Meteorologia também prevê falta de chuva e ondas de frio intenso na região
O inverno começou oficialmente na madrugada do dia 21 de junho. A estação famosa pelas quedas de temperaturas, se seguir as previsões, deve ser a mais fria dos últimos cinco anos nos Campos Gerais, segundo Reinaldo Kneib, meteorologista do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (SIMEPAR): “Desde 2017 nós tivemos temperaturas um pouco mais elevadas do que o usual, e ano passado em especial fez muito pouco frio. E o começo deste inverno já mostra que em 2021 a gente deve esperar temperaturas mais baixas e um inverno mais frio do que nos anos anteriores”. O meteorologista ressalta que o inverno de 2021 também caminha para bater os recordes da última década, que em 2013 calculou média de 8° C durante todo o período.
Sobre os fenômenos climáticos comuns da estação, Reinaldo explica que será um inverno típico para a região dos Campos Gerais, com ondas de frio intenso e formação de neblinas e geada. Já na primeira semana do inverno, o meteorologista observa que as temperaturas abaixo de 5° C colaboraram para a intensidade das geadas, fenômeno considerado prejudicial para a produção agropecuária.
Ele ainda destaca que este será um inverno seco e com poucos eventos de chuva, devido ao afastamento de fenômenos como El Niño da região. “A previsão indica uma quantidade maior de massas de ar seco, que geralmente deixam o tempo estável e sem chuvas. Isso acontece principalmente porque, ao longo deste inverno, não teremos previsão de chegada do El Niño. O fenômeno acontece quando há o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, alterando o clima e trazendo chuvas para os Campos Gerais.”
Agronegócio
A intensificação de geadas e a falta de chuvas neste inverno são dois fatores preocupantes para o setor agropecuarista dos Campos Gerais. Os produtores do Paraná, que já enfrentam uma crise hídrica desde julho de 2019, vêm se reinventando para manter o setor em funcionamento durante a estiagem histórica na região. Este é o caso do agropecuarista Gustavo Ribas Netto, que há mais de trinta anos trabalha com agricultura de grãos e pecuária de corte na região.
Foto: Matheus Gaston
Filho de proprietários rurais, Gustavo relata que a paixão pela terra vem de berço, e a preocupação com a estação mais fria do ano sempre fez parte de sua rotina: “A gente acaba não tendo muita opção porque no clima a gente não consegue interferir. Então no inverno plantamos cevada, trigo, aveia e azevém ou pastagem, mas é muito restrito se comparado com as culturas de verão no quesito variedade. Opção de plantio no inverno é você aumentar, diminuir ou não fazer algum tipo de cultura conforme vai se encaminhar o clima”.
De acordo com o agropecuarista, o inverno não é a principal estação à agropecuária na região dos Campos Gerais, pois o foco são as culturas de verão, como soja, milho ou feijão, ou beneficiar o gado. “Aqui você faz o inverno com foco no verão. A gente planta aveia e azevém, por exemplo, para fazer ou a camada orgânica para beneficiar as futuras plantações, ou para colocar o gado e fazer a pecuária, a gente planta e solta o gado em cima para engordar e vender no final do inverno”, explica.
Apesar de um começo de estação chuvosa, o que não causou problemas na época do plantio de trigo e azevém, suas escolhas para 2021, Gustavo relata que a maior preocupação para este ano é a falta de água: “A gente é uma indústria a céu aberto, então o pior inverno é aquele que tem a falta da água. No frio a gente usa culturas adaptáveis, então se plantar dentro das janelas adequadas dá certo, mas na falta de água a planta não desenvolve como deve se desenvolver, você não produz o que você tem que produzir, e não consegue gerar o retorno financeiro”.
Para evitar maiores prejuízos durante o inverno, Gustavo implementou em suas plantações aplicativos para monitoramento do desenvolvimento da planta e aplicativos que produzem relatórios com as previsões do tempo de curto prazo, que alertam as mudanças climáticas de duas a três horas antes de atingirem a região. “Isso serve para quando formos fazer a condução da colheita e a pulverização do plantio, momentos em que não pode chover na hora, termos uma noção de o que será feito na lavoura ou não”.
