Crítica de Ponta
Produzido pelos alunos do terceiro ano do curso de Jornalismo da UEPG, o Crítica de Ponta traz o melhor da cultura da cidade de Ponta Grossa para você. Nesta edição especial você confere cinco perfis dos mais variados tipos de personalidades dos Campos Gerais.
Cultura chopper e sensibilidade na história de Luiz Guilherme Divardin
Ao caminhar pela avenida Balduíno Taques, em frente ao ginásio Oscar Pereira, um jovem rapaz se depara com algumas bicicletas antigas à venda por preço baixíssimo. Ao conferir os modelos, se interessa por uma Monark Brisa que custava 50 reais. Sem condições de uso, o jovem Luiz Guilherme Divardin se empenhou em reformar a bicicleta, aprendizado que começou a ter com um primo. Seria o começo de um longo envolvimento com a customização e a cultura das bicicletas antigas.
Foto: Acervo Pessoal de Luiz Guilherme Divardin
Mesmo com uma bicicleta de marchas comum para uso diário, o interesse pelas mais antigas chegou ainda na infância para Diva (um dos vários codinomes). Seu avô possuía uma com freio no pedal e o antigo costume de pedalar “por dentro” do quadro, para poder alcançar o pedal quando criança, foi vivido em plenos anos 1990 pelo jovem garoto. Para Diva, essa é a mais antiga lembrança envolvendo as bicicletas.
Aos catorze anos, Diva dá início ao principal projeto que o acompanharia nos próximos anos: decide transformar a ortodoxa bicicleta de marchas em uma chopper, um estilo de customização que ganhou popularidade após o lançamento do filme Easy Rider, em 1969. O processo inicia com o prolongamento do garfo (feito com a ajuda de um mecânico amigo) e, por um tempo, rodou com aro 26 na dianteira. Ao sentir a necessidade de mudança, Diva logo colocou uma roda aro 20 e adaptou as posições de banco e guidão. Não satisfeito, Diva cortou a caixa de direção e soldou inclinada, mesmo sem gabarito, para finalizar a customização.
Em 2010, além da troca das alavancas de marcha, Diva conta que a chopper passou por uma revitalização e ficou mais “utilizável”. Pintou de verde militar, trocou rodas, cubos e raios e passou a usá-la com freqüência. E, assim, Diva embarcou em uma primeira ida para Curitiba. Motivado pela ideia de um amigo (e para ver um show em Curitiba), Diva conta que a hipótese rondou a cabeça por uma semana e, por fim, resolveu ir. Empurrando em subidas, embalando em descidas, Diva chegou à capital movido apenas por duas rodas e uma inquieta sede por vivências.
Foto: Acervo Pessoal de Luiz Guilherme Divardin
Em 2013, a chopper recebe finalmente uma motorização. Por um breve tempo foi toda preta (em referência a Mad Max) e, logo em seguida, recebeu um visual definitivo como réplica da moto usada por Peter Fonda no já mencionado filme Easy Rider. O quadro foi pintado de prata e o tanque recebeu as cores da bandeira dos Estados Unidos. Formado em Artes Visuais pela UEPG, Diva expôs a bicicleta com a customização em uma exposição na galeria da Proex.
A dedicação pela customização e o interesse visceral nas bicicletas se reflete em cada história contada por Diva: cada ocasião é lembrada com nitidez e riqueza de detalhes por ele, desde roupa que estava usando a pneus furados durante um percurso. Dono de personalidade leve e amorosa, Diva é facilmente associado pelos amigos a tudo que ama e à maneira como relata as próprias experiências. Na atual realidade regida por instantaneidade de informação, Diva é uma reserva de calma e sensibilidade em meio ao caos (ou simplesmente uma bicicleta em trânsito de metrópole).
Por Cássio Murilo
Uma volta às aulas aos 50 anos
Nascido em Ponta Grossa, em 16 de dezembro de 1962, Éder Carlos começou os estudos em 1969, alfabetizado em casa pela mãe, uma ex-professora de escola rural. Ela fez o mesmo com os quatro filhos. Assim, desde a infância, Éder foi incentivado a estudar. Com 15 anos, ele começou a trabalhar atuando em diversos setores, desde comércio a indústria metalúrgica, mas conta que sempre gostou muito de ler, lia uma média de quatro livros por semana, além de dezenas de revistas em quadrinhos.
Éder no estúdio da Rádio Santana no Jornal da Manhã. Foto: Acervo pessoal de Éder Carlos.
No final de março de 1982, Éder relata que ouviu numa rádio que estavam selecionando candidatos para repórter e redator em um jornal da cidade. Mesmo sem ter as qualificações que pediam, ele acabou selecionado e encaminhado ao Jornal da Manhã, fez o teste e foi aprovado. Depois da aprovação, Éder voltou para a casa e ficou o dia todo lendo jornais. No dia seguinte, 1 de abril de 1982, saiu fazer a primeira reportagem, com o ex-vereador, Beraldo Brito Costa, presidente da – Associação Pontagrossense de Amparo à ‘Criança Defeituosa’ (APACD), como era chamado na época. A matéria foi publicada no final de semana seguinte, ocupando uma página inteira.
