Dificuldades de concentração, ansiedade, stress, problemas técnicos e necessidades financeiras são alguns dos motivos que ocasionam desistências e trancamentos de cursos
O ano de 2020 tem sido bastante complicado para a comunidade universitária. Por conta da pandemia do novo coronavírus, com início em março, as aulas presenciais tiveram de ser suspensas, e o modelo adotado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) foi a continuidade do ano letivo em ensino remoto. Porém, apesar de ser o mais viável para o momento, esse modelo trouxe diversos problemas para os estudantes.
Por conta de dificuldades de concentração em casa, problemas familiares, ausência de apoio técnico, necessidade financeira e complicações com a conexão de internet, por exemplo, muitos alunos acabam por não conseguir enfrentar toda essa situação e abandonam o ano de estudos. Outros até tentam acompanhar, apesar das dificuldades, mas sentem o peso dos problemas citados.
É o caso da acadêmica de Direito, Viviane de Fátima Borges. Ela relata que em alguns dias de ensino remoto, já decretou que não teria condições de seguir acompanhando as aulas. “No início, quando houve o isolamento, até consegui acompanhar as aulas por 15 dias, havia tempo para pesquisar o que tínhamos dúvida. Porém, meu horário de serviço foi mudado completamente por conta da pandemia, e aí que surgiram as dificuldades”, diz. “Eu tinha que assistir às aulas no período da manhã, às vezes à noite, isso se tornou muito desgastante. Não estava conseguindo acompanhar, nem entender”, conta Borges.
Segundo dados publicados em 27 de abril de 2020, levantados pela Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da UEPG (PRAE) juntamente com o Conselho Universitário (CoU), dos 4247 estudantes de graduação que responderam à pesquisa, cerca de 30% afirmam não possuir condições de se adaptar ao ensino a distância. Quando o assunto é saúde mental durante esse período, aproximadamente 20% dizem ter intensificado o quadro de ansiedade, enquanto 13% tiveram contato com esse quadro durante a quarentena. Outro dado bastante relevante tem relação com experiências no ensino a distância. Neste caso, 81% dos alunos responderam nunca ter tido experiência em EaD nos seus cursos.
André Luís Vivian também enfrentou problemas para assistir as aulas e precisou trancar o seu curso de publicidade. Segundo André, os principais motivos foram a falta de tempo e a desmotivação ocasionada pela pandemia. “Eu penso que é um curso prático, eu tinha consciência de que não estava aprendendo do modo correto”, frisa. “Eu preciso estar ali, prestando atenção para realmente aprender, é um curso profissionalizante, exige o aprendizado, não dá para ‘empurrar’”, finaliza André.
Com relação ao acesso a internet e apoio técnico, a pesquisa da PRAE mostra que 52% dos estudantes de graduação possuem internet Wi-fi e internet móvel no celular, 42% possuem apenas o Wi-fi, outros 5% têm acesso apenas à internet no aparelho celular e 1% não possuem acesso à rede de internet. Considerando que 1% dos entrevistados corresponde a aproximadamente 40 alunos, estes podem ter enfrentado problemas para adaptação e participação no ensino remoto.
Numa questão ligada diretamente à saúde mental dos estudantes nesse período de quarentena, os dados mostram que 40% não gostariam de ter aulas neste momento, sendo Licenciatura em História (72%), Bacharelado em Jornalismo (67%) e Serviço Social (66%) os cursos com maiores percentuais de recusa ao ensino remoto.
O psicólogo Guilherme Rodrigues explica que a dificuldade à adaptação é um fator que facilita o adoecimento mental. “Devido a ansiedade que isso gera, as pessoas entram num estado de negação, de querer evitar essa situação. Elas ficam nesse sistema de ‘lutar contra’ e isso facilita com que a ansiedade e o estresse aumentem”, explica. “Essa troca de presencial para EaD, principalmente para as pessoas que não conseguem se adaptar e colocam todas as outras coisas que estão acontecendo junto a isso, favorece ao adoecimento, à instauração de um transtorno de ansiedade, depressão, esgotamento”, diz Rodrigues.
Ainda, de acordo com Guilherme, o número de pacientes estudantes que procuram terapia contra a ansiedade e estresse causados pela pandemia e o ensino remoto, cresceu significativamente. “As pessoas falam que estão percebendo a ansiedade, chegam com os sintomas físicos também, como taquicardia, relatam dores no peito, até mesmo confusão”, diz. “Elas acabam relatando que isso aparece tanto quando se trata do momento da aula, no ensino a distância, quanto no momento em que a pessoa relembra que vai fazer essas coisas”, conta o psicólogo.
O momento se mostra bastante delicado para os acadêmicos. Apesar da alta do número de casos de coronavírus em todo o país, no dia 02 de dezembro, o Ministério da Educação (MEC) determinou a volta às aulas presenciais em instituições federais para janeiro de 2021. Porém, revogou a medida diante das diversas reações contrárias. O MEC insistiu na decisão de volta presencial das Universidades, dessa vez com data de 1º de março de 2021 e a reação negativa continua.
As universidades, no entanto, têm autonomia para decidir se retornam ao ensino presencial ou não. É necessário fazer uma reflexão sobre se é o momento para expor estudantes e professores ao risco de contaminação de um vírus que segue em crescimento de casos diários. Mais do que isso, cabe às Universidades reconhecer o ano sabático e propor alternativas que diminuam o impacto negativo do ensino remoto para professores e alunos no ano de 2021.
A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) divulgou seu calendário para 2021 com a indicação de permanência no ensino remoto, onde terá fim o ano letivo de 2020. Caso aconteça alguma mudança, a UEPG ficará encarregada de informar nos meses seguintes, porém, as aulas remotas continuarão a partir do dia 03 de fevereiro de 2021.
A comunidade acadêmica encontra dificuldades de adaptação às aulas remotas ocasionadas pela pandemia do novo coronavírus. Diversos problemas atrapalham os estudantes que, sem conseguir acompanhar as aulas, optam por abandonar o ano letivo.
Ficha técnica:
Repórter: André Ribeiro
Vídeo: André Ribeiro
Edição: André Ribeiro
Supervisão: Vinicius Biazotti, Cíntia Xavier, Angela Aguiar, Jeferson Bertolini.