Cerca de oito mil pessoas participaram do evento em Florianópolis/SC. Foto: Gabriela Clair.

Os eventos debateram a saúde da mulher, além de questões pouco exploradas pela sociedade

Entre 30 de julho e 4 de agosto, aconteceu o 13º Congresso Mundos de Mulheres e o “Seminário Internacional Fazendo Gênero 11”, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Cerca de oito mil pessoas se deslocaram até a capital catarinense para participar e acompanhar o evento.
O evento reuniu acadêmicos de graduação, mestrado, doutorado, pessoas que trabalham com questões de gênero, como escritores, jornalistas, médicos, além de ativistas que reivindicam os direitos de gênero, militantes de diversos movimentos do Brasil e do mundo e pessoas interessadas no conhecimento proporcionado pelo evento.


Dentre as diversas temáticas discutidas - como questões de gênero, feminismos ao redor do mundo, violência contra a mulher e perspectivas históricas do movimento -, uma das mais debatidas foi a saúde física e mental da mulher. No dia 31 de julho ocorreu a oficina "Fique Amiga Dela", coordenada por Ellen e Halana Faria, integrantes do Coletivo de Saúde Feminista Sexualidade e Saúde.


O Coletivo é uma organização não-governamental que marcou presença no congresso a partir da promoção de oficinas. O grupo, que surgiu em São Paulo, desenvolve trabalhos na área de saúde das mulheres, com uma perspectiva feminista e humanizada. Além disso, elabora projetos a partir de financiamentos de organizações internacionais e nacionais e de convênios com o governo em áreas como os direitos humanos das mulheres, violência de gênero e saúde sexual e reprodutiva.


O Coletivo promoveu uma oficina para tratar da anatomia e fisiologia da mulher, cuidados da saúde íntima, opções de contracepção não hormonal – DIU, diafragma, métodos comportamentais, gravidez indesejada, rotinas ginecológicas e como proteger-se da excessiva medicalização da saúde, o que o SUS oferece e é direito da mulher, entre outros. A ginecologista e integrante do coletivo, Halana Faria explica: "somos forçadas pela sociedade a pensar que a saúde da mulher deve ser controlada por medicamentos como anticoncepcionais, que são nocivas à saúde, mas nós somos livres para cuidar de nós mesmas". Pensando nisso, Halana e Ellen deram dicas de como a mulher pode observar o seu corpo e detectar se há algo de errado. Uma das dicas é observar o próprio colo do útero com um espéculo vaginal, que custa de R$ 2 a R$ 5 em lojas especializadas em materiais de saúde. "Utilizando o espelho, podemos observar como está o nosso colo do útero e, sabendo o nosso normal, podemos identificar quando tem algo errado conosco", explica Ellen.


Outro debate com relação à saúde foi na oficina "Mulheres e HIV/AIDS: compartilhando vozes, redes e saberes sobre prevenção". O objetivo da oficina era o compartilhar conhecimento a respeito das prevenções combinadas do HIV/AIDS, que infecta uma pessoa a cada 15 minutos no Brasil. Só em 2016, cerca de 18,2 milhões de pessoas tiveram acesso ao tratamento antirretroviral no mundo todo. Um ponto de convergência nesse debate aponta para a necessidade de ampliar os espaços de diálogo e problematização, dando voz às mulheres que vivem essa realidade, marcada pela desigualdade social e interseccionalidades de classe, gênero, raça e sexualidade.


A oficina discutiu as novas políticas de prevenção, as transformações das estratégias preventivas, além de dialogar sobre os agenciamentos no uso de métodos preventivos, a partir de dinâmicas participativas e reflexivas sobre saberes e vivências dos e das participantes. Rafael Agostini, um dos coordenadores da oficina, explica que o objetivo é acabar com a epidemia até 2030. "Queremos acabar com a epidemia, mas acabar com a epidemia não significa acabar com o vírus, porque isso é impossível, ainda vão existir pessoas infectadas até lá", comenta Agostini. "O objetivo é que até essa data 90% das pessoas que têm AIDS saibam do seu diagnóstico; destas, 90% entrem em tratamento e 90% tenha a carga viral suprimida", conclui.

 

Mulheres marchando

A manifestação no Centro Histórico de Florianópolis/SC reivindicou os direitos das mulheres na sociedade. Foto: Gabriela Clair.

 

Outro destaque no congresso foi a Marcha Mundos de Mulheres, que ocorreu no dia 2 de agosto. Cerca de 10 mil pessoas reuniram-se no centro histórico de Florianópolis, para marchar reivindicando direitos. A Marcha percorreu várias quadras e gritos de guerra, como ‘Nem recatada e nem do lar, a mulherada tá na rua é pra lutar’ e ‘A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria’, puderam ser ouvidos à longa distância.

O próximo Mundos de Mulheres, que tem como tema "Feminismos Africanos: construindo alternativas para as mulheres e para o mundo através de um corredor de saberes que cuida e resiste", acontece em 2020, na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, no Moçambique.


Mulheres protestam contra violência e machismo em Ponta Grossa

Movimentos protestam em Ponta Grossa após os recentes casos de violência contra mulheres na cidade. Foto: Erica Fernanda.

No dia 30 de julho aconteceu o ato O Silêncio Mata, pelo fim da violência contra as mulheres. O manifesto foi organizado pelo projeto feminista Nós por Nós, após os recentes casos feminicídios e estupros que aconteceram na cidade.


O ato ocorreu no Parque Ambiental de Ponta Grossa, um local estratégico para dar visibilidade ao movimento. “Quase não temos espaço aqui. Nossa cidade é extremamente conservadora, e se cala na maioria das vezes.” explica a fundadora do projeto Ester Camargo Custódio. O protesto contou com oficina de cartazes e depoimentos de mulheres que foram vítimas do machismo e de violência.


Os últimos registros de crimes contra mulheres que aconteceram em Ponta Grossa foram duas tentativas de estupro nos bairros Ronda e Nova Rússia, e o estupro de uma moradora de rua em um terreno baldio no centro da cidade. O caso com maior repercussão foi o feminícidio de Juliana Nunes, de 33 anos. O namorado de Juliana, autor do crime, utilizou um taco de beisebol como arma.


Célia Gomes da Silveira Nunes, mãe de Juliana, esteve no ato. “Muitas vezes a mulher é “culpada” porque ela gosta, ela ama, ela fica em silêncio.”, lamenta. Deveria existir um órgão que para acompanhar uma mulher, orientá-la, e que dissesse “se ele te deu um belisco há possibilidade dele te matar’”, afirma Célia.