A condição de Superdotação em crianças ainda é desconhecida no Brasil

 

Crianças que apresentam flexibilidade de pensamento, maior fluência criativa, mais energia mental e física, maior curiosidade, memória mais desenvolvida do que a média, senso de humor avançado para a idade e interesse profundo em determinados assuntos, podem ter Altas Habilidades/Superdotação.

A dificuldade de identificar Altas Habilidades em crianças deve-se ao desconhecimento das características que elas apresentam nas mais diversas atividades artísticas, esportivas e psicomotoras. Segundo a mestre em educação e psicóloga, Áurea E Om Spricigo Siqueira, muitos superdotados no Brasil têm sua condição identificada tardiamente porque geralmente eles se destacam em áreas consideradas principais, como português e matemática. Para pessoas que possuem mais facilidade em outras áreas, isso pode resultar em frustração. “Dentro das Altas Habilidades, há um grande repertório de diversos talentos e habilidades que podem passar despercebidos”, conta.  Além disso, a psicóloga explica que na Superdotação há uma característica chamada assincronismo. "Às vezes, o desenvolvimento intelectual está acima do esperado em uma habilidade, em um desenvolvimento e [quando há] uma dificuldade em outra habilidade, a discrepância fica cada vez mais evidente”, ressalta Áurea.

O assincronismo é uma característica marcante, como é o caso de Eduardo Nicoluzzi Portela, de 10 anos. A mãe dele, Dayane da Rocha Nicoluzzi Portela, conta que o filho sempre se interessou em aprender instrumentos musicais e tem facilidade para fazer cálculos matemáticos considerados difíceis. Na escola, porém, tinha dificuldade em algumas matérias e na interpretação de atividades e provas. “Durante a pandemia, ele teve bastante dificuldade para acompanhar as atividades online. Na volta às aulas, ele teve dificuldade na interpretação de exercícios”, conta. Logo que a escola percebeu, pediu uma avaliação neuropsicopedagógica e, com os testes, Eduardo foi identificado com Altas Habilidades, com maior tendência ao campo artístico.

Os testes realizados por Eduardo fazem parte de um processo de identificação que envolve responder questões e avaliações com profissionais da psicologia e neuropsicologia. O psicólogo Luiz Felipe Sowek Barbosa destaca que a identificação deve ser clara. “A identificação precisa e não tardia também é importante para o desenvolvimento do autoconhecimento”, afirma.

Atenção escolar

Tanto Áurea quanto Luiz Felipe destacam a importância do papel da escola no desenvolvimento de uma criança com Altas Habilidades/Superdotação. Geralmente crianças com essa característica são identificadas através de comportamentos que apresentam em sala de aula. Assim, a escola se torna fundamental na comunicação com a família e em como essa criança se desenvolverá a partir da identificação.

A Lei de Diretrizes e Bases da educação determina as formas de educação especial no Brasil. Na lei consta que as pessoas com Altas Habilidades também têm direito a enriquecimento curricular e a adaptações dentro da rede pública de educação após a devida identificação.

EDUCAÇÃO CRIANÇA Amanda Dombrowski

Comportamentos podem ser identificados em sala de aula. Foto: Amanda Dombrowski/Arquivo Periódico

O enriquecimento curricular se dá através do Plano de Desenvolvimento Individualizado, um documento adaptado para crianças, em que consta a habilidade que está sendo desenvolvida, qual estratégia vai ser utilizada e qual é o objetivo de aprendizagem. Áurea destaca que se deve pensar nas inteligências múltiplas de cada criança. “Nós vamos enriquecer, principalmente, as inteligências em que a criança apresenta dominância”. Luiz Felipe esclarece que a superdotação está relacionada com o estímulo externo. “A criança tem aquelas características neuronais e capacidade cognitiva, mas isso precisa ser estimulado”. 

Outra modalidade de enriquecimento curricular é a sala de recursos. Nessas salas as crianças têm horário agendado e são atendidas por uma professora de educação especial para desenvolver a capacidade do superdotado. O atendimento numa sala de recursos foi indicado para Eduardo. Segundo Dayane, há somente uma sala de recursos na rede estadual para a idade dele e na série em que está matriculado, conforme lhe informaram.  A situação de Eduardo ainda será avaliada pela escola em que estuda atualmente. 

Segundo informações repassadas pela Prefeitura de Ponta Grossa, a rede municipal conta com Salas de Recursos Multifuncionais (SRM). O trabalho é coordenado pelo Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado (CMAEE), da Secretaria Municipal de Educação. 

 

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Clique aqui e confira a edição completa.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Júlia Andrade

Edição e publicação: Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Cândida de Oliveira, Maurício Liesen e Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Ricardo Tesseroli

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