Stand de atividades desenvolvidas pelas escolas municipais no IV I Foto: Kimberly Safraide
O acesso à internet, assim como a educação, são declarados direitos humanos básicos pela ONU. De acordo com documento das Organizações Unidas,  em locais onde são disponibilizados mais acessos à rede, maior é a possibilidade de alfabetização para as crianças, assim como o acesso ao ensino superior para os jovens e de maior desenvolvimento econômico para as suas famílias. Esse é o tema abordado no Capítulo 3 da reportagem “Cidades Conectadas”. Aqui abordamos o uso da internet pelas escolas municipais e se esse acesso propicia maiores oportunidades para formação de estudantes da rede municipal de ensino em Ponta Grossa.
A estrutura da conectividade nas escolas
Dentro dos parâmetros curriculares nacionais  “É indiscutível a necessidade crescente do uso de computadores pelos alunos como instrumento de aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados em relação às novas tecnologias da informação e se estrurarem para as demandas sociais presentes e futuras.”. No entanto, dentro das escolas a dificuldade de acesso à internet e a computadores faz com que essas diretrizes não sejam completamente cumpridas. Situação que se agrava ainda mais nas regiões rurais.
Na Escola Municipal Maria Elvira no distrito de Guaragi, a internet disponibilizada é via rádio. Segundo o professor Ricardo Freitas, a conexão lenta  impossibilita o planejamento de aulas durante as horas atividades (momento que o educador têm disponível para preparar suas aulas) do professor na escola e também o uso da internet pelos alunos. Freitas também comentou que apesar de existir um laboratório de informática, os computadores estão sem manutenção. O laboratório não funciona há três anos.  A direção da Escola informou que estão tentando conseguir a reforma do local ainda neste ano.
O Programa Banda Larga na Escola foi lançado no dia 04 de abril de 2008 pelo Governo Federal, por meio do Decreto 6.424 que altera o Plano Geral de Metas para a universalização do serviço telefônico fixo comutado prestado no Regime Público (PGMU). Com a assinatura do Termo Aditivo as operadoras autorizadas trocaram a obrigação de instalarem Postos de Serviços Telefônicos (PST) nos municípios, pela instalação de infra-estrutura de rede e suporte para a conexão  da Internet em alta velocidade (1 giga), em todas as 64 mil escolas públicas do país. As operadoras responsáveis  (Oi, Vivo, Algar, BrasilTelecom e Sercomtel), teriam até o fim de 2010 para implantar todo o projeto e manter o serviço gratuito até 2025.
Em Ponta Grossa, 87 instituições de ensino fazem parte deste Programa. A Escola Municipal Coronel Cláudio Guimarães foi a primeira escola da rede pública da cidade a criar um Núcleo Tecnológico Integrado (NTI). A professora Zélia Araújo explica que os alunos do 5º ano têm aula uma vez por semana com os professores do núcleo. “Os alunos aprendem programação para crianças, tem aulas de matemática, e também cursos de informática básica para a comunidade”, relata. Além disso, o Núcleo busca a formação dos professores do município para inseri-los nas novas mídias. Vale ressaltar que apesar da escola possuir NTI, a instituição não possui laboratório de informática.
Por outro lado, a Escola Municipal Professora Minervina França Scudlareck, que também está inclusa no Programa Banda Larga, não possui internet para todos, pelo menos, não ao mesmo tempo. Segundo professoras da escola, a internet, quando usada pela secretaria, não pode ser usada pelos professores, pois a conexão fica lenta, inviabilizando qualquer tipo de atividade. Essa situação faz com que o laboratório de informática da escola não seja utilizado pelos alunos, situação que se prolonga por dois anos.
Com a promessa de democratização da internet, o Governo do Estado do Paraná, por meio da Secretaria de Estado da Educação, criou o Projeto Paraná Digital. O  objetivo do projeto é promover a inclusão digital e a melhoria da qualidade da educação básica por meio do uso adequado das novas tecnologias da informação e da comunicação. Ponta Grossa é uma das cidades que mais possui horas de internet nas escolas estaduais por meio do Projeto, chegando a 17.500 horas por mês. Porém, segundo o PRD Estatísticas, que faz a análise do uso dos computadores nas escolas, das 33 instituições de ensino beneficiadas com o Projeto, 13 contabilizam o uso de estudantes e apenas 3 delas utilizam mais de 100 horas por dia. O uso da internet nas demais escolas fica por conta dos professores e de funcionários. Sem uma disciplina específica de informática dentro do currículo escolar, os estudantes são deixados de fora, sem acesso a um novo modo de adquirir informação, o que contradiz o objetivo do Projeto.
Em busca de uma metodologia
Passados trinta anos da existência da web no Brasil, a proporção de indivíduos que nunca utilizou a Internet no país encolheu, mas ainda corresponde a uma importante parcela da população. Segundo a Cetic.br, em 2008, representavam 61% dos brasileiros; em 2014 passou para 39%. O percentual de brasileiros com 10 anos ou mais que acessou a Internet, por meio do telefone celular, triplicou nos últimos três anos.
