A pesquisa de mestrado “As trajetórias juvenis do movimento Hip Hop e a paisagem urbana de Ponta Grossa - PR”, de Lucas Renato Adami, mostra que o Hip-Hop de Ponta Grossa desenvolve dois de seus pilares, Rap e Graffiti nos bairros da cidade. Pistas de Skate e quadras de basquete, práticas íntimas do Hip-Hop, têm se transformado em espaços usados para a reunião dos jovens ligados ao Hip-Hop. A localização próxima a ginásios poliesportivos contribui para realização das atividades. O processo de ressignificação desses espaços presentes na periferia, através de eventos, constitui marcas do Hip-Hop no espaço e na paisagem da cidade, conforme aponta a dissertação defendida por Adami através do Programa de Pós-Graduação em Geografia Mestrado em Gestão do Território, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), em março deste ano.
“Todas essas questões fazem com que os jovens frequentem estes espaços e assim condicionem uma aceitação por parte da população local”, afirma Adami, que possui graduação em Geografia. Segundo a pesquisa, o centro de Ponta Grossa carece de espaços para reapropriações por meio das grafias pois da mesma forma que um mural de graffiti é perceptível e explícito, a frequência semanal de rappers ao lado da pista de skate do Parque Ambiental também se torna uma apropriação resistente e constante, porém nem sempre explícito. A dissertação mostra que essas reapropriações e manifestações do movimento Hip-Hop acabam descobrindo espaços/lugares que são referências para afirmar a presença do movimento Hip-hop na paisagem urbana da cidade.
Para Adami, em Ponta Grossa, esses diferentes momentos são caracterizados pela intensidade de apresentações de rap. “O fato de não se encontrar dentro do eixo do mercado cultural do Rio de Janeiro e São Paulo faz do movimento Hip-Hop na cidade uma luta mais intensa por parte dos ativistas em alcançar um público para além daqueles já adeptos, em maior número, na periferia – uma questão de aceitação pela sociedade local”, afirma. Segundo Adami, muitos entendem Ponta Grossa como uma cidade “tradicionalista”, com os rappers precisando de uma luta mais intensa por aceitação, reprodução, ou por valorizarem as produções locais.
A dissertação conclui que o movimento Hip-Hop, através dos seus pilares (Graffiti e Rap) serve como um meio de expressão e saída do cotidiano monótono, além de uma forma dos jovens se expressarem e serem ouvidos pela sociedade por meio das marcas deixadas na cidade e que muitos jovens, através do rap, buscam sustento e trabalho. Por parte dos grafiteiros, alguns buscam a profissionalização e outros mantêm a prática como hobby, muito pela realidade “vandalizada” do movimento, ou seja, das ações e re-apropriações ilegais.
A VISÃO DO HIP HOP POR QUEM FAZ
O gênero Rap teve sete dos 10 álbuns mais ouvidos de 2018, segundo ranking da Billboard. Tiago Sousa, da banda ponta-grossense Apologia Sul, avalia o mercado do Rap. “O conteúdo sempre bate com a hipocrisia da sociedade dos Campos Gerais em não aceitar o Rap como relevante, enquanto as rádios tocam Rap americano que passa uma ‘autoestima’ ao público que vive sob um estereótipo que não reflete a realidade”, diz.
Uma das mulheres grafiteiras de Ponta Grossa, Jesk, afirma que há interesse em trazer a cultura para o centro por meio das rodas de rima, eventos de graffiti e outras ações, para facilitar o acesso às pessoas que circulam pelo centro. Jesk aponta diferença entre a manifestação do Hip-Hop no centro e na periferia. “Quando fazemos ações mais ao centro da cidade, sentimos uma certa rejeição da sociedade. Mas quando fazemos eventos na periferia, nos sentimos até mais à vontade. Mesmo que a gente queira levar para o centro urbano, não será na mesma intensidade”, diz.
Sousa explica que a dificuldade é encontrar espaços que enxerguem o Rap como mercado que possa ser explorado. “Isso é reflexo do conservadorismo dos proprietários e empresários, que hoje caminham cegamente nessa onda, ainda mais na nossa região”, completa.
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14/11/2018 - Da repressão à resistência, o Hip-Hop
Ficha técnica:
Reportagem: Vítor Almeida
Edição: Arieta de Almeida
Supervisão: Angela Aguiar, Ben-Hur Demeneck, Fernanda Cavassana, Hebe Gonçalves e Renata Caleffi