Pesquisa mostra crescimento de 66,3% entre 2019 e 2021

 

A pandemia de covid-19 obrigou diversos setores da sociedade a fecharem suas portas no início de 2020 e se adaptarem às normas estabelecidas. As escolas foram as primeiras a paralisar suas atividades. A partir disso, as crianças ficaram praticamente dois anos em casa com aulas remotas.

Apenas em 2022, com o avanço da vacinação na população em geral, as escolas começaram a retornar suas atividades presencialmente. Durante a pandemia, mudanças nas formas de ensino provocaram dificuldade no aprendizado. Segundo dados da ONG Todos Pela Educação, o número de crianças de 6 e 7 anos analfabetas cresceu 66,3% de 2019 para 2021.

 

Desigualdade em números

O Brasil tem cerca de 2,4 milhões de crianças. Segundo o estudo, 40,8% são analfabetas. As desigualdades sociais e étnicas são refletidas nesses dados. A maioria das crianças analfabetas são pretas (47,4%), enquanto as brancas correspondem a 35,1% desse grupo. Os dados também mostram que, de acordo com a renda per capita do domicílio, apenas 16,6% dessas crianças residem em moradias ricas, enquanto 51% residem em regiões pobres.

 

Consequências do analfabetismo

De acordo com a psicóloga Bruna Blem Fillus, a não alfabetização na idade correta eleva o risco de reprovação, abandono e/ou evasão escolar. O problema também afeta a saúde mental das crianças, trazendo dificuldades de socialização e menores chances de denúncias de abuso.

Lais Ventura, mãe de Luisa, de 7 anos, percebeu como a pandemia afetou o ensino da filha. De acordo com ela, a filha não sabe ler e nem escrever. Durante o período de aulas escalonadas, a estudante teve problemas de interação com colegas e professores. A mãe inclusive começou a levar a criança ao psicólogo.

Segundo Lais, a professora de Luisa recomendou que a criança frequentasse as aulas presencialmente, pois percebeu uma maior dificuldade com a adaptação ao online. “As escolas e professores tiveram um esforço de preparar as aulas para o ensino remoto, seja pelo Google Meet ou plataformas digitais. Porém, as crianças não têm a concentração necessária para aprender, e os pais não têm a capacitação necessária para ensinar”, comenta.

 

Problemas do ensino remoto
Conforme uma pesquisa sobre o uso de internet por crianças e adolescentes no Brasil, é recomendado que durante a primeira infância (até os 6 anos de idade) crianças não passem mais de 2 horas diárias em frente à televisão, celular ou computador. No entanto, durante o ensino remoto, os estudantes saíram de um ambiente escolar preparado e capacitado para terem aulas em frente à telas, em suas casas.

 

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Foto: Anna Flavia Arana/Arquivo Periódico


De acordo com um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de problemas de aprendizagem, o ensino remoto pode resultar em dificuldades de interação social e controle de impulsos. Além disso, nas escolas as crianças têm a atenção necessária de profissionais especializados em um ambiente pedagógico e socioemocional. Já em casa, as crianças não têm os pais à disposição e um ambiente propício para aprendizado.
Por outro lado, algumas crianças foram impossibilitadas de acompanhar as aulas pela falta de internet ou aparelhos eletrônicos. Um levantamento mostra que 60% dos estudantes de escolas públicas possuem conexão de baixa qualidade ou não têm acesso à internet. Em escolas privadas, esse problema atinge apenas 17% dos alunos.

 

Como reverter o problema?
A professora Thaynã Pietrobelli, da Escola Municipal Professor Paulo Grott, conta que o grupo docente percebeu uma defasagem significativa das crianças no retorno presencial. No entanto, também observou que aquelas que tiveram acompanhamento e apoio direto dos pais e/ou responsáveis apresentaram um quadro de aprendizagem um pouco melhor.
Como estratégia, no início das aulas, os profissionais da escola elaboraram uma avaliação de aprendizagem para verificar os conhecimentos adquiridos ou não durante o ensino online. A partir disso, as professoras desenvolveram atividades diversificadas e individualizadas para cada aluno, visando o desenvolvimento e nivelamento do ensino para que toda a turma consiga trabalhar.

 

Ficha técnica

Reportagem: Yasmin Orlowski

Edição e publicação: Deborah Kuki e Matheus Gaston

Supervisão de produção: Rafael Kondlatsch

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Mauricio Liesen