Atualização realizada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) inclui no Currículo Lattes campo para registar períodos de licença-maternidade para mães pesquisadoras. De acordo com o Parent in Science, o percentual de pesquisadoras na ciência é reduzido conforme avança na carreira, sendo 55% das bolsistas de iniciação científica e 36% das bolsistas de produtividade em pesquisa.
Cerca de 78% das cientistas brasileiras são mães, e 81% consideram a maternidade extremamente negativa ou negativa na carreira, aponta pesquisa realizada sobre o impacto da maternidade na carreira científica das mulheres brasileiras. O principal problema enfrentado é a submissão de projetos, pois somente após 4 anos da gestação a pesquisadora consegue retomar os projetos. “O natural para as pesquisadoras sem filhos, conforme experiência, é o crescimento das submissões de projetos, enquanto às pesquisadoras com filhos, há um decréscimo na produção natural”, afirma a professora de Química, Christiane Borges.
A jornalista e doutoranda na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Elaine Schmitt relata que a possibilidade de registrar a licença-maternidade é importante, porém tardia. “As atividades relacionadas à esfera doméstica e de cuidados recaem às mulheres e isso apenas se soma às demandas da vida acadêmica, que também não são poucas”, afirma. Pesquisadoras mulheres apresentam mais dificuldades que os pesquisadores homens. A disparidade pode ser vista durante a pandemia, a partir de pesquisas que apontam uma queda significativa na produtividade de mulheres do mundo todo, já no mês de abril de 2020.
Desde o início do século XX, quando as mulheres se inseriram no mercado de trabalho, as pesquisadoras enfrentam desafios para conciliar o trabalho com as demandas da maternidade, aponta a jornalista Nara Souza. De acordo com a jornalista, é significativo a atualização, se considerar as questões de acesso das mulheres às oportunidades, e o tratamento dado à maternidade. “A expectativa é que as instituições de ensino superior e pesquisa ajustem o limite de tempo para a análise da produção científica, de acordo com o período que a pesquisadora esteve afastada”, diz.
Há anos, as pesquisadoras lutam pelo espaço conquistado, pois muitas relatam falta de empatia e dificuldade de voltar ao desempenho que tinham antes da maternidade. O intuito do campo, é apresentar o período em que a pesquisadora esteve afastada, para o avaliador considerar o período sem submissão de projetos. "Conseguir que quem vai analisar nossos lattes entenda qual é o efeito disso, vai ser outra luta de alguns anos'', conclui Christiane.
Pesquisa mostra área de atuação das cientistas brasileiras
Ficha Técnica:
Repórter: Janaína Cassol
Publicação: Teodoro Anjos
Supervisão: Sérgio Gadini
Infográfico: Pesquisa da Parent in Science.