Em oito meses quase 300 novos agrotóxicos foram liberados pelo presidente da república, grande parte proibidos em diversos países

Desde o início do mandato, em janeiro de 2019, o presidente da República, Jair Bolsonaro, liberou de cerca de 290 agrotóxicos, com princípios ativos classificados como tóxicos e extremamente tóxicos pela ANVISA, a maioria deles proibidos na União Europeia. Alguns desses princípios ativos são vendidos e usados nas plantações de Ponta Grossa. Em Ponta Grossa, um debate foi realizado pela campanha, no dia 15 de agosto, com a presença de professores, especialistas e agricultores, que debateram sobre o uso e os perigos dos agrotóxicos.

Em 3 anos, Ponta Grossa comercializou cerca de 4.423,1 toneladas de agrotóxicos. Foto: Kauana Neitzel

O Brasil é o país que mais consome agrotóxico do mundo. O Paraná é o terceiro maior consumidor de agrotóxicos do Brasil. De acordo com dados, disponíveis na internet, da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), presentes no Plano de Vigilância e Atenção à Saúde de Populações Expostas aos Agrotóxicos do Estado do Paraná, a quantidade de agrotóxico comercializado nos anos de 2014 a 2017 em Ponta Grossa é cerca de 4.423,1 toneladas. No estado, aproximadamente 382.750 toneladas.

Professor de agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Carlos Hugo Rocha, afirma que a maioria dos alimentos produzidos em larga escala pelas grandes empresas do agronegócio são contaminados. “No Brasil, desenvolvemos uma agricultura fundamentada no eixo de fertilizantes e no uso desenfreado de agrotóxicos”, explica. De acordo com o professor a cada três alimentos dois têm contaminação total ou possui resíduos de produtos químicos. “O sistema que temos favorece isso, portanto o alimento que chega na mesa do brasileiro está contaminado”.

“Até a água que chega nas cidades está contaminada com agrotóxicos encontrados nas lavouras”, afirma Rocha. Uma investigação realizada pelo veículo Repórter Brasil, junto com a Public Eye e Agência Pública, com dados do Ministério da Saúde, mostra que a cada grande parte dos municípios brasileiros possuem um “coquetel” de agrotóxicos na água. Em Ponta Grossa foram detectados 27 tipos de agrotóxicos na água, entre 2014 e 2017, 11 deles associados a doenças crônicas, como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. 

Os riscos do uso dos defensivos não é somente no consumo, mas em todo o processo de manuseamento e aplicação. “Os agrotóxicos têm a função primária de controlar as populações de plantas, animais e micro-organismos que irão diminuir a produção agrícola, contudo, essa toxidade não é totalmente seletiva, o que pode causar a morte em seres humanos”, explica o Professor Doutor Marcos Pileggi, do Departamento de Biologia Estrutural, Molecular e Genética da UEPG. 

Pileggi ressalta outro risco, a contaminação à longo prazo do ecossistema. “Boa parte dos agrotóxicos não atingem seus alvos e podem contaminar rios, lagos e lençóis freáticos”, analisa. “Agrotóxicos têm a função primária de controlar as populações que irão diminuir a produção agrícola, porém a toxicidade não é seletiva, podendo prejudicar seres humanos”.

Segundo o dossiê feito pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), disponível na internet, em 2015, existem confirmações que certas doenças são causadas pelos agrotóxicos, como por exemplo endometriose, má formação fetal, doença de Parkinson, distúrbios hormonais diversos (nas glândulas hipófise, tireoide, suprarrenais, mamas, ovários e testículos), entre outros. 

As campanhas voltadas contra o uso do agrotóxico apoiam e defendem a agroecologia, como um dos caminhos para o fim do uso dos agrotóxicos. Para Pileggi o agronegócio está totalmente dependente dos agrotóxicos mas é preciso buscar outros caminhos. “A busca de alternativas para diminuir os efeitos tóxicos destes produtos é uma tarefa essencial para a preservação da saúde de plantas e animais, incluindo os humanos”, afirma.

Visando combater o uso dos agrotóxicos organizações estão promovendo campanhas em nível nacional para conscientizar a população. A campanha Viva Sem Veneno, é um exemplo. Criada em novembro de 2017 promove conversas em todo o país sobre os perigos do uso dos defensivos agrícolas. Segundo a campanha, cada pessoa consome cerca de 7,3 litros de agrotóxico todo ano. 

Ficha Técnica:

Reportagem:
 Emanuelle Salatini
Supervisão: Angela Aguiar, Fernanda Cavassana, Rafael Kondlastsch, Ben-Hur Demeneck
Foto: Kauana Neitzel
Edição: Alunos do 2° ano de Jornalismo, Raylane Martins e Gabriella de Barros