As aulas presenciais foram temporariamente suspenas, mas retornaram após vistoria de segurança nas instalações
O desabamento, em 26 de agosto, de parte do telhado do Colégio Estadual Doutor Epaminondas Novaes Ribas, no bairro Nova Rússia em Ponta Grossa, chama a atenção para o descaso com a infraestrutura dos prédios das escolas públicas do Paraná. Na ocasião, o colégio foi interditado e as aulas presenciais foram temporariamente suspensas, mas retornaram após vistoria de segurança em suas instalações.
Segundo vistoria realizada pela Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (COMDEC), também houve ruptura das vigas de sustentação do telhado da Biblioteca, Sala de Informática e Quadra Poliesportiva do colégio. Devido ao risco de queda das paredes laterais, com rachaduras e abaulamentos, essas áreas foram interditadas. A vistoria considerou que as demais dependências do prédio não apresentam risco, e, portanto, estão liberadas para o livre acesso de estudantes e funcionários, desde que sigam os protocolos de segurança.
Professor Regis Clemente da Costa, 2019 (Foto: Arquivo Periódico)
Segundo dados da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR), o Colégio Estadual Doutor Epaminondas Novaes Ribas não é reformado desde 2010, quando foram realizadas melhorias no prédio. De acordo com o professor Regis Clemente da Costa, que atua como professor na escola, a deterioração do auditório iniciou-se na rede elétrica, em 2014, com um curto circuito e um princípio de incêndio que afetou a estrutura do telhado. Ele revela que, na mesma época, a escola fez o primeiro pedido de reforma à Secretaria da Educação. Após o desabamento, a SEED-PR comunicou, por meio de nota, que pretende realizar obras de restauração nas áreas danificadas.
O presidente do núcleo de Ponta Grossa do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP), Tércio Alves do Nascimento, atribui parte da responsabilidade à diminuição dos investimentos em educação pública por parte do Governo Federal. “O Colégio Epaminondas chegou nessa situação em razão da falta de investimentos, não por omissão das pessoas que dirigem a escola”, defende. Tércio destaca a atuação da diretora do colégio, Damares Maurício, ao chamar a Defesa Civil e publicizar o ocorrido, o que possibilitou que a imprensa divulgasse o caso e, assim, chamasse a atenção da população para a deterioração da infraestrutura das escolas públicas do Paraná.
As condições precárias das instituições de ensino são ainda mais evidentes em cidades pequenas e, principalmente, em localidades rurais. O professor Josielson Rodrigues Paes, que atualmente leciona no Colégio Estadual São Judas Tadeu em Palmeira, considera que as escolas sofrem um abandono por parte do governo do estado:. “Já presenciei situações lamentáveis. Eu trabalhei em uma escola no município de Porto Amazonas que estava localizada em uma área de risco, era atingida por enchentes e tinha uma biblioteca caindo aos pedaços. Infelizmente, teve que acontecer uma tragédia de um aluno cair e quebrar a perna para fecharem a escola”, completa.
Muito além da questão da estrutura dos prédios, um dos fatores mais importantes para garantir a qualidade de ensino das escolas é assegurar uma boa condição de trabalho aos professores e funcionários. Quanto a isso, o professor Josielson denuncia que há um descaso total com os servidores das escolas públicas do Paraná:. “Já faz seis anos que os servidores não têm sequer reposição salarial. Os professores não têm um plano de carreira. Todos os nossos direitos foram praticamente cortados”, denuncia. Josielson, que é servidor do estado há 32 anos, considera que a educação pública do Paraná vem se deteriorando nos últimos anos:. “Nós estamos vivendo uma época de ilusão em que o governo diz que a educação do Paraná é excelente, porém, eu tenho percebido que as escolas estão muito carentes de materiais e de tecnologia”., lamenta.
Investigação
Um dos principais motivos para as estruturas das escolas estaduais encontrarem-se em situação precária, de acordo com Regis Clemente da Costa, foram os supostos desvios de recursos públicos destinados à construção e reformas de escolas durante a gestão do ex-governador Beto Richa (PSDB). O escândalo mencionado por Regis está sendo investigado pela Operação Quadro Negro, cujos desvios são estimados pelo Ministério Público em pelo menos R$ 20 milhões.
Ficha Técnica
Repórter: João Vitor Pizani
Edição e Publicação do Texto: Gabriel Clarindo Neto, Lucas Müller
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen