Documento anexo à licitação antevê mais de dois mil metros quadrados de desmatamento e limpeza do terreno para que seja feita a terraplenagem
Queda d’água no trecho do arroio que antecede a obra. Foto: Hellen Scheidt.
A nova obra proposta pela prefeitura de Ponta Grossa tem como meta a transposição do arroio Pilão de Pedra para a construção de uma ponte que fará a ligação entre os bairros Centro e Jardim Carvalho. A pavimentação asfáltica irá abranger a Rua Santos Dumont e a Avenida Rodrigues Teixeira Júnior, nos bairros Centro e Jardim Carvalho, respectivamente. Segundo o Secretário de Infraestrutura e Planejamento, Celso Sant’Anna, serão realizadas contenções em ambos os lados do arroio no trecho que compreende a obra.
“O arroio vai permanecer como está, toda a questão ambiental será preservada, [será feita] apenas a transposição do arroio. Todas as árvores, tudo que lá existe será mantido”, explica Sant’Anna. No entanto, a planilha de orçamento anexa à licitação estima 2.560 metros quadrados de desmatamento, limpeza e destocamento de árvores para realização da terraplenagem. O valor previsto para essa etapa da obra é de R$ 357.483,70.
Devido ao curso de água presente no local e à consequentemente retirada da vegetação, os moradores da região receiam pela vida silvestre que habita as proximidades do arroio. Segundo pessoas que trabalham ao lado do local onde será realizada a obra, no trecho existem alguns animais silvestres, como raposas e pássaros, como o jacu e a saracura. Eles dizem alimentar esses animais e tentam cuidar dessas espécies que aparentam não encontrar mais espaço dentro das cidades. “Esse arroio é importante, porque ele é um local seguro na cidade que os animais não têm hoje em dia. E aqui a gente cuida deles, ajuda na alimentação e talvez eles percam esse espaço”, receia a geógrafa Jessica Gadotti, que trabalha em uma construtora próxima ao arroio.
Durante a conversa, um dos funcionários que trabalha junto com a geógrafa mostra no celular fotos das aves que eles já viram no local. Nas imagens, é possível notar principalmente o jacu, devido à papada de cor vermelha. O trabalhador demonstra o tamanho da ave com as mãos e compara a estatura do pássaro com a altura de uma galinha. De acordo com Gadotti, o casal de jacus que mora na faixa de vegetação está na quarta reprodução este ano.
Espaço onde os moradores oferecem comida aos pássaros. Foto: Hellen Scheidt.
Além das consequências da perda da vegetação para os bichos, a alteração no trecho do arroio pode trazer outros problemas ambientais. O professor do Departamento de Geografia da UEPG, Henrique Pontes, informa que a mudança na dinâmica natural de um curso d’água pode não trazer bons resultados. “Principalmente em área urbana, um rio que seja drenado ou canalizado pode trazer muitos problemas em relação ao aumento da vazão do rio. Isso pode alterar a dinâmica do rio e pode, por exemplo, gerar inundação e alagamento para frente, na jusante desse trecho que foi alterado”, explica.
Somente 0,02% da cidade de Ponta Grossa não está vinculada à rede de saneamento da Sanepar. A falta de saneamento básico e o despejo de esgoto em espaços a céu aberto, no entanto, não estão restritos à regiões afastadas da cidade. O Arroio Pilão de Pedra,por exemplo, fica na região central.
O arroio Pilão de Pedra possui 8,48 quilômetros quadrados de abrangência e engloba cinco bairros de Ponta Grossa. O curso d’água nasce no centro da cidade, passa pelo trecho localizado próximo à UEPG Central e segue no sentido nordeste, em direção ao olho d’água São João Maria, no bairro Neves. Por todo o caminho, o Pilão de Pedra possui casas e prédios próximos que podem ser afetados caso ocorra aumento na vazão do arroio.
De acordo com o relatório do projeto de drenagem, o objetivo é interromper a passagem das águas que vêm de áreas próximas e realizar a remoção das águas superficiais para fora da plataforma da via, para evitar possível desgaste do pavimento e proporcionar uma proteção contra a erosão. Depois, será realizado o rebaixamento do lençol freático para que ele possa se adequar à inclinação do terreno. Também é prevista a utilização de meios-fios que coletarão as águas e as encaminharão para um local de deságue seguro. No entanto, o relatório não especifica onde será realizado o deságue.
Além disso, há moradias irregulares próximas ao local onde será realizada a construção da ponte. Em Ponta Grossa, cerca de 8.769 famílias se encontram em moradias em áreas irregulares, consideradas “subnormais”, sendo 6.631 desse total em Áreas de Preservação Permanente (APP), como margens de rios e arroios e terrenos com árvores nativas, conforme o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) vigente, formulado entre 2009 e 2013.
Observando o desenho esquemático sobre a construção do trecho, é possível notar que, pelo menos, uma moradia próxima ao arroio será afetada. Segundo o Secretário de Infraestrutura e Planejamento, se for necessário desocupação das casas, o trâmite será feito através da Companhia de Habitação de Ponta Grossa (Prolar).
O valor máximo para realização da obra, de acordo com a licitação, é R$ 4.285.221,13, oriundos de recursos do Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa), benefício da Caixa Econômica Federal. Vencerá a disputa a empresa que cobrar o menor valor para a realização do trecho e terá o prazo de 360 dias para a conclusão dos trabalhos. A abertura das ofertas da licitação está prevista para o dia 09 de janeiro.
Edição: Raylane Martins e Thailan de Pauli Jaros
Supervisão: Professoras Angela Aguiar, Fernanda Cavassana, Helena Maximo e Paula Melani