Em meio a tentativa de redução da Escarpa Devoniana, projeto de desenvolvimento turístico da região é deixado de lado. Pesquisadores buscam dar subsídios científicos para viabilizar o geoparque. Foto: Gabrieli Oliveira.
O projeto de diminuição da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana de 392 mil hectares para 126 mil hectares trouxe visibilidade para o debate sobre políticas ambientais no Paraná. O projeto nº 527 de 2016 diminui em 69% a área protegida. Entidades a favor da redução defendem que o perímetro estabelecido em 1992 desconsidera terras de produção agrícola e pecuária. No entanto, movimentos ambientais e políticos de oposição apontam falhas no estudo da Fundação ABC.
O deputado estadual Péricles de Mello (PT) afirma que todos os crimes ambientais praticados, desde que a APA foi criada em 1992, são justificados pelo estudo. “O estudo dialoga apenas com o interesse da produção, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) escondeu isso, mas foi ele próprio que pagou a Fundação ABC para desenvolver o estudo que beneficia projeto de parlamentares. É uma coisa totalmente absurda o Estado se prestar a esse papel” enfatiza o deputado.
A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente investiga Luís Tarcísio Mossato Pinto, presidende do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). O inquério pretende apurar se Luís favoreceu instituições e produtores agrícolas dos Campos Gerais durante o estudo feito pela Fundação ABC. A delegacia pretende checar se o IAP apoiu o trabalho da ABC. Há suspeita que o Instituto não tenha agido em prol da proteção ambiental.
Na região da Escarpa há quatro parques estaduais: Vila Velha, Cerrado, Monge e Guartelá, além do Parque Nacional dos Campos Gerais. Enquanto isso, há uma sexta proposta para a conservação de parte do patrimônio natural do segundo planalto. Trata-se do Geoparque Campos Gerais.
Segundo o geólogo e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), GIlson Burigo, um geoparque implementa a gestão do território, que conserva a particularidade geológica, junto ao desenvolvimento socioeconômico da região através do turismo. “Trata-se do desenvolvimento das regiões onde existem essas características únicas, aliado a estratégias ligadas à educação e conservação desse patrimônio geológico”, ressalta Burigo. Ele explica que o geoparque não se trata de uma delimitação de área de proteção, mas uma estratégia de gestão do patrimônio natural. Atualmente pesquisadores buscam dar subsídios científicos para viabilizar o geoparque.
Publicado no livro “Geoparques do Brasil - Propostas”, de 2012, o Geoparque Campos Gerais é um dos 37 projetos elaborados pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). O projeto define um recorte restrito, constituído pelos municípios de Tibagi, Castro e Piraí do Sul, além do Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa, e o Geossítio das Estrias Glaciais de Witmarsum, em Palmeira. A proposta aponta 14 geossítios dentro do territórioa.
Para José Brilha, professor da Universidade de Minho, de Portugal, a relação dos países com suas políticas públicas influencia o desenvolvimento dos geoparques. "Há países em que a legislação existe e apoia esse tipo de iniciativa, e outros em que a sociedade tem uma tradição de trabalhar e se envolver sem esperar o Estado impor determinado tipo de lei. Ela própria cria um conjunto de dinâmicas para ser implementadas no território", afirma Brilha.
A proposta do geoparque não foi bem aceita por grandes produtores agrícolas e agropecuários. Burigo, um dos autores da proposta, conta que articuladores contrários defendem que os Campos Gerais tem uma vocação agrícola e não possui espaço para o turismo na região.
O representante do setor de Ciências Naturais e Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO), Massimiliano Lombardo, ressalta a importância de empresas atuantes em territórios de geoparques desenvolverem ações em favor da conservação ambiental. “Reconhecer que há impactos nocivos ao meio ambiente é o primeiro passo”, afirma Lombardo.
Durante o IV Simpósio Brasileiro de Patrimônio Geológico, realizado na UEPG, entre os dia 9 e 14 de outubro, a CPRM identificou no Brasil 37 áreas propícias para criação de geoparques com relevância internacional, de acordo com os critérios estipulados pela UNESCO. Houve ainda a apresentação de outros 11 projetos de geoparques dentro de todo o território nacional.
O que é um geoparque?
O conceito de geoparque trata-se de uma política de gestão de áreas onde há formação geológica única, que evidencia a história geológica de uma região. São locais onde se encontram sítios geológicos, como o Parque Estadual da Vilha Velha, sítios paleontológicos e formações rochosas, de relevo, solo e hidrografia. O patrimônio natural abiótico destas regiões é gerido de forma que envolva a comunidade local através do turismo, educação e conservação do ambiente.
O Primeiro Geoparque surgiu na Alemanha na década de 1980. Nos anos seguintes foram criados geoparques na Europa e China. Em 2004 a UNESCO criou a Rede Mundial de Geoparques. Em 2017 ela conta conta com 127 parques em 35 paíse. No Brasil apenas Araripe, no Ceará, compõem a rede.
O Geoparque Campos Gerais, proposto pela pesquisa realizada por geólogos integrantes do Repositório Institucional de Geociências em 2012 é a única proposta de geoparque no Paraná.
A CPRM faz levantamento de sítios geológicos e da geodiversidade presente em cada local. A partir do levantamento há a classificação da relevância da geodiversidade, que pode ser regional, estadual, nacional ou internacional. Os critérios envolvem relevância científico, beleza, raridade, representatividade geológica, e cultura regional.
“Nós sugerimos propostas para criação dos geoparque, não cabe a nós criar o geoparque, apenas estamos incentivando. Nós quando escolhemos uma área não é somente pela geologia, a geologia tem que ser importante, porém o sítio geológico tem que ter importantância internacional” conclui Carlos Schobbenhaus do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e Coordenador Nacional do Projeto Geoparques.