As dificuldades da crise hídrica impactam também no gado, segundo o agropecuarista. Sem chuvas, as pastagens não crescem o suficiente para o gado ter uma alimentação reforçada, o que ocasiona o aumento dos gastos com silagens para os animais e, consequentemente, um menor retorno financeiro. Para Gustavo, tão importante quanto a quantidade de água é a distribuição dessa água durante o ano, para que as precipitações atinjam as plantações ao longo de todas as estações, e não somente no verão. A constância de chuvas, portanto, é crucial para o desempenho do agronegócio nos Campos Gerais.
Saúde
A diminuição da temperatura e a baixa umidade relativa do ar também impactam na saúde da população. Com a chegada do frio, aumentam os riscos de contaminação por doenças respiratórias como gripe, resfriado, sinusite, otite e amidalite. Segundo o Ministério da Saúde, o inverno é a estação em que essas doenças se tornam mais recorrentes, tanto pela aglomeração de pessoas em lugares fechados como pela sazonalidade dos vírus que causam tais infecções.
A preocupação com essas doenças é redobrada atualmente por conta da pandemia da Covid-19, que também é ocasionada por um vírus que se prolifera com maior facilidade no inverno. De acordo com o Ministério da Saúde, a vacinação é a melhor forma de prevenção contra as doenças comuns no período. Entretanto, com o foco voltado para a Covid-19, a população está deixando de lado as vacinações de outras doenças virais, como é o caso da gripe.
Atualmente em Ponta Grossa toda a população acima de seis meses de idade pode se vacinar contra a gripe (H1N1). Para evitar aglomerações nos postos de saúde da cidade, a Prefeitura Municipal está realizando o agendamento online, disponibilizados um dia antes da data de aplicação. O mesmo sistema está sendo utilizado para a vacinação contra a Covid-19, que neste momento contempla pessoas acima dos 45 anos. Para agendar a sua vacina, acesse o site da Prefeitura.
Ações Sociais
Com as bruscas quedas de temperatura, características do início do inverno, muitas iniciativas são criadas para arrecadar doações de alimentos e agasalhos para pessoas em situação de vulnerabilidade. A campanha “Aqueça seu Coração com Amor e Empatia” é um exemplo. Organizada pelo Rotary Clube de Ponta Grossa em parceria com a Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa (FASPG), a ação arrecadou em um único dia 2,8 toneladas de alimentos e mais de 1380 peças de roupas.
De acordo com o Presidente do Rotary, Sérgio Oliveira, as metas alcançadas pela campanha foram além do esperado. “A população abraçou a ideia e o resultado final foi de um trabalho conjunto de união de forças. A proposta da campanha é muito mais de sensibilização da população do que propriamente o objetivo de só ter volume, então o que a gente percebeu é que as pessoas são solidárias, basta ter alguém para encampar a ideia e seguir em frente com ela”, relata.
Em relação aos contemplados com as arrecadações, a parceria com a Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa permitiu que a campanha destinasse todas as doações para famílias carentes cadastradas no sistema de monitoramento da Prefeitura, moradores de rua e entidades sociais do município. Para Sérgio, mesmo com o aumento de campanhas de arrecadações no inverno, a população deve seguir se mobilizando durante o ano inteiro. “Nada impede a população de continuar ajudando aqueles que precisam, porque a gente sabe que quem tem fome e frio tem pressa, e elas não esperam o inverno chegar. Então quanto mais pessoas conscientizadas e sensibilizadas para essa questão solidária, melhor é para todos”.
Ficha técnica
Reportagem: Manuela Roque
Edição e Revisão: Larissa Onorio e Gabriel Ryden
Publicação: Matheus Gaston e Deborah Kuki
Supervisão: Jeferson Bertolini