Apesar de não fazer parte do calendário tradicional da religião, a data é utilizada para valorizar entidades como exus e pombagira


No dia 31 de outubro é celebrado o Halloween não somente nos Estados Unidos, mas em outros países do mundo, inclusive no Brasil. Entretanto, praticantes de religiões de matriz africana, como a umbanda, utilizam a data para celebrar exus e pombagira em alguns terreiros. Tais entidades são consideradas comunicadoras entre os habitantes da Terra e os orixás, que são como os santos do catolicismo. A presidente do Terreiro de Umbanda Pai José de Aruanda, Alana Batista Costa, explica que referenciar pombagiras e exus no dia 31 tem origem mística. “A comemoração é realizada por poucos terreiros, mas serve para demonstrar a gratidão às pombagiras, visto que muitas delas em sua vida terrena foram condenadas pela lei da santa inquisição".


A pombagira é considerada um exu feminino e a mensageira entre o mundo dos orixás e a Terra. Os exus seriam os guardiões da comunicação, fazendo também a conexão entre o mundo e a vida espiritual. No Brasil, o preconceito com religiões de matriz africana dificulta o entendimento sobre a representação dessas entidades, ao associá-las ao macabro. Porém, as entidades promovem elos que estabelecem comunicação entre o mundo material e o espiritual. “São a materialização do nosso íntimo, são a garra e a perseverança de um povo que foi condenado, julgado e maltratado em sua vida terrena e, que hoje, visitam a terra para ajudar o próximo, trabalhando dentro das leis da espiritualidade”, explica Alana.

 

Entidades
Exu e pombagira, na leitura dos terreiros, são expoentes de força e lealdade, além de transmitirem a ancestralidade de um povo. Entre os exus mais conhecidos está Zé Pilintra, facilmente identificado pelas vestimentas do típico malandro com chapéu característico. Para além da camisa listrada e calça branca, essa entidade representa a força. “Eles são a força de um povo perdido e desamparado, moldado pela sociedade como o povo marginalizado, criminoso, cercado de preconceito”, destaca a umbandista. Como estão ligados aos desejos do mundo, os exus atendem aos anseios mais corriqueiros da vida. A pombagira, por exemplo, é aclamada para as questões amorosas e os outros exus atendem quando o assunto são as questões financeiras e sucesso profissional.

 

Relato
Uma antiga adepta da umbanda, com cerca de 60 anos, já pediu ao Exu Veludo, que é considerado o falante dos exus, uma ajuda para conseguir um emprego. Ela relata que quando tinha 25 anos, a mãe de santo do seu terreiro incorporava o exu. “Eu fui aprovada para um emprego em novembro, mas só queriam me contratar em fevereiro para que não pagassem férias. Pedi ajuda ao exu, e a força dele me deu confiança para pedir a contratação em novembro mesmo. E consegui”, revela a mulher que preferiu não divulgar o nome.

 

Ficha técnica
Reportagem: Cassiana Tozati
Edição e publicação: Leriany Barbosa
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli e Marcelo Bronoski

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