Peça Tucumã e Buriti retrata as fomes da comunidade do Julião, em Amazonas

 

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Créditos: Ana Luiza Bertelli Dimbarre

 

Do que essas pessoas têm fome? Essa é a questão central para o grupo Jurubebas de Teatro, de Manaus, na peça Tucumã e Buriti: As Brocadas do Tarumã. Com muita sensibilidade e delicadeza, o espetáculo retrata a história de duas irmãs que nasceram grudadas pelo umbigo. A peça mostra os desejos e as fomes de cada uma. 

Toda trama perpassa pela comunidade ribeirinha de Julião e o Rio Tarumã, no Amazonas. O palco dá espaço à Tucumã e Buriti, e a ligação entre elas desde antes do nascimento está representada por uma corda amarrada em suas barrigas. Na peça, é expresso a todo momento a conexão forte entre ambas, visto terem crescido sozinhas ao serem abandonadas pela mãe. Além do mais, as brocadas da região fazem com que elas corram atrás para garantir o próprio sustento. 

Ao ficarem mais velhas, cada uma tem sua perspectiva de vida. Buriti sonha morar em Paris e ser uma confeiteira famosa pelo mundo, querendo dar uma vida melhor à sua irmã. Já Tucumã, sonha em ficar na própria terra e ajudar a população da comunidade com condições básicas de sobrevivência. A ideia de se separarem e a fome por sucesso de Buriti cria uma resistência em Tucumã para não deixar sua irmã ir embora. Ao mesmo tempo, Buriti não se conforma com o anseio de Tucumã em querer ficar na terra. Mas depois de muita luta, a corda entre as duas é rompida e ambas decidem que está na hora de seguirem seus caminhos. 

A peça contou com jogos de luzes e músicas que destacaram a todo momento as emoções dos personagens. O figurino, simples nos detalhes, representa muito bem o estilo característico da população da região. A interpretação dos atores é o que conquista o público. Do início ao fim, o envolvimento entre eles no palco, juntamente com o público, nos permite sentir as dificuldades que a comunidade apresenta. Por morarem próximo à região do Julião e terem convivido durante um mês com aquela comunidade, eles incorporam as brocadas e deixam explícito que suas fomes não são apenas de comida, mas de novas oportunidades e de terem voz e vez.

Por Ana Luiza Bertelli Dimbarre