Ponta Grossa sedia, neste final de semana, evento que promoverá provas de laço, única modalidade da prática esportiva ainda permitida na cidade

 

Ponta Grossa sedia neste final de semana rodeio crioulo dos Campos Gerais, que será realizado no Centro Agropecuário Municipal Ayrton Berger, no bairro Contorno. O evento, que promove provas de laço, traz à tona o debate sobre essa modalidade de esporte pelo investimento previsto para a construção de nova pista e pelo fato de a atividade trazer prejuízo à saúde dos animais.

 

 

O evento tem início nesta sexta-feira (21) e será realizado na antiga pista, reformada em agosto. A construção da nova pista custará R$ 1.380.000,00, como foi anunciado em julho deste ano pela assessoria da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa através da Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SMAPA). O recurso foi obtido através de emenda parlamentar empenhada pelo deputado federal Sandro Alex (PSD). 

 

Há quem acredita que a verba pública destinada à obra da nova pista de rodeio poderia ser usada em benefício e proteção de animais de rua. O geógrafo Henrique Pontes aponta a alta frequência de abandono e os vários casos diários de atropelamento de animais que, em função dos maus tratos, precisam de cuidados médico-veterinários.

 

 

“Destinar R$ 1.380.000,00 para construir, reformar, pistas de laço é uma afronta dupla aos direitos dos animais”, reprova. “É um recurso milionário que poderia estar sendo destinado para a proteção animal e, na verdade, este recurso estimula a falta de respeito com os animais”, conclui.

 

 

Diferente do rodeio country, o mais popular no Brasil, onde o peão deve permanecer em cima do touro por 8 segundos, o rodeio crioulo, com a prova de laço, é o único permitido em Ponta Grossa. A proibição de provas que envolvam animais foi fruto de decisão judicial em ação movida, no ano de 2013, pela ONG Grupo Fauna.

 

 

A presidente da entidade, Isabele Futerko, destaca que, após decisão judicial, os eventos de Ponta Grossa passaram a contar apenas com prova de laço. “Infelizmente o juiz da ação entendeu que essa prova não é tão agressiva aos animais, do que discordamos com certeza. Porém, esta foi a decisão, já está transitada em julgado”, critica.

 

 

A discordância em relação à interpretação judicial vem do entendimento de que a modalidade esportiva afeta a saúde do animal. “Essa prova, que é a única permitida, hoje, na cidade, só pode laçar, não pode derrubar”, discorda Futerko para quem o fato não derrubar não significa a ausência de maus tratos. "Então não derruba, mas e a questão psicológica?”, discorda.

 

 

ESTUDO VERIFICA DANOS PROVOCADOS À SAÚDE DOS ANIMAIS

 

 

O estudo “Estados Comportamentais de Equinos Submetidos às provas de tambor e baliza” foi coordenado pela professora do curso de Veterinária da Faculdades Integradas dos Campos Gerais (Cescage), Erika Zanoni. A pesquisa verificou as consequências do estresse psicológico e físico em provas de três tambores, que são semelhantes à prova de laço.

 

 

Os dados obtidos indicam que as alterações hematológicas, como o aumento de neutrófilos, podem ser a resposta à adrenalina desencadeada durante os eventos. A pesquisa revela ainda que mesmo que haja um bom tratamento durante o transporte, os animais sofrem estresse psicológico ao longo da prova que os deixa irritados.

 

 

A protetora de animais Isabele Futerko descreve, no entanto, as situações de maus tratos a que também são submetidos os animais nessa modalidade de rodeio. “Soltam um bezerro, vaca, na frente e o cavaleiro vai atrás para tentar laçar ai esse animal”, aponta acrescentando que, durante todo o percurso, o animal é forçado a correr e, ao final, é levado para um corredor. “São poucos animais que são usados para isso, até por uma questão de custo. Então, é o mesmo animal que fica correndo a noite toda com um homem atrás tentando laçar”, reprova.

 

 

 

TRADICIONALISTAS DEFENDEM O RODEIO COMO EXPRESSÃO CULTURAL

 

 

O anúncio da liberação da verba foi, no entanto, comemorado por muitas entidades municipais, que também alegam necessidade de preservação da cultural regional. Em defesa do esporte e da construção da nova pista, o presidente do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Vila Velha, Ivo Bremm, relembra que o Paraná é dividido em polos, sendo Ponta Grossa o segundo polo tradicionalista do Estado.

 

 

“É fundamental, resgatar a cultura do povo do interior que, no passado, fazia isso no dia a dia. Para nós, é muito importante. Falando em rodeio não falamos apenas do laço. Temos a parte cultural, com palestras, shows, etc”, afirma o presidente. O traje gaúcho, as provas com uso de animais e a paixão por cavalos são comuns entre aqueles que ainda compartilham hábitos da cultura tradicionalista do Sul do país.