Crítica de Ponta
Produzido pelos alunos do terceiro ano do curso de Jornalismo da UEPG, o Crítica de Ponta traz o melhor da cultura de Ponta Grossa para você!
O CONSUMO COMO FORMA DE PERTENCIMENTO E EXPRESSÃO
Ao entrar em uma loja, quem nunca se deparou com um objeto baseado em um filme ou série favorita? Seja uma caneca, um caderno ou outro objeto? A loja de departamento Riachuelo, por exemplo, adota a estratégia de lançar camisetas baseadas em filmes e séries, como na série da Marvel Loki, lançada na plataforma Disney Plus, e nos filmes da franquia Star Wars. Pois bem, pode-se perceber que quando associado à produções cinematográficas, o consumo já não se limita apenas em assistir algo.
Produtos baseados em filmes e séries mostram a necessidade das pessoas em fazer parte de grupos sociais | Foto: Ana Barbato
Os filmes possuem sentido dentro do contexto social em que são assistidos e, por isso mesmo, ganham significado por parte do público. E a lógica capitalista, que visa o lucro, comercializa mercadorias baseadas em produções que, consequentemente, também adquirem valor simbólico. É por essa razão que os objetos têm importância pois, ao comprar um objeto, o consumidor adquire algo significativo, que promete integrá-lo em um grupo social.
Por exemplo, quando um fã de Senhor dos Anéis compra e usa um anel baseado no filme, ele indica às pessoas que conhecem que faz parte do grupo de fãs da franquia. A situação mostra que o indivíduo encontra uma forma de expressão e, pelo consumo, também reflete a necessidade das pessoas em fazer parte de algo. Isso pode ser melhor demonstrado através da teoria das trocas simbólicas, apresentada pelo ex-professor francês Pierre Bourdieu, que explica como os grupos sociais investem naquilo que os diferencia dos outros, desejando transmitir uma identidade própria.
Porém, quanto mais as pessoas compram, cada vez mais se produz. Esse é um comportamento reproduzido de forma constante, seja pelas empresas quanto pelos próprios consumidores. Talvez, por isso cabe às pessoas avaliar concretamente se alguns hábitos de consumo são realmente necessários.
Por Ana Barbato
Serviço:
Confira artigo de Maria Luiza Laufhütte e Alberto Cipiniuk (2016) sobre o consumo relacionado ao Campo do Cinema - “Um bonde chamado consumo, um objeto chamado desejo”
A IMAGEM REINVENTADA DO SACI EM LIVRO INFANTIL
Na obra de João Paulo Hergesel, a figura folclórica tem que lidar com a dificuldade de encontrar um emprego | Foto: Maria Helena Denck
Cabeleireiro, ilusionista, estilista e professor de meditação. Essas são apenas algumas das profissões que o Saci-Pererê, figura conhecida do folclore brasileiro, tenta encontrar no livro Os empregos do Saci, de João Paulo Hergesel. Na história, após ter a casa queimada, o Saci parte para uma cidade próxima em busca de abrigo. Chegando lá, ele é informado de que terá que encontrar um emprego se quiser ter dinheiro para sobreviver. A partir daí começa a aventura do personagem principal, tentando não se meter em confusão em todas as profissões que consegue achar.
Apesar da figura mitológica e da linguagem simples, o livro está longe de tratar de tópicos exclusivamente infantis. Em meio às figuras coloridas e às confusões do Saci, é possível identificar temas como a destruição florestal, a dificuldade de encontrar um emprego e manter a criatividade na sociedade atual e o esquecimento coletivo da sociedade quanto às figuras mitológicas do nosso país. O autor utiliza elementos infantis para passar uma mensagem para crianças e adultos: não está fácil para ninguém, nem mesmo para o Saci.
A leitura é breve, tranquila e divertida. As travessuras e armações causadas pelo personagem trazem leveza e identificação para uma figura já conhecida no universo literário. Apesar do reconhecimento, a obra não deixa de explorar o fato das figuras mitológicas estarem lentamente desaparecendo do imaginário do Brasil, dando espaço para personagens modernos e, às vezes, até contemporâneos, como os vampiros e os dragões.
Um destaque especial no livro fica para a ilustração colorida, e ao mesmo tempo discreta, de Alessandro Fonseca. Todos os desenhos que ilustram a história se encontram na parte inferior das páginas, logo abaixo do texto, e ajudam a dar uma imagem familiar e animada para a história do livro.
Os empregos do Saci reinventa o personagem, sem fazer com que ele perca a essência da lenda. Se você quiser conferir a história, basta passar em uma das estantes do projeto Pegaí Leitura Grátis, encontradas em diversos ambientes da cidade, e retirar um exemplar. A primeira edição do livro é de tiragem exclusiva do projeto, e foi lançada em maio de 2022.
Por Maria Helena Denck
Serviço:
Os empregos do Saci
Autor: João Paulo Hergesel
Ilustrador: Alessandro Fonseca
Disponível gratuitamente nas estantes do projeto Pegaí Leitura Grátis
A IRONIA DE UMA 'PRAÇA PRIVADA' EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA
De acordo com o dicionário Michaelis, a palavra ‘praça’ significa lugar aberto e espaçoso, em geral cercado de casas ou espaços comerciais. Em Ponta Grossa, nem todas as praças recebem o mesmo significado. Um exemplo é a praça Santos Andrade. Localizada no centro da cidade, a Santos Andrade é cercada pelos muros da UEPG, parecendo ser propriedade da instituição. Ao pesquisar a localização do campus central, inclusive, o endereço é Praça Santos Andrade nº 1, Ponta Grossa, Paraná.
