Violência doméstica é o tema da peça de Michella França

 

“Eu me libertei!”. Assim é a primeira fala da personagem, interpretada por Michella França, no monólogo O que eu deveria saber se não fosse quem eu sou. A peça retrata a história de uma mulher que é vítima de violência doméstica por parte de marido e que, após 15 anos, resolve dar um fim no relacionamento abusivo. Se o tema principal já é de difícil digestão, imagina quando o espectador se depara com relatos de aborto e estupro vividos pela vítima durante as quase duas décadas de casamento. As agressões, segundo a mulher, ocorreram na própria casa. Lugar que deveria ser sinônimo de refúgio, mas que mostrou ser uma prisão.

 

DSC 0050Cenas em que personagem simula agressões físicas são o ápice da história | Foto: Catharina Iavorski 


A personagem não possui nome, visto que ela representa tantas Ana’s, Maria’s, Elza’s, Carla’s, Tatiana’s... enfim, todas as mais de 31 mil mulheres que afirmaram serem vítimas de violência doméstica. Os dados são da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, com base em levantamentos do primeiro semestre de 2022. Ainda sobre eles, ao todo, são cinco formas de violência contra as mulheres: física, sexual, psicológica, moral ou patrimonial. Todas abordadas pela protagonista da peça, conforme o relacionamento entre ela e o marido “evoluem” com o passar do tempo.


O cenário minimalista intriga quem está na plateia, pois Michella utiliza somente de uma corda e a representação do que seria uma teia de aranha para o desenrolar da história. As cores são predominantemente quentes, exceto pelo momento em que a personagem se encontra novamente presa ao seu agressor, após mais um episódio de agressões. Nesta cena, a cor muda para tons frios. É possível ver o desespero da vítima conforme a história avança, é um misto de medo, angústia e loucura. Afinal, quem não perderia a cabeça em meio a tanta violência?


Como consequência, a mulher é diagnosticada com depressão. A autoestima e a vontade de viver dão cada vez mais espaço à rotina de agressões. Após uma tentativa de suicídio, a vítima vê na vizinha um porto seguro. Neste momento, entra a corrida como medicamento para a depressão. Tanto as cenas de amizade com a vizinha como as corridas diárias não possuem desenvolvimentos, parecem estar ali somente para facilitar o fim da história. De fato, após tais elementos a história se encaminha para o final. A personagem finalmente denuncia o agressor e se vê livre dele. Se ele foi preso, ou se vai deixá-la em paz, isso ninguém sabe, nem mesmo a protagonista. Mas as amarras não as machucarão novamente.

 

Por Leriany Barbosa

 

Serviço: 

Peça: “O que eu não deveria saber se não fosse quem eu sou” – Mostra Campos Gerais do 50º Fenata (12/11/2022, 22h)

Produção e Realização: Grupo de Arte (Ponta Grossa/PR)

Direção: Michella França

Atuação: Michella França

Classificação: 14 anos

Duração: 40 minutos

Local: Cine Teatro Ópera