A professora da área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), Márcia Sylva, acredita no potencial da internet pelos recursos que ela oferece. “Você têm a possibilidade de acessar com muito mais facilidade as informações. E essas informações podem vir em modo de texto, de imagem, e som. Então, tem um potencial muito grande de auxílio à educação”, coloca a professora. Entretanto, para se atingir esse potencial, Sylva reforça a importância de se saber manusear essa ferramenta.
Contudo, a situação não é tão simples. A internet cresceu e se modificou constantemente em 30 anos de difusão no Brasil. É por isso que a professora reforça uma formação continuada dos professores para que se adaptem a essas transformações. “Um projeto nacional de formação tem a ver com uma escola que seja projetada, para que haja uma rede de cabeamento de internet ou uma rede Wi-Fi. Que sustente um grande número de usuários, acessando a rede ao mesmo tempo e que essa rede possa ser acessada por dispositivos móveis, oferecidos pela própria escola”, visualiza.
Para o professor do Laboratório e Núcleo de Estudos e Pesquisas em Mídia-Educação (LUME) da UEPG, Marsiel Pacífico, a prática da formação continuada no sentido de educar os professores a utilizarem a internet na educação ainda é falha  no Brasil. Para Pacífico, essa carência mantêm práticas pedagógicas antigas nas escolas, as quais não despertam a atenção de estudantes que cresceram em contato com as novas tecnologias. “Tem crianças que chegam com 4 e 5 anos na escola com uma média, que é recorde no Brasil, com quase 5 horas de tela por dia. Inclusive no ponto cognitivo, essa criança é reorganizada. Ela sente o mundo com uma outra intensidade, com uma outra velocidade. Então, as aulas tal como elas são desenhadas hoje, generalizando, não produzem mais capacidade de retenção, de atenção, de foco, não despertam mais interesse”.
A professora Márcia Sylva reflete que o governo atuou mais no sentido da implantação da internet nas escolas do que construir uma metodologia de ensino, que usa a Internet como ferramenta. Agora, a professora vê com otimismo pesquisas feitas sobre como a Internet pode agir de forma educativa na sociedade. Para ela, esse é um dos desafios. Outro desafio que ela propõe, é inserir a internet não somente nas escolas, mas no âmbito público, de forma democrática, para que o conteúdo trabalhado na internet pelas escolas possa ser acessado em outros espaços pelos alunos.
Na questão da metodologia de ensino, o professor Marsiel confessa que é complicado definir uma como ideal, pois os pesquisadores observaram as transformações que a internet e as novas mídias trouxeram faz pouco tempo. Mas já existem pesquisas tanto positivas como negativas das suas consequências para a educação. Pacífico cita como exemplo estudos da área da neuroeducação, que mostram que a escrita e a leitura no papel tem uma capacidade de aprendizado muito maior do que da digitação e o uso de telas. Em contrapartida, o uso da internet como troca e disposição de conhecimento pode ser muito útil para a educação. Como coloca o sociólogo francês Pierre Levy: “o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas. Ela deve ser pensada como uma ferramenta que permita encontrar em um novo estilo de pedagogia as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva em rede”.
O pesquisador Marsiel reflete como a Internet quebra a lógica de um aprendizado fechado pelo livro didático, antes inquestionável quando o conhecimento era mais difícil de ser alcançado. Por isso a importância do professor saber mapear a internet, para que assim possa indicar os melhores caminhos para se atingir um conhecimento mais legítimo e importante.
O professor da LUME coloca a potencialidade do uso da internet para o ensino híbrido. Ou seja, diferente da lógica do professor como protagonista a fazer sua aula para o aluno médio, a qual abre espaço para o surgimento de outsiders (alunos em que a aula não produz significado por não ter a estrutura base para tanto), “o ensino híbrido vai trazer ferramentas tecnológicas que vão potencializar o caráter individual da educação”. Para Marsiel, esse tipo de ensino estimula a pesquisa e o uso dos novos meios tecnológicos pela parte dos alunos. O professor ainda é o detentor de maior conhecimento e deve ser referência para os alunos, porém, com o ensino híbrido, o aprendizado se constrói de forma coletiva.
Como aponta o professor, antes de discutir como a internet deve ser usada,  temos que discutir o porquê ela não é usada. As novas tecnologias estão proporcionando mudanças constantes no modo de viver das pessoas, e os professores e alunos precisam acompanhar esse processo. “A escola tem que fazer uma pergunta muito importante a si mesmo: deixo esses processos lá fora ou vou aprender como utilizar esses processos aqui dentro para o bem na escola?”, questiona Marsiel.
Implantação de tablets nas escolas
Em novembro de 2017 a Prefeitura de Ponta Grossa autorizou uma licitação de R$ 9,5 milhões para a compra de tablets para as 84 escolas municipais da cidade. Segundo a Secretaria Municipal da Educação, serão 35 aparelhos e um laboratório por escola.  A previsão para a entrega desses aparelhos é até o meio do ano, a ideia é que todas as escolas municipais recebam os tablets, mas segundo a Secretária o prazo de entrega desses aparelhos pode variar, alguns podem ser entregues em maio ou junho deste ano e outras somente no ano que vem.
Stand de novas tecnologias para atividades em sala de aula no IV Congresso de Educação de Ponta Grossa. Foto: Kimberlly Safraide

 

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