Apesar de promessa de negociação da recomposição salarial, liderança sindical relembra que diálogo nem sempre resulta em vitória
Em protesto contra a reforma da previdência, o governo Jair Bolsonaro (PSL) e, principalmente, para relembrar o episódio que ficou conhecido como o Massacre do dia 29 de abril de 2015, professores, alunos e funcionários das escolas e universidades da rede de ensino estadual se reuniram, na última segunda-feira (29), na Praça Santos Andrade, em Curitiba. A pauta do movimento também contemplou o congelamento salarial dos servidores públicos desde 2016.
Em 2017, o então governador Beto Richa (PSDB) congelou os gastos com servidores e os reajustes nos salários dos professores e demais servidores do Estado. O atual governador Ratinho Junior (PSD) mantém as medidas adotadas pelo “tucano” em sua gestão, congelando a reposição salarial dos servidores, revoltando sindicatos e trabalhadores.
O protesto teve início na Praça Santos Andrade e seguiu, em caminhada, pelas ruas da capital até chegar no Palácio Iguaçu, no Centro Cívico, onde representantes dos docentes e servidores foram recebidos pelo vice-governador Darci Pina (PSD). Na reunião ficou acordada, entre o governo e lideranças sindicais, a criação de uma comissão composta por representantes dos servidores, do governo e deputados para avaliar o percentual de reposição salarial.
Para o vice-presidente do Sindicato dos Técnicos e Professores da UEPG (Sintespo), Roberto Silva, não foram atendidas ainda as principais reivindicações, porém houve avanço nas negociações com o governo do Estado do Paraná. “A partir de junho, pode entrar um projeto que sairá da comissão para o reajuste no salário dos servidores”, afirma o sindicalista.
Apesar de já sinalizada a abertura para o diálogo, a luta ainda não acabou. “Ainda é incerto. Já tivemos outros governos que abriram para o diálogo e nada aconteceu”, ressalva Silva. “Dentro de 15 dias, voltam a conversar sobre a reposição salarial”, acrescenta.
O vice-presidente do Sintespo lembra também que os servidores do Paraná estão com perda salarial de 17%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “O servidor trabalha o ano inteiro e dá dois meses de salário para o governo”, afirma.
“Em maio, nós completamos um total de 17,2% de defasagem nos salários. Isso que dizer que nós trabalhamos o ano inteiro e recebemos apenas 11 meses, dando para o governo um mês e mais o 13° salário”, explica.
O protesto reuniu servidores públicos da rede estadual da educação e de outras categorias que estão afetados pela política de congelamento dos salários. A manifestação reuniu 10 mil pessoas, segundo a APP Sindicato, e 7 mil, de acordo com avaliação da Polícia Militar.
Equipe do Portal Periódico acompanhou o protesto de 29 de abril de 2019
Relembre o episódio “Massacre de 29 de Abril”
Em 2015, cerca de 200 pessoas, entre servidores públicos e alunos, ficaram feridas durante o episódio que ficou conhecido como o Massacre de 29 de Abril. Por volta das 14 horas, teve início o ataque, promovido por policiais que faziam o bloqueio para evitar o acesso à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), onde os deputados votavam o Projeto de Lei 252. Na ocasião, cerca de 1.500 policiais participaram da operação que blindou a Alep.
Com a aprovação do PL, a Lei 18.469, publicada em 30 de abril, transferiu 33,5 mil servidores com idade superior a 73 anos para o Fundo Previdenciário. Além disso, houve a autorização para que o governo retirasse R$ 145 milhões do ParanáPrevidência com data retroativa de janeiro de 2015, provocando um rombo no fundo de pensão dos servidores.
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Documentário “Massacre 29 de Abril: Ataque do Governo do Paraná aos Professores”
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Ficha técnica
Reportagem: Luiz Zak
Edição: Amanda Dombrowski e Veridiane Parize
Fotos: Luiz Zak e Maria Eduarda Eurich
Supervisão: Professoras Angela Aguiar e Fernanda Cavassana