A divulgação da mensagem acima circulou em peça publicitária promovida pela Prefeitura, ocupou noticiário da imprensa regional, recebendo comentários de membros do Executivo, e também foi endossada pela assessoria da Sanepar. No entanto, o FOCA NOS FATOS demonstra que não é bem assim.
Para fazer tal afirmação, a Prefeitura usou a pesquisa organizada pelo Instituto Trata Brasil. O documento se chama “Ranking do Saneamento Básico das 100 maiores cidades do país”, o qual se baseia em dados oficiais do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e Ministério das Cidades, considerando o ano-base de 2015.
Ponta Grossa aparece como a sétima cidade com melhor sistema de saneamento básico do país. A lista ainda conta com outras cidades do estado entre as primeiras colocadas. Curitiba ocupa o 11° lugar, sendo a primeira capital na colocação. Ou seja, uma cidade de 10 mil habitantes, por exemplo, pode ter uma condição melhor de saneamento que Ponta Grossa, mas estará fora do recorte da pesquisa. Cidades maiores exigem uma infra-estrutura e investimentos muito maiores.
Cerca de uma em cada dez casas de PG está fora da rede de esgoto.
O nível de saneamento básico se avalia a patir da distribuição de água tratada e da coleta e tratamento de esgoto. Segundo os dados da pesquisa SNIS, em Ponta Grossa, 100% dos habitantes possuem abastecimento de água fornecido pela Companhia Paranaense de Saneamento (Sanepar), enquanto que a coleta de esgoto chega a 90,37% das casas. A pesquisa SNIS não leva em conta outros componentes do saneamento básico, como a coleta de lixo e limpeza urbana.
Segundo o coordenador-geral da Sanepar em Ponta Grossa, Fabiano Orochi, há 126.478* ligações da rede de distribuição de água, e 139.950* de ligações à rede de esgoto. Há nove estações de tratamento de esgoto na cidade, duas de tratamento e duas de captação de água. Segundo Orochi, o abastecimento de água do município é retirado do rio Pitangui e da represa de Alagados.
O