Foto | Angelo Rocha

Suzana Godoi hoje se identifica como mulher trans, mas, segundo ela, já foi travesti. A jovem de 28 anos, tímida e ao mesmo tempo muito articulada, iniciou a conversa de 45 minutos com o Portal Periódico com um abraço confortante e revelando: “a sociedade me discrimina, as portas são fechadas, dificilmente alguém me abraça.”

O desabafo de Suzana vai ao encontro das estatísticas brasileiras de transfobia. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2016, aproximadamente 343 pessoas foram mortas por transfobia no Brasil. Os números, que podem ser ainda maiores, são imprecisos, uma vez que o levantamento é realizado com base em reportagens que saem na mídia.

A conversa com Suzana, que hoje é balconista além de bailarina clássica, faz parte de uma série na qual trabalha a equipe do Periódico com vistas à reportagem especial sobre as violências físicas, psicológicas e sociais que travestis e mulheres trans sofrem em Ponta Grossa. A proposta se desenvolve em meio a três casos de transfobia na cidade e um óbito. Tudo isso nos últimos quatro meses.

Na entrevista completa, Suzana Godoi relata suas vivências e a exposição em momentos de violência enquanto trabalhou como prostituta, no mercado de trabalho, nos relacionamentos afetivos, no uso do nome social e na violência contra o próprio corpo, prática comum que mulheres trans e travestis encontram para se reconhecerem como são.

O encontro com Suzana, no entanto, foi exceção. Os repórteres enfrentaram dificuldades no contato com essas mulheres que, receosas, esquivam-se das perguntas. A apreensão é compreensível já que a mídia, principalmente a local, costuma abordar pessoas LGBT's relacionando-as à prostituição.

Outra dificuldade dos repórteres é na abordagem correta tanto com as mulheres entrevistadas, como na redação da reportagem, preocupações que vão ao encontro com preconceitos diários vividos por travestis e mulheres trans. De acordo com Suzana, as pessoas têm medo de travestis e as veem como monstros. “É difícil. Travesti tem sentimento, sente dor, fome, frio, ela precisa trabalhar, e por quê não dar espaço, uma oportunidade? Tem que acolher. A mutilação não vem só do corpo, mas também da alma”, lamenta.

A reportagem, prevista para publicação no mês de agosto, é uma das iniciativas dos estudantes de Jornalismo da UEPG, em homenagem ao mês do orgulho LGBT.

 

Dia Internacional do Orgulho LGBT

No dia 28 de junho é comemorado o Dia do Orgulho LGBT, criado em homenagem a Rebelião de Stonewall Inn, quando em 1969, em Nova York, policiais invadiram bares frequentados por homossexuais. A partir do triste episódio, diversos atos e manifestações foram organizados em favor dos direitos LGBTs.

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) iniciou as atividades desta quarta-feira (28), com a bandeira do arco-íris, símbolo da luta LGBT, estendida na entrada do campus central. A iniciativa é da Comissão de Cultura formada por estudantes de Letras da UEPG e do Grupo Universitário de Diversidade Sexual e Identidade de Gênero da UEPG (GUDI-UEPG), que também organizaram a exposição fotográfica “sobre NÓS”, no bloco de Letras na UEPG campus central. Os grupos preparam mais atividades para a noite de hoje (28), no mesmo local

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