Argumento é que instituição não responde ao poder eclesiástico
Os Arautos do Evangelho, que mantêm unidades em diversos locais, como em Ponta Grossa, negam que irão fechar colégios após decreto do Vaticano relativo aos jovens que residem em suas instituições. Em meio a polêmicas e informações desencontradas, decisão da justiça de São Paulo reconheceu que a relação entre os colégios e os residentes é civil, e não eclesiástica.
Junior Rafael Gonçalves, responsável pelos Arautos do Evangelho na região sul do Brasil, explica que a organização possui instituições distintas, entre elas a Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício Arautos do Evangelho e Instituto Educacional Arautos do Evangelho (INEDAE), que administra os colégios. O Instituto é uma instituição de ensino autônoma e cívil, diferente da Associação Direito Pontifício, que estaria ligada ao Vaticano.
Gonçalves argumenta que por sua natureza jurídica, o INEDAE é submetido a autorização e avaliação de qualidade pelo poder público, não pelo Vaticano. Além disso, acrescenta que os jovens hospedados não são de responsabilidade dos Arautos. “Não temos a guarda nem tutela deles, os jovens que se hospedam são pelo consentimento e pedido dos pais”.
Histórico
Por meio de uma carta de 22 de junho de 2021, assinada pelo cardeal Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano, e enviada ao cardeal Raymundo Damasceno Assis, nomeado pelo papa Francisco como interventor para os Arautos do Evangelho, ficou determinado o fechamento dos colégios ligados à ordem.
Na carta, o Vaticano afirma que a medida busca “prevenir qualquer situação que possa favorecer possíveis abusos de consciência” contra os menores e que a decisão foi tomada “à luz das informações recebidas pela Sé Apostólica”.
A Associação de Mães e Pais de Arautos Estudantes (AMPARE) publicou uma carta aberta ao cardeal João Braz de Aviz, na qual descreve o fechamento dos colégios como “uma falsa solução para um problema inexistente”, questionando ainda porque não foram ouvidos.
A AMPARE iniciou ação judicial e, em 15 de outubro, a sentença do juiz Peter Eckschmiedt, da Comarca de Caieiras, São Paulo, decretou que “a relação entre as partes é de natureza privada e contratual, não havendo como reconhecer no ordenamento jurídico eficácia da intervenção de outro Estado, no caso a Santa Sé, sobre a relação contratual entre as partes, que não é de natureza eclesiástica”.
Arautos do Evangelho
Os Arautos do Evangelho são uma Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício, reconhecidos como “um dom de Deus, um carisma útil e necessário para o bem da Igreja e do mundo”.
A associação está presente em cerca de 78 países e é formada predominantemente por jovens. Apesar de não prestarem voto e serem considerados leigos, os membros praticam o celibato e dedicam-se ao apostolado, vivendo em residências específicas para homens e mulheres. A rotina varia entre o recolhimento, estudo e oração, com atividades de evangelização nas dioceses e paróquias, dando especial ênfase à formação da juventude.
Em Ponta Grossa, os Arautos iniciaram sua atuação em 1999, no bairro de Uvaranas. Os membros são envolvidos em atividades culturais, religiosas e pastorais, como aulas de música, teatro e esporte, que estão suspensas em razão da pandemia.
Ficha técnica
Reportagem: Daniela Valenga
Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi
Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral