Dados mostram que a comunidade transgênero vive à margem da sociedade.

 

A Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA) registrou 80 assassinatos de pessoas transgênero no primeiro semestre de 2021. No entanto, esse número não consta no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pois a apuração limita-se ao registro de homicídios divididos entre sexo ou órgão genital.
Entre muitas das estatísticas sociodemográficas presentes na plataforma online do IBGE, nenhuma abrange a comunidade transgênero, como homens e mulheres trans, travestis e pessoas não-binárias. Os seis segmentos presentes no site levam em consideração apenas o sexo ou órgão genital, sem abordar a questão de identidade de gênero.
Para Noah Louise de Souza, pessoa não-binária, a relação entre a exclusão de pessoas trans de estatísticas oficiais e a marginalização dessa população é muito clara. Ela aponta a necessidade de que essa população seja vista pelas instituições de poder: “Já passou da hora de pessoas trans serem incluídas nos censos, porquê nossa comunidade carece de amparo por parte do Estado, e o primeiro passo para que esse amparo possa existir com um grupo tão marginalizado é o recolhimento de dados para entender mais a fundo o problema.”, opina.
Noah acredita que esse problema tem relação direta com a organização capitalista em que o Brasil está inserido. “A exclusão social da comunidade trans é uma consequência que infelizmente a gente já vive e que grande parte dos nossos representantes políticos não estão preocupados em mudar. O que não é de se surpreender, porque a gente vive em sistema que para ter as pessoas no topo, tem que ter as pessoas em baixo.”

 

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Foto: Arquivo Periódico

Estatísticas
Enquanto isso, o Brasil segue sendo o responsável por 40% dos assassinatos de pessoas trans que ocorrem no mundo todo. Segundo o boletim da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA) foram mapeadas 33 tentativas de assassinatos, 27 violações de direitos foram denunciadas e 9 casos de suicídios confirmados no primeiro semestre de 2021. Em 2020 o Brasil alcançou a maior taxa de assassinatos dos últimos dez anos. Na área da educação, 70% da comunidade transgênero não concluiu o ensino médio e apenas 0,02% encontram-se no ensino superior.
Foram registrado aproximadamente 14 casos de pessoas trans infectadas pela COVID-19, mas, de acordo com a ANTRA, o número não é preciso, pois as estatísticas seriam ainda maiores se houvesse o cuidado de identificar as pessoas a partir de suas identidades de gênero e não exclusivamente pelo sexo/órgão genital.
O dossiê completo sobre as estatísticas da população transgênero no ano de 2021 será publicado pelo ANTRA em janeiro de 2022. Os censos oficiais de proporção nacional não expressam a possibilidade de reformular o método das próximas apurações.

 

Ficha técnica:
Repórter: Maria Eduarda Kobilarz Silva
Edição e Publicação: Larissa Onorio
Supervisão de Produção: Vinicius Biazotti
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen