Crítica de Ponta #82

<!doctype html>

 

 

*|MC:SUBJECT|*

 

 

Crítica de Ponta

Produzido pelos alunos do terceiro ano do curso de Jornalismo da UEPG, o Crítica de Ponta traz o melhor da cultura da cidade de Ponta Grossa para você.

 
 
Refeições To Go 
Por Leticia Gomes

Para quem não sabe cozinhar ou trabalha e não tem tempo, a To Go Ponta Grossa é uma solução. O mercado de congelados oferece um cardápio extenso, com frutas e legumes, sorvetes, picolés, paletas, açaí, salgados, sobremesas, massas e refeições completas. 

A To Go funciona como um mercado de atacado, ou seja, os produtos são vendidos num valor mais barato que em varejo. 

Nos alimentos que precisam de cozimento, no rótulo das embalagens tem instruções de como fazer o preparo, tanto no forno quanto no microondas. Um dos produtos que a To Go oferece é o escondidinho de carne moída, que tem o valor de R$12,90, no varejo, em uma embalagem de 500g. No mercado, o mesmo escondidinho é vendido a R$18,99. 

Além da diferença no preço, o escondidinho da To Go parece que foi feito em casa, ao contrário dos produtos de algumas marcas vendidas no mercado, que têm gosto de alimento industrializado. A To Go também oferece uma seleção de produtos fit e lowcarb, com sopas detox, sobremesas zero açúcar e refeições completas de baixa caloria.

Em Ponta Grossa, o To Go funciona em três localidades: no centro, na Rua Santos Dumont, na Nova Rússia, na Avenida Dom Pedro II e em Uvaranas, na Av. General Carlos Cavalcanti.

Serviço:
Endereço: Av. General Carlos Cavalcanti, 1288C
Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 17h.
 

 

                   Um percurso pela história de PG no cemitério central

Por Luiz Zak

Criado em 1890 por moradores ilustres da época e por vereadores, o Cemitério Municipal São José ajuda a contar um pouco da história da cidade pelos seus túmulos. 
Visitar o São José não é apenas uma visita a pessoas ilustres que dão nome às ruas de Ponta Grossa ou a conhecidos que se foram, é viajar pela história política, econômica, cultural e social dos antigos moradores de Ponta Grossa.  
Idealizado para ficar fora do centro da cidade, o São José era o lugar onde enterravam os barões da época, como o Barão de Guaraúna. Hoje conhecido como nome de praça, foi um importante latifundiário, hospedando Dom Pedro I em sua casa quando o imperador passou pelos Campos Gerais. 
No cemitério também está enterrada Corina Portugal, em um túmulo rosa no meio do São José. Considerada santa pelos ponta-grossenses, são atribuídos a ela diversos milagres, principalmente às mulheres vítimas de violência. Placas de agradecimento e registros de ex-votos fazem do túmulo de Corina um lugar de devoção. 
Corina foi assassinada pelo marido em 1889 com 32 golpes de punhal. O juiz do caso, Vicente Machado, considerou a vítima culpada pela morte por tê-la acusado de trair o marido, o que foi comprovado anos mais tarde ser uma notícia falsa para livrar o assassino da cadeia.
Quem passa por fora do cemitério vê a grandiosidade do mausoléu maçônico de arquitetura européia, demonstração da presença desta organização na cidade. A ligação com etnias estrangeiras, presente nos túmulos por meio da arquitetura e de inscrições em diferentes idiomas, evidenciam a riqueza desse local e sua diversidade cultural.
A fé é um elemento muito presente no lugar, representada comumente pela cruz, às vezes acompanhada da estrela, símbolo da esperança. As lápides, mausoléus ou gavetas em sua maioria têm a representação de Jesus Cristo a caminho do calvário ou na cruz. Segundo os dogmas católicos, a imagem representa o fim dos pecados e o arrependimento. 
No túmulo do Coronel Manoel Ribas a figura da fé é a que mais se destaca no cemitério. No mausoléu da família a representação da Virgem Maria intercedendo pelos mortos em busca da vida eterna destaca-se de longe.
O cemitério não é marcado apenas pela sua grandiosidade como patrimônio e memória de personagens que viveram na cidade, mas também pelas práticas dos seus frequentadores. Garrafas de vinhos espalhadas e velas escuras revelam que, além de um espaço de devoção aos mortos, o lugar é usado para encontros e rituais.

 
Serviço:
O Cemitério Municipal São José está localizado na Rua Professor Colares, no centro de Ponta Grossa. Aberto das 7 às 18 horas.
 

 

                     O quanto os olhares podem dizer sobre uma pessoa?

Por Guilherme Bronosky

“O segredo dos seus olhos”, filme de Juan José Campanella e vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, foi o primeiro filme na Mostra de Cinema Argentino exibida na Mansão Vila Hilda, em Ponta Grossa.

A história do filme trata de um promotor de justiça da Argentina que fica obcecado por um caso específico e, após a sua aposentadoria, deseja escrever um livro sobre o tema. O filme acontece em dois momentos da história argentina: no período entre o último mandato de Isabelita Perón e a instalação do Processo de Reorganização Nacional, que nada mais é do que a ditadura militar de 1976; e o segundo momento nos anos 1990, vinte anos depois do caso.

O caso que marcou Espósito é de um estupro seguido de assassinato, a cena acontece nos primeiros minutos do filme e dá a sensação de que o filme continuaria com violência e cenas fortes até o final. Mas não é isso que acontece. Entre as cenas do caso e de todos os envolvidos, Espósito lida com o colega de trabalho alcoólatra, a chefe por quem guarda sentimentos amorosos e o viúvo da vítima.

Espósito tem problemas com o chefe de polícia, que logo após descobrir o corpo da vítima, já acusa dois operários que estavam trabalhando no mesmo prédio em que ela foi encontrada, porém Espósito não acredito e acaba brigando com o chefe de polícia. E assim ele começa a investigar o crime por conta própria. Durante a investigação, Espósito encontra fotos da moça em sua cidade natal, e nelas ele observa um homem que em todas as fotos olhava para ela, e assim ele começa a investigar Isidoro.

Isidoro é capturado após uma série de investigações e também discussões sobre ‘la pasion’ dos homens, que no caso de Isidoro era o Racing, um time de futebol argentino. Mesmo capturado e condenado, o homem é solto para trabalhar como infiltrado do movimento de esquerda contra a ditadura, ele foi solto justamente pelo desafeto do Espósito, o chefe de polícia.

Espósito se vê na necessidade de sair de Buenos Aires após o assassinato de seu amigo Sandovál. Após 25 anos, Espósito volta e se reencontra com Irene Hastings, sua chefe, com quem compartilhava sentimentos. No reencontro nostálgico do casal, um álbum de foto carregando a história dos dois e da repartição onde eles trabalhavam aparece, e nesse álbum uma foto chama atenção. Uma imagem que também carrega um olhar, agora o olhar de Espósito para Irene, pode-se dizer que é um olhar mais romântico, mais sincero e muito menos obcecado. Isso é um ponto positivo para a fotografia do filme, que é impressionante.

Apesar do filme prender a atenção, ele falha em conexões entre os acontecimentos e algumas lacunas são deixadas. Não dá para entender se foi a intenção do diretor deixar essas lacunas que seriam completadas pelos acontecimentos históricos da Argentina ou pela criatividade do espectador. Para um estrangeiro, o filme é mais difícil de se entender e seguir os fatos, mas de qualquer forma trata-se de uma obra original, com cenas e histórias marcantes.
 

Folhas de vida, amores e preconceito
Por Patrícia Guedes

Lançado pela Companhia das letras em 2017, o livro “O Clube dos Jardineiros de Fumaça” é o terceiro livro da escritora contemporânea Carol Bensimon e foi vencedor do prêmio Jabuti de 2018 na categoria de Romance.

O livro conta a história do gaúcho Arthur, um professor de história que muda completamente de vida quando sua mãe é diagnosticada com câncer no útero. Para ajudar no tratamento da mãe, Arthur resolve começar a plantar maconha. No entanto, ele é denunciado, perde seu emprego e também qualquer oportunidade futura na carreira.

Depois da morte da mãe, Arthur deixa Porto Alegre para recomeçar sua vida na Califórnia, mais especificamente no condado de Mendocino, onde as terras são baratas e férteis para as idéias utópicas do brasileiro. Aos poucos, ele vai se envolvendo com os personagens e as histórias do local. É nesse momento que ele conhecerá o Clube dos Jardineiros de Fumaça.

A autora consegue abordar inúmeros temas na construção dos personagens, desde relacionamentos poliamor e uso de aplicativos, até o movimento hippie da contracultura americana da década de 1960.  

A ambientação do livro também é digna de elogios. A autora conta em detalhes e sensibilidade as características dos locais e dos personagens, além de trazer uma visão sobre o mundo feminino. É impossível não se envolver com as mulheres que aparecem ao longo da história - como a aposentada Sylvia e a australiana Tamara. 

Embora tenha um protagonista fixo, a trama é contada em terceira pessoa e não se demora exclusivamente na história de Arthur. Em capítulos curtos e não numerados, Carol Bensimon consegue contar histórias fictícias, baseadas em pessoas reais, o que dá à narrativa uma linguagem prazerosa e moderna.

A autora traz no livro uma importante pesquisa e coleta de informações, e não deixa de tratar discussões relevantes que contrastam com o tema da maconha medicinal, como a transformação da maconha em mais um braço do capitalismo e o consumo da planta no mercado ilegal.

Bensimon escolhe um tratamento interessante para o tema, pois na obra não há lados ou defesas, apenas a verdade por trás dos mitos, preconceitos e paixões que envolvem a discussão sobre a legalização da maconha. 

 
Serviço:
O próximo encontro do Clube de leitura Penguin - Companhia das Letras será realizado dia 23 de novembro, às 10h, na Av. Vicente Machado, n° 779 (Verbo livraria). O livro a ser debatido é Carta a D. do escritor André Gorz.
Mais informações pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Reparo do Desejo
 
Por Veridiane Parize

A peça “Processo de Conscerto do Desejo” foi apresentada por Matheus Nachtergaele no encerramento do 47º Festival Nacional de Teatro (Fenata). Acompanhado pelos músicos Luã Belik no vilão e Rafael Belo no violino, Matheus recita poesias escritas por sua mãe, Maria Cecília, que morreu em 1968.

O monólogo retrata momentos pesados, em que as poesias falam de tristeza, como quando ele encena uma mãe segurando o filho recém-nascido e ela recita tudo o que o bebê faz e todos os dias se repetem, ficando exaustivos.

Quando o espetáculo fica com um clima muito melancólico, Matheus anima o público com piadas irônicas e músicas, como no final em que ele faz toda a plateia levantar e dançar uns com os outros, como numa valsa alegre. Os músicos têm papel importante, pois o ator relembra e canta músicas que a mãe gostava.

O título da peça se refere a conserto com “s” e se confunde com concerto com “c”, como se o artista quisesse restaurar o desejo por meio de um espetáculo musical. Maria Cecília se suicidou quando Matheus tinha apenas três meses de idade. As poesias que deixou permitiram que o ator conhecesse a mãe, mesmo sem ter lembranças próprias dela, e realizasse uma homenagem por meio do teatro.
 
Produzido pela Turma C - Jornalismo UEPG