Éder no estúdio da Rádio Santana no Jornal da Manhã. Junto com o Adail Inglês, entrevistando o detetive Edson Stadler, na época chefe da seção de Furtos e Roubos da 13ª Sub Divisão Policial. Foto: Acervo pessoal de Éder Carlos.
Desde então, Éder não parou mais, começou a estudar teologia e, em 1994, se formou. Em 2013 se formou em uma segunda graduação: Gestão Pública. E em 2019 começou a terceira, em Jornalismo na UEPG. Com o gosto por pesquisa em 2021, Éder é aprovado no Mestrado em Jornalismo, que cursa atualmente. Aos 59 anos, Éder pretende se dedicar aos estudos e aprender mais. Ele relata que, na década de 1980, há 40 anos, aprendeu jornalismo na prática e hoje tem a oportunidade de estudar teorias e entender melhor a profissão. Quando perguntado sobre o futuro, Éder diz que é incerto, mas acredita que ainda pode colaborar muito e espera pelo que ainda está por vir.
Por Evelyn Paes
A UEPG e a vida pelos olhos de Tere
Assim como tudo na vida, momentos e histórias envolvem personagens que participaram tão ativamente do enredo que podem até transmitir certas vivências melhor do quem as teve ou que elas propiciaram. Esse é o caso de Teresinha Semkiv, 59, há quase 29 anos trabalhando como servidora na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Tere como é conhecida, e carinhosamente chamada, por quem com ela conversa nos intervalos de aulas e trabalhos, está atualmente atuando nas bibliotecas dos campi da UEPG, de segunda a sexta, das 10h às 21h.
A experiência e o uso do UEPG
Tendo passado por diversas funções dentre seus anos de UEPG, seu período de maior permanência em uma função foi entre 2002 e 2015, quando foi chefe do Restaurante Universitário (RU) no Campus Central da universidade, lá era responsável por organizar e servir diariamente o almoço para a comunidade universitária. E o que era para ser um momento de felicidade acabou sendo marcado com tristeza, pois, no mesmo período que assume o cargo no restaurante, nos mesmos dias, têm a notícia da piora do quadro de saúde do pai e consequente falecimento. Mas a vida tem de seguir. E ela seguiu, por bons anos foi a responsável pelo restaurante e tem como orgulho o bom relacionamento com sua antiga equipe de funcionários.
Tere também aproveitou cada momento de tempo livre para se aprimorar, ainda em 1998 e 1999 terminou seu ensino médio, via supletivo, no antigo colégio São Luiz. Entre 2001 e 2012 passa no vestibular em três graduações da universidade: história, economia e letras. Não finalizou nenhuma. Sendo a de letras a que mais tempo cursou, durante três anos. Sua paixão era o espanhol e por isso insistiu pela formação.
O convívio com alunos e filhos
Os alunos são tratados sempre com carinho e afeto por Tere, que lembra com alegria das diversas turmas e pessoas que conheceu naqueles anos. Assim como os colegas de RU, muitos deles que ainda trabalham na mesma função, outros entretanto já se aposentaram ou até faleceram. Tere fala de turmas específicas, como algumas do curso de direito, muito animados e espontâneos, recorda.
O convívio e entrosamento com os alunos foi evoluindo ao longo dos anos. Como gosta de dizer, Tere tem facilidade em fazer amizades, mas entender em muitos momentos o que os alunos passam e sentem era difícil para ela. Nesse momento a relação com o filho Rafael foi preponderante para seu amadurecimento e no trato e acolhimento aos alunos. Mãe de três filhos, Rafael é o filho do meio, o artista da vida de Tere, sua inspiração e motivo de amor imensurável. Apesar da ótima relação que sempre tiveram, foi somente aos 21 anos que Rafael se assumiu gay para sua mãe, um momento descrito com muito carinho e doçura por ela. Desde então, tanto a relação com Rafa, quanto a com os alunos só evoluiu, assim como o entendimento de cada situação e de cada momento.
Para Tere os alunos continuam os mesmos nesses quase 30 anos, sempre com as mesmas preocupações e atitudes. Já a universidade, ah a universidade, essa não tem melhorado. Tem piorado, por ter passado por diversos setores nesses anos, Tere acompanhou muitas mudanças e precarizações nas instalações e teme pelo futuro da instituição.
Próxima de se aposentar, não vislumbra uma continuidade após o período necessário. Não se sente valorizada e deseja voltar a atuar no arquivo, órgão extinto da universidade e responsável por realizar a manutenção de documentos dos mais variados cursos e anos, para finalizar seu percurso.
Para quem fica e para quem ainda passará, fica a vivência de alguém que já experienciou muito o que é a comunidade e o convívio universitário. “A UEPG vai estar aqui, sempre vai. As pessoas mudam, se vão e apesar de tudo tenho muito orgulho em dizer que construí e conquistei tudo o que tenho através da UEPG”.
