Mesmo com crescente número de casos e mortes pela Covid-19, governo estadual prevê nova data para retomada das atividades em escolas

O ano letivo de 2021 na rede estadual de educação teve seu retorno adiado para o mês de maio no Paraná. A previsão foi divulgada pela Secretaria Estadual de Educação (SEED) em audiência pública realizada no dia 8 de abril. O formato escolhido pelo governo estadual para a retomada das atividades é o híbrido, em que se realiza o revezamento de alunos no ambiente escolar. Mesmo com o número limitado de alunos em sala, os professores são contrários à decisão do estado.

O professor Rafael Merhet afirma que, no cenário atual da pandemia, é inviável o retorno presencial. Ele acredita que a volta das atividades nas escolas pode gerar um agravamento dos casos de contaminação da Covid-19. O professor, que trabalha na rede estadual desde 2012, considera o retorno irresponsável tanto do ponto de vista sanitário como no de socialização entre professores e alunos e também dos próprios estudantes entre si.

Já a professora Michelle Teles destaca que o retorno ao ambiente escolar só será seguro com os trabalhadores da educação vacinados. Ela afirma que, ao seguir a lógica de imunizar a equipe de trabalho do ambiente escolar, é necessário abranger não somente professores e equipe pedagógica, mas também funcionários responsáveis pela limpeza, manutenção e segurança das escolas estaduais. A professora também destaca a importância dos profissionais serem informados de um calendário de vacinação antes da retomada das atividades.

O modelo híbrido permite que uma parte dos estudantes assista às aulas presencialmente e a outra acompanhe de maneira simultânea em casa. A intenção, de acordo com o governo estadual, é diminuir o número de pessoas no ambiente escolar e garantir o distanciamento social na pandemia. Entretanto, Michelle reforça que não houve debate da Secretaria Estadual de Educação com os professores a respeito do ensino híbrido. Ela explica que nem escolas nem professores estão preparados para dar aulas neste formato.

A professora e bióloga Eliza Viola acredita que a carga de trabalho para os professores será muito maior com o ensino híbrido e a qualidade do ensino será inferior do que o realizado de forma remota. “Na sala de aula vou estar com medo, usando máscara e face shield e o computador vai estar longe. Eu não sei se o microfone vai captar minha voz, não sei se a turma vai entender o que eu estou falando. E se o aluno não enxergar o que eu escrevi no quadro, e se a câmera não captar minha letra?” Ela explica que mudar novamente o formato de aula confunde os alunos, não permite que eles se acostumem com a metodologia do ensino remoto e implica na desistência dos estudos.

A professora, que assume turmas em três escolas diferentes no retorno híbrido, afirma que, nas semanas de preparação para a retomada das atividades, já haviam profissionais positivados com a Covid-19 e que os demais trabalhadores presentes no ambiente não foram informados. Ela também reforça que a grande maioria dos colégios de Ponta Grossa não tem salas com ventilação necessária para que o ambiente seja considerado arejado, como exige o governo estadual. Eliza ainda explica que o governo diz ter enviado equipamentos de segurança para os professores, mas que a única máscara que foi entregue tem buracos que não garantem a proteção do profissional.

Sindicato

Em fevereiro, a APP-Sindicato aprovou uma greve contra a proposta de retorno das atividades a partir do modelo híbrido anunciado pelo governador Ratinho Jr. A representante da APP-Sindicato de Ponta Grossa, Andréa de Souza, explica que o ensino híbrido é uma falsa ideia de padronização da educação vinda do governo estadual. “Esse sistema híbrido não favorece a estabilidade que a gente precisa para desenvolver o trabalho educacional”, afirma.

Andréa também destaca que o posicionamento contrário ao retorno às salas de aula da APP-Sindicato foi tomado em respeito à vida dos profissionais da educação e estudantes. A decisão também teve como base a experiência das aulas presenciais no Amazonas em setembro, relatada pelo pesquisador Lucas Ferrante, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, como o principal agravante da segunda onda da Covid-19 no estado. Ela revela que a APP está financiando o estudo do pesquisador em dez cidades do Paraná para entender os possíveis impactos da nova variante da Covid-19 neste retorno ao ambiente escolar.

A professora avalia que não é possível controlar a transmissão da Covid-19 nas salas de aula em decorrência das aglomerações cruzadas que podem ocorrer para além das atividades internas nas escolas: “Não adianta diminuir para dez pessoas em sala de aula se cada uma dessas tem trajetórias diferentes, teve cuidados diferentes, precisaram utilizar o transporte coletivo, então já estiveram em aglomerações no momento anterior ao entrar na escola”.

 A APP-Sindicato reforça que a decisão do governo do estado de colocar a educação como serviço essencial não ocorreu para avançar os professores na fila prioritária de vacinação, mas sim para atender os interesses dos empresários ligados à educação que tiveram perdas financeiras no ano passado. O sindicato também reafirma que, se o retorno às salas de aula em maio apresentar risco aos profissionais e aos estudantes, será mantida a organização de greve.

 

 

 

Ficha técnica:

Repórter: Manuela Roque

Infográfico: Manuela Roque

Edição: Larissa Onorio

Publicação: Denise Martins

Supervisão: Marcos Zibordi, Rafael Kondlatsch e Kevin Kossar

 

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