Carrinheiros se recusam em trabalhar para associações pela atividade não ser lucrativa com intermediários

A Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis da Nova Rússia (ACAMARU) conta com uma equipe de 19 catadores.

A nova coleta seletiva de Ponta Grossa, implantada em março de 2016, não abrange nem metade dos bairros do município. A explicação dada pela prefeitura é de que não há agentes ambientais o suficiente. Apenas os bairros Centro, Jardim Carvalho, Vila Liane, Jardim América e Vila Estrela são atendidos com coleta de porta em porta. Os materiais recolhidos são levados para as associações de catadores de material reciclável, ac, a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Oficinas (ACAMARO), a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Uvaranas (ACAMARUVA) e a Associação dos Recicladores Rei do Pet (ARREP).

 

Ainda existem espalhados pela cidade, os Pontos de entrega Voluntária (PEV) de lixo reciclável, onde os moradores de bairros que não tem a coleta podem levar seus materiais recicláveis. O município ainda tem planos de implantar os PEVs em todas as escolas municipais e estaduais da cidade.


Patrícia Hilgemberg, secretária municipal do Meio Ambiente, tenta explicar o problema: “Nós só não ampliamos ainda a coleta seletiva porque, pela lei todo resíduo deve ser levado para as associações e existe, no máximo, 120 catadores trabalhando nas associações, de 90 a 120”. Em Ponta Grossa, os catadores que estão nas associações de reciclagem têm mais direitos trabalhistas como café da manhã e almoço, em casos de doenças estão amparados e seus filhos tem prioridade em vagas nas creches e escolas integrais.


No município foram detectados aproximadamente 400 catadores autônomos. Uma solução apontada pela secretária do Meio Ambiente sobre a abrangência da coleta seletiva seria a contratação de mais agentes ambientais. O ideal, de acordo com ela, seria tirar esses carrinheiros independentes das ruas e associá-los às cooperativas vinculadas à prefeitura, mas há recusa da parte deles. “Muitos deles tem problema com o álcool, são pessoas que estão abaixo da linha da pobreza”, afirma Patrícia.

A secretária relata que uma estratégia que a prefeitura está estudando seria convencer a população e principalmente aos comerciantes, a não oferecer esse material reciclável aos catadores autônomos. “O único meio de fazermos essa população ir para a associação trabalhar é não deixando a disposição esse material” declara Patrícia.


A secretária municipal do Meio Ambiente ainda afirmou que a assistente social da secretaria, Jussara Aparecida Borgo, conversou pessoalmente com cada um dos 400 carroceiros da cidade e produziu uma pesquisa relatando a recusa de trabalhar para a prefeitura. Todavia, quando indagada sobre a pesquisa, Jussara contradisse a versão da secretária. “Na verdade a gente não chega a ir conversar com eles porque quem não está dentro dessas associações é porque não quer estar, porque eles conhecem as associações mas preferem trabalhar na rua. Eu só tenho contato com os carrinheiros quando eles vêm até mim em busca de ajuda para ter um carrinho ou pra reformar algum carrinho que eles já tem”, admite.

A ACAMARU é uma das associações que recebem os materiais recicláveis recolhidos na coleta seletiva.


Apesar de terem a liberdade na escolha de horários e de como e onde coletar os materiais, os carrinheiros não são contemplados com direitos trabalhistas. A assistente social da secretaria do meio ambiente confessa que os catadores autônomos consideram mais lucrativo trabalhar por conta própria.

Em entrevista para a equipe do Periódico, um carrinheiro que prefere não ser identificado, afirma que consegue faturar quinzenalmente em torno de R$800 à R$1.000 reais com a venda dos materiais recicláveis que ele recolhe pelas ruas e diz que não é o único a faturar essa quantia. Outra fonte, que também prefere não ser identificada, confirma o valor: “os carrinheiros autônomos devem tirar por mês de R$1.000 a R$2.000 reais”.


Antes da implantação da coleta seletiva, um catador associado a uma cooperativa municipal, recebia em torno de R$400 reais mensalmente. A presidente da cooperativa ACAMARU (Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis da Nova Rússia), Ilza Mara Mendes, diz que atualmente os catadores recebem em média R$800 reais uma vez que teve um aumento significativo na quantidade de material reciclável destinado a essas associações.

Apenas do material recebido através da Feira Verde, cada uma dessas associações recebem em torno de 50 toneladas de material reciclável. Da coleta seletiva, recebem em média 3.200kg por semana, quando antes recebiam média de 1.500kg.


Ao visitar a cooperativa ACAMARU na manhã de sexta-feira, a equipe do Periódico presenciou algumas irregularidades no ambiente de trabalho. Os funcionários contavam apenas com a proteção de uma luva e bota, sem máscaras, aventais e óculos e o trabalho era feito todo de forma manual. Foi observado que a associação não contava com a presença de uma esteira para facilitar a seleção dos materiais e as catadoras, predominantemente formado por mulheres, eram obrigada a carregar quilos de material por conta própria.

Com a falta de esteiras que facilitem o trabalho de seleção, as catadoras são obrigadas a carregar quilos de material por conta própria.

Mais tarde no mesmo dia, a secretária do meio ambiente quando questionada sobre as condições de trabalho relatadas, declarou: “eles tem todo o material, muitas vezes eles não querem trabalhar na esteira, eles preferem pegar o material diretamente do ‘bag’ (...) como eles querem trabalhar é responsabilidade deles”.

 

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