Uma vida pelos olhos de Tere.
Por João Gabriel Vieira
O ensino público ponta-grossense na história do Regente Feijó
Um presente de aniversário pelos 95 anos de história? Foi uma briga generalizada, em frente ao prédio principal do Colégio Estadual Regente Feijó que marcou a primeira semana de abril de 2022 na Cidade. Fundado em abril de 1927, o ‘Regente’ registra a satisfação de formar seguidas gerações de famílias pela garantia do ensino público em Ponta Grossa.
Foto: Leonardo Duarte
As histórias marcadas são muitas. Nos anos de 1950, ainda na época do Ginásio, quando meninos estudavam pela manhã e meninas pela tarde, já começavam as traquinagens de adolescentes. Os trotes eram pesados com os calouros, que logo ficavam sem uniformes, isso porque os veteranos sempre os sujavam de terra. Não dá para deixar de rememorar os namoros entre os alunos, as meninas com saias aos joelhos davam um jeito e jogavam chamegos aos meninos. Chamegos que custavam uma entrada no então existente Cine-Império, demolido em 2014 por risco de desabamento.
De volta aos anos recentes. Até 2019, os horários do intervalo eram os mais desordenados. Dois pavimentos e quase mil alunos ocupando o pátio do colégio. O amarelo da quadra central perde a cor original e se torna vermelho como os uniformes. São vários os gritos, conversas e fofocas. No horário do recreio não se pode esquecer da fila da cantina que somente quem estudou na instituição sabe o que realmente é a disputa por “um lugar na fila do pão”. Os inúmeros estudantes buscando uma cadeira em um refeitório que não cabe sequer 100 pessoas.
As gerações não são marcadas apenas pelas emoções de adolescência, mas também por professores que deram aulas aos pais dos atuais estudantes do colégio. As lembranças rememoradas pelos próprios professores com orgulho em ver ex-alunos com êxito nas escolhas da vida.
Por Leonardo Duarte
Um passeio pelo mundo mágico da poesia de Edi Tozetto
A escritora Edi Tozetto ganhou notoriedade em Ponta Grossa pela vasta produção de poesias e teatros no início dos anos 2000. Nascida em 05/10/1956 , a poetisa entrou no mundo da literatura de forma acidental. Ao ajudar a filha Débora Bueno Tozetto em uma tarefa escolar, Edi enviou uma poesia para a filha recitar na escola. A professora responsável pela atividade demonstrou interesse pela leitura e solicitou mais textos da autora que, naquele momento, escrevia apenas de maneira informal e particular.
"Sou pequena, sou criança, sou menina sorridente" , diz Edi Tozetto. Foto: Acervo Pessoal da família de Edi Tozetto.
As poesias de Edi Tozetto eram usadas durante as aulas no Colégio Sant'Ana, instituição onde a filha Débora estudava no período. O interesse pela escrita da autora tomou proporções maiores e a diretora Irmã Maria Luiza chamou a poetisa para lecionar no colégio. Edi trabalhava com Ciências Contábeis no período e iniciou o estudo em Letras quando decidiu mudar o rumo da vida.
Em 2002 Edi Tozetto lançou o primeiro livro de poesias (Fazendo Ecoar), que tem 100 poemas, entre os quais "Tilivisão", "Genésio", que ganharam adaptações para teatro, e "Sou Criança", primeiro poema escrito pela autora aos 30 anos de idade. A trajetória literária, no entanto, surgiu no ensino primário por incentivo da professora, onde o gosto de recitar obras da Cecília Meireles se tornou desejo de escrever os próprios poemas.
Edi trabalhou com o ensino de língua portuguesa, poesia e teatro de 2000 até 2010 no colégio Sant'Ana. Ao longo do período, publicou cinco livros e mais de 800 poesias. Fez parte da academia ponta grossense de letras, palestrou em inúmeras escolas e ganhou diversos prêmios e declamou em concursos. A escritora teve os poemas recitados em Jogos Estudantis Municipais, competições de poesia, teatro e shows de talentos.
Hoje, aos 66 anos de idade, Edi está se preservando: aposentou, após passar por um aneurisma cerebral seguido de AVC. A autora ainda escreve em momentos especiais e lembra com felicidade da própria história e escolha pela escrita. o momento mais marcante da história? “Foi o início da carreira”, diz, quando foi incentivada e apoiada por inúmeras pessoas, amigos, familiares e leitores.
Por Marcella Panzarini Silva
Serviço:
Livros: Fazendo Ecoar (2002); No Mundo Mágico da Peraltice (2005); No Amanhecer de Um Dia Novo (2005); ; No Mundo Mágico da Imaginação (2008); Quero ser Feliz (2008)
Cartilha: Meu Brasil é Assim (2007); Reforma Ortográfica em Forma de Poesia (2009)
Acesso: Recanto das Letras