrorismo. “No nosso Alcorão Sagrado, tem um versículo que diz que quem mata uma pessoa, é como se tivesse matado todo mundo”, afirma. Em entrevista para o jornalista paranaense Omar Nasser Filho, no livro “Um diálogo sobre o Islamismo”, publicado em 2003, pela editora Criar, o líder religioso Muhammad Jaafar Khalil, afirma que Alcorão proíbe o uso da força para propagar as crenças religiosas. Para Rahimi, o Daesh [grupo que se autodenomina Estado Islâmico] é um grupo pequeno que não representa os muçulmanos. “Os Estados Unidos sempre falam que Islã é terrorismo e perigoso, mas quando se lê o Alcorão Sagrado, percebe que não existe nada sobre violência, nem sobre matar”, completa.

O líder religioso da mesquita Imam Ali critica as brigas entre as religiões e a intolerância. “Conversar com razão, bem certinho, explicar, é melhor do que brigar. Aqui temos Xiitas e Sunitas e não brigamos. Para o xeique religioso, padre ou pastor, não é bom brigar”, afirma.

islamismo 20 09 2019

                       Alcorão ou Corão é o livro sagrado do Irã. | Foto: Vítor Almeida

Ramadã

Durante o mês do Ramadã, os muçulmanos declaram jejum do nascer ao por do sol com o objetivo de se aproximar com Deus. “Depois que passa meio dia, o muçulmano fica com fome, então pensa nos pobres, logo acaba fazendo caridade aos necessitados”, afirma. Neste ano, o calendário do Ramadã para Ponta Grossa foi o mesmo de Curitiba, iniciado em 7 de maio e terminando em 5 de junho. Os horários de jejuns vão aproximadamente das 5h30 até 18h. De acordo com o Alcorão, neste mês foram revelados os livros sagrados: a Torá (Pentateuco), que corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia, os Salmos de Davi, o Evangelho e o Alcorão.

Informações básicas sobre o Islamismo

Religião: Monoteísta (cultuam um único Deus)
Profeta: Maomé, em árabe: Muhammad
Deus: Allah, sendo uma redundância pois Alá (grafia em português) é “Deus” em árabe. Portanto, qualquer pessoa que se refira a deus no idioma árabe, judeu, cristão ou ateu, está se referindo a Allah.
Livro sagrado: Alcorão
Líder religioso: chamado de xeique, sendo responsável pelos ensinamentos e difusão do Islã, além de estar apto a dirigir uma mesquita
Mesquita: (masjid no árabe) significa “lugar de prostração”. É o templo de adoração e de culto a Alá.
- Informações retiradas do livro “Um diálogo sobre o Islamismo”.

Ficha técnica:

Reportagem: Vitor Almeida
Foto: VItor Almeida
Edição: Matheus Rolim
Supervisão: Professores Angela Aguiar, Ben-Hur Demeneck, Fernanda Cavassana, Hebe Gonçalves e Rafael Kondlatsch