Prefeitura afirma que a burocracia na seleção é necessária

 

Artistas que não foram contemplados com incentivo ou auxílio à cultura em Ponta Grossa reclamam das regras dos editais de seleção. Neste ano, houve seis processos de seleção divulgados pela Fundação Municipal de Cultura (FMC): "Em Casa com Cultura", "Ocupa Cultura" e “Ria+”, além de testes para Orquestra Sinfônica, para o Grupo de Teatro e para o Coro Cidade. No total, são 674 inscrições homologadas, com 229 contemplados.

 

O contrabaixista e produtor musical Luis Liesenfeld é um dos insatisfeitos com os resultados. Ele participou do edital emergencial "Em Casa com Cultura" e, embora alegue ter cumprido todos os requisitos, não foi contemplado. “Alguns nomes que ganharam eu nunca nem vi aqui na cidade, a maioria não conheço, nunca vi tocando na noite”, diz. A cantora Gabrieli Kielt se inscreveu no “O Coro Cidade” também não foi selecionada. Ela ressalta que, na pandemia, os artistas precisam de apoio. “Não dá pra tocar direito em bar, fazer show. Tinha o Sexta às Seis, que era um ótimo evento para quem era da música porque mostrava as bandas, mas agora não tem mais. Os artistas acabam escondidos, ninguém lembra como eles estão vivendo. Se eles viviam disso, o que estão fazendo agora?", questiona.

 

João Carvalho, acadêmico do curso de Música da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), considera que houve excesso de burocracia no edital “Em Casa com Cultura”. O estudante chegou a entrar com recurso na categoria Produção, mas não foi contemplado. Ele acredita que, sobretudo na pandemia, a FMC deveria ajudar mais na divulgação do trabalho dos artistas, mesmo que de maneira remota, por plataformas virtuais. "Para dar essa movimentação e não ficar só na arte pela arte; propagar para que a sociedade consiga aproveitar um pouco do trabalho".  

A profissional da dança e professora de yoga Amelu Nunes também se sentiu prejudicada porque, embora esteja morando em Ponta Grossa, seu portfólio foca mais trabalhos de quando residia em outras cidades, como Curitiba e São Paulo. Um dos requisitos era a relevância da proposta para a cidade. A professora ainda sugere a implementação de um júri popular na avaliação dos editais. 

 

O outro lado

 A prefeitura de Ponta Grossa informou que a seleção dos artistas é baseada em diversos critérios técnicos e busca contemplar o maior número de artistas e iniciativas de acordo com os recursos previstos em cada edital. A administração municipal destaca ainda que os editais exigem comprovante de residência no município e os participantes que não comprovem a veracidade ou descumpram as normas obrigatórias do edital estão passíveis de ação judicial. 

Em nota,  a prefeitura diz que o processo burocrático é necessário ao tratar de editais que utilizam recursos públicos, e que tem trabalhado no processo de ampliar a clareza das informações. Sobre o número de contemplados ser menor do que a metade dos inscritos, a prefeitura explica que isso se deve à disponibilidade de recursos. A Lei Aldir Blanc foi uma rara exceção, já que os recursos oriundos do Governo Federal foram muito superiores aos disponíveis pelo município para editais. A Fundação Municipal de Cultura também informou que Ponta Grossa recebeu R$2,2 milhões para execução da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, implementada por estados e municípios para a distribuição de recursos do Fundo Nacional de Cultura.

 

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(Foto: Maria Eduarda Eurich)

 

Ficha técnica

Reportagem: Gabriel Clarindo Neto

Edição e Revisão: Maneula Roque e Malu Bueno

Publicação:Rafael Piotto

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

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