Ausência do uso de equipamentos de segurança figura entre os problemas

Perigos e riscos de acidentes ocorrem por falta de treinamento e orientação | Foto: Cássio Murilo

Armazéns de grãos têm ganhado destaque entre os acidentes envolvendo o meio rural. Apesar de pouco divulgado, os números indicam a falta de atenção com relação à segurança dos trabalhadores. O Ministério da Previdência Social considera que o número de acidentes em armazéns de grãos como os silos não expressam a realidade. Isso devido ao fato de que muitos trabalhadores não fazem o registro. Além disso, o Ministério não possui dados específicos sobre acidentes em silos, os fatos são registrados na descrição “armazéns gerais”, que contemplam os silos.

Os estados com maior produção de grãos do país, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Goiás, são os que possuem maior números de mortes em silos. O Paraná lidera o ranking com maior número de vítimas, segundo os dados do Ministério da Previdência de 2015 a 2017 (últimos anos com dados registrados), com cerca de 478 acidentes. Rio Grande do Sul ocupa o segundo lugar na lista, com 195 casos registrados no mesmo período. Mato Grosso e Goiás registram 194 e 118 respectivamente. No Brasil, esse número é de 4.809.

Em 04 de abril deste ano, foi registrada uma morte em silo em Tibagi, no Paraná. João Assis Santos Ferreira Junior, 26, caiu em um silo de armazenamento de soja da Frísia Cooperativa Agroindustrial e não resistiu. Segundo informações da família, colegas de trabalho sentiram falta do rapaz ao fim do expediente e voltaram ao local para verificar se ele estava lá dentro. Ao visualizarem o capacete de proteção dentro do silo, constataram que ele havia caído.

De acordo com o 2º Tenente do Corpo de Bombeiros de Telêmaco Borba, Gilson José Diniz, que atuou no resgate da vítima juntamente com os Bombeiros Comunitários de Tibagi, o rapaz estava parcialmente coberto pela soja. “A primeira guarnição que chegou até o local foi a dos Bombeiros Comunitários do Município de Tibagi. Eles encontraram a vítima ainda presa até a cintura, sendo socorrida pelos seus companheiros de trabalho. Os bombeiros de Tibagi imediatamente fizeram cortes nas paredes do silo a fim de retirar a soja. Com a chegada do Corpo de Bombeiros de Telêmaco Borba, a vítima foi retirada, imobilizada e transportada para o hospital local, recebendo manobras de reanimação cardiopulmonar. Infelizmente as lesões pulmonares causadas pela aspiração de sólidos eram extremamente graves, tornando o caso irreversível”, conta.

Diniz ainda descreve a complexidade no resgate. “Em casos como este, a complexidade maior se dá em relação à contenção do material sólido e no escoamento adequado deste. Geralmente, no início do resgate, o material está escoando em direção à vítima e se faz necessário reverter este cenário o mais breve possível, mantendo o controle sobre os riscos ao qual a vítima e a equipe estão expostas”, explica.

“O caso ainda está sendo investigado pela Polícia Civil. Mas os principais pontos a serem esclarecidos são: se houve ou não uma ordem para que o trabalhador adentrasse o silo e de quem teria partido essa ordem. Por qual motivo o trabalhador não estava ancorado em um ponto seguro. Se havia a figura do vigia, ou o trabalhador foi encontrado apenas posteriormente. E se o silo estava ou não sendo esgotado no momento do acidente”, completa.

Tainá Penteado Santos, irmã da vítima, conta que a família ainda tem poucas respostas sobre o caso. “A empresa não sabe informar o que aconteceu. O pouco que sabemos é de acordo com relatos de colegas de trabalho do João e que estavam no local no dia do acidente. Não entendemos porque ele entrou no silo sozinho. Queremos mais repostas”.
Procurada pela reportagem, a empresa para a qual o rapaz trabalhava enviou a seguinte nota. “A Frísia lamenta profundamente o ocorrido com seu colaborador no entreposto em Tibagi. Na ocasião, a unidade ficou fechada. A cooperativa prestou toda a assistência aos familiares e reitera que preza pela segurança dos integrantes de sua equipe. Com frequência investimentos são realizados em treinamentos e equipamentos”. Maiores informações a respeito do acidente não foram mencionadas pela empresa.

Especialistas alertam sobre falta de segurança no trabalho em silos

Engenheiro de Segurança do Trabalho, José Aparecido Leal, 53, explica a forma como o silo é utilizado e como ocorrem os acidentes: “Os silos são unidades de armazenamento de produtos a granel. Após processo de recebimento do produto na moega, limpeza de impureza nas peneiras e passar pelo sistema de secagem, o produto é destinado para o silo, onde ficará armazenado até o seu destino final, mediante exportação ou beneficiamento. São usados exclusivamente para armazenagem de produtos de origem agrícola”.

Leal ressalta que as causas dos acidentes estão relacionadas ao desconhecimento sobre segurança no trabalho: “Os acidentes ocorrem em silos, denominado de trabalho em espaço confinado, porque há um desconhecimento dos perigos e riscos existentes por parte dos gestores das empresas que, consequentemente, afeta os trabalhadores, pois não recebem os treinamentos e orientações corretos para desenvolver em segurança trabalhos nas atividades envolvendo silos”.

O engenheiro aponta os riscos do trabalho em silos: “Os trabalhadores ficam expostos a riscos de soterramentos (engolfamento), deficiência de oxigênio devido à formação de gases oriundos da decomposição de produtos vegetais (grãos) e riscos de explosões”.

Instrutor de Segurança do Trabalho, Paulo Cesar Pavoni, 47, aponta medidas que as empresas devem tomar com relação à segurança do trabalhador. “Muitas vezes o problema é o descaso da empresa em relação ao empregado. Falta de treinamento, equipamento, condições de insegurança nos ambientes de trabalho. As empresas precisam seguir as normas exigidas pelo Ministério do Trabalho, elaborar suas próprias normas, treinar e cobrar seus empregados”, destaca.

A produção de grãos nos quatro estados para a safra de 2018/2019 está estimada em 159.594,6 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Soja, milho e arroz, juntamente com o algodão, representam cerca de 94,7% da produção da safra. A safra total está estimada em 237,7 milhões de toneladas, 4% acima de 2017/2018, que foi de 227,751 milhões de toneladas.

Ficha Técnica
Reportagem: Laísa Braga
Foto: Cássio Murilo
Edição: Alunos do segundo ano do curso de Jornalismo da UEPG, Ane Rebelato
Supervisão: Professores Angela Aguiar, Ben-Hur Demeneck, Fernanda Cavassana, Hebe Gonçalves e Rafael Kondlatsch

 

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