O terreno, que deveria ser público e de uso comum, fica restrito à universidade e às pessoas que ali estudam. Já em 1970, quando a UEPG era somente uma criança, os muros já delimitavam o espaço da praça, que naquela época, servia como estacionamento. É no mínimo irônico uma universidade pública tornar privada uma praça que, por sua vez, também deveria ser pública.
Praças Santos Andrade é frequentada, em grande maioria, por universitários e docentes da UEPG | Foto: Isadora Ricardo
Na cidade, os demais espaços seguem os critérios estabelecidos pelo dicionário para serem consideradas praças, e em Ponta Grossa existem várias. Mas localizadas na região central, próximo à universidade, não se encontram com facilidade. Na pandemia, quando o isolamento social ainda era presente na cidade, a recomendação para sair de casa, era ficar de máscara e frequentar somente espaços abertos e arejados. Neste caso, a Santos Andrade é e deveria ser uma opção, mas como o prédio da UEPG ficou fechado, consequentemente a praça também estava.
Vale lembrar ainda o descaso com o local, que hoje, parece estar abandonado, com árvores sem poda e plantas crescendo sem cuidado. E mesmo parecendo ser propriedade privada da Universidade, a responsabilidade pela manutenção da praça é do governo estadual, inclusive porque a UEPG é pública. Falta cuidado, principalmente, mas falta também, retomar o conceito de praça pública, para que a Santos Andrade possa ser frequentada por todos interessados, e não somente pelos estudantes, como hoje acontece.
Por Isadora Ricardo
Serviço:
Praça Santos Andrade, Centro, Ponta Grossa-PR, 84043-450
DESCASO COM SEXTA ÀS SEIS DESMOTIVA BANDAS PARTICIPANTES E ESPECTADORES
As informações forncidadas pelas redes sociais da Fundação Municipal de Cultura dificultam a divulgação do evento | Foto: Reprodução
Um dos eventos culturais mais populares de Ponta Grossa, sexta às seis, retomou suas atividades presenciais neste ano, depois de ficar mais de dois anos suspenso devido à pandemia. Com a presença de bandas locais e bandas convidadas, o sexta às seis apresenta shows de música e entretenimento gratuito à população da cidade. Contudo, essa informação nem sempre chega a todos por ineficiência da organização.
A pouca, ou quase inexistente, divulgação dificulta o acesso e aumenta cada vez mais a defasagem que já acontece no evento. Se a população não sabe as informações básicas como as bandas estarão motivadas a participar? Sem plateia o show perde sua motivação principal. A abertura do sexta às seis aconteceu no dia 8 de julho e contou com a participação da banda Destroyer Kiss, criada em 1984 e já tendo realizado mais de 1500 shows pelo Brasil. Mesmo com tamanha relevância, a banda não teve a divulgação adequada e justa, prejudicando a participação do público.
Três dias antes do show, que como de costume ocorreu no Complexo Ambiental, nenhum cartaz havia sido espalhado pela cidade com informações tanto sobre a banda quanto sobre o evento, assim como nenhum post informativo foi feito nas redes sociais da prefeitura. Na segunda apresentação, as próprias bandas fizeram artes e divulgação própria para suprir essa falta.
Por Bettina Guarienti
Serviço:
O sexta às seis acontece no Complexo Ambiental
Site: https://cultura.pontagrossa.pr.gov.br/sexta-as-seis/
ROCK PARANAENSE OU ROCK CURITIBANO?
Quando o assunto é exposição de artes visuais, a primeira coisa que vem à mente é a necessidade de se deslocar até um museu e observar as diversas figuras expostas ao longo de corredores e salas. Mas, o avanço das redes sociais possibilitou novos meios de interação e, no caso das artes, não foi diferente. O Museu da Imagem e do Som do Paraná produziu uma exposição virtual em homenagem ao Dia Mundial do Rock, com textos e imagens relatando histórias e vertentes, com enfoque no rock paranaense.
A exposição, que lembra peças de slides, conta com 12 imagens. Ela contextualiza a história do rock no Brasil, apresenta os principais compositores e bandas e, por fim, traz um panorama geral do cenário do rock paranaense, destacando momentos e os principais representantes. O layout da apresentação conta com cores que remetem ao rock; preto e vermelho, o que não foge muito do esperado e pode ser considerado padrão quando o assunto é abordado.
Mostra do Museu da Imagem e do Som do Paraná aborda história do rock no Brasil com enfoque regional | Foto: Reprodução
Um ponto em destaque na exposição é a presença de imagens da capa dos discos da época, que possibilitam conhecer o rosto dos artistas sobre os quais a exposição trata. Através destas mesmas capas é possível conhecer a personalidade dos discos, pela observação da composição de cores e estilos utilizados. Desse modo, é simples de se imaginar naquela época, procurando entre os mais diversos discos de vinil o autor de uma música favorita.
Entretanto, quando a exposição aborda a cena musical do rock no Paraná, trata apenas de Curitiba. É possível entender os motivos, porém a abordagem leva o visitante a imaginar o rock paranaense como algo exclusivamente curitibano. Talvez, representar e avaliar a produção de cidades interioranas - ou a falta delas - tenha sido uma cereja que faltou ao bolo, ou melhor dizendo, na exposição.
Por Mariana Gonçalves
Serviço:
Para ter acesso a estas e outras produções do Museu da Imagem e do Som do Paraná, acesse. O Museu fica localizado em Curitiba, na rua Barão do Rio Branco, 395. O horário de atendimento é de terça a sexta-feira, das 10h às 19h e nos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h.