Agroecologia é saida para consumo de alimentos sem agrotóxicos. Foto: Saori Honorato / Lente Quente

Em 2017, Ponta Grossa comercializou 1.044,8 toneladas de agrotóxicos. Isso representa um comércio diário de 2,86 toneladas na cidade. É o que aponta um relatório produzido pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) com dados do Sistema de Controle do Comércio e Uso de Agrotóxicos no Estado do Paraná (SIAGRO). No total, 92.398 toneladas foram vendidas no Paraná durante o ano passado.

 

 

Os dados de 2017 demonstram uma diminuição de 22 toneladas de agrotóxicos em comparação aos dados de 2016 no município. Entretanto, o consumo no estado aumentou em 237,5 toneladas em relação ao ano anterior. As cidades paranaenses que mais consumiram agrotóxicos no estado foram Cascavel (1.891,9 toneladas), Guarapuava (1.719,5 toneladas) e Tibagi (1.680,0 toneladas).As cidades que mais consomem agrotóxico no Estado tem produção majoritariamente de soja. Em todo o Brasil, plantações de soja são as que mais dependem de químicos. Conforme dados do IBGE, são 17,7 litros de agrotóxicos por hectare em plantações de soja. O mesmo estudo coloca o Paraná como segundo estado que mais consome agrotóxicos, atrás apenas do Mato Grosso.

 

 

Dados divulgados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) revelam que o Paraná é o estado brasileiro onde houve mais intoxicações por agrotóxicos nos últimos dez anos, com 4.648 casos registrados. Desde 2008, o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos, representando 19% do consumo mundial. A lei vigente já se mostra bastante flexível na permissão de uso comparado com outros países. Cerca de 30% dos agrotóxicos liberados no Brasil foram banidos da Europa.O quinto agrotóxico mais usado no Paraná é o acefato (também conhecido pelos nomes comerciais de Nortox e Fersol), que representa 2,34% do total de agrotóxicos usados no Estado. Em 9º lugar fica o Gramoxone (nome comercial do agrotóxico paraquat) representando 2,15%. Ambos agrotóxicos são alguns dos químicos proibidos em diversos países devido às consequências do seu uso. O acefato por exemplo, é um produto neurotóxico que causa efeitos no sistema endócrino. Já o Gramoxone é responsável por causar mutações no organismo e Doença de Parkinson. O relatório aponta ainda crescimento do uso desses agrotóxicos em comparação com a quantidade identificada nos anos de 2013 e 2014.

 

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O uso de agrotóxicos em Ponta Grossa teve uma leve diminuição comparada com a anos anteriores. Agrotóxicos perigosos, como o Acefato e Gramoxone, aumentaram em todo o Paraná.

 

“PL do veneno”

 

Dia 25 de junho foi aprovado o projeto de lei que propõe mudanças na legislação do uso de agrotóxicos no país com 18 votos favoráveis e 9 contrários. Defendida pela bancada ruralista - maioria na câmara -, a “PL do veneno” foi proposta pelo deputado paranaense Luiz Nishimori (PR) em maio. O projeto foi aprovado por comissão especial e agora segue para o plenário da Câmara dos Deputados. Criticada por ambientalistas e órgãos de saúde pública, a proposta transfere a responsabilidade de verificar a segurança dos agrotóxicos exclusivamente para o Ministério da Agricultura e retira essa avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A PL abre brechas para o uso indiscriminado de agrotóxicos uma vez que revoga da lei vigente a proibição de produtos com características teratogênicas — que causam anomalias no útero e malformação em fetos—, cancerígenas ou mutagênicas. Por outro lado, a falta de taxação neste tipo de produto é entendida como um fator que estimula o uso do agrotóxico. “Os agrotóxicos, com a infeliz noção de que eles servem para baratear os custos de alimentos, são isentos de impostos e por isso seu uso é estimulado”, relata Carlos Hugo Rocha, professor do curso de agronomia na UEPG. “É uma lástima que mais uma tentativa de facilitar o uso desses produtos esteja sendo tomada”, opina.Os impactos dos agrotóxicos traz sérias consequências ambientais como a contaminação dos solos. “Os venenos usados na agricultura cotidianamente são liberados e contaminam a água, o solo, os alimentos, os agricultores e os consumidores”, explica Rocha. Pelo menos oito brasileiros são contaminados pelo uso de agrotóxicos por dia no país, e para cada caso de intoxicação no Brasil, existem 50 outros não notificados, segundo estudos do Laboratório de Geografia Agrária da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

 

 

Outras opções de agricultura

 

Entre os dias 6 e 9 de junho aconteceu a 17ª Jornada de Agroecologia, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O evento teve como tema a defesa da produção popular agroecológica, ou seja, sem transgênicos e agrotóxicos. Durante os quatro dias do evento, 126 feirantes puderam vender suas alimentações agroecológicas, isto é orgânicas e livre de agrotóxicos. No total, foram comercializados 12,5 toneladas de alimentos orgânicos, conforme a organização.Pela primeira vez, o evento aconteceu em Curitiba. “A nossa proposta é dialogar com a sociedade. Os curitibanos estão nos prestigiando, tivemos uma ótima aceitação”, conta Luzia Nunes, que participou da organização da jornada. “A gente tem prazer de mostrar e trazer pro povo da cidade o nosso trabalho orgânico e sem veneno”, afirma Nilse Pazza, produtora rural desde criança.

 

 

Para Pazza, a alta frequência de cânceres na população é consequência do uso excessivo de agrotóxicos. Conforme pesquisas da Abrasco, do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), agrotóxicos podem causar problemas neurológicos, motores e mentais, distúrbios de comportamento, problemas na produção de hormônios sexuais, infertilidade, puberdade precoce, má formação fetal, aborto, doença de Parkinson, endometriose, atrofia dos testículos e câncer de diversos tipos.A produtora rural Nina Moura reside no Assentamento Antônio Companheiro Tavares, na cidade de São Miguel do Iguaçu. Na jornada, Moura ofereceu aos transeuntes atendimentos médico-terapêuticos, como auriculoterapia e massoterapia. “Nós do setor de saúde do MST trabalhamos com plantas medicinais sem uso de agrotóxicos e prevenção da saúde”, comenta. Para ela, uma alimentação sem venenos é o caminho para uma saúde melhor. “A saúde é aquilo que nós comemos”, afirma a produtora, que também encoraja a produção própria. “Quando você planta, você sabe o que colhe e o que come”, conclui.

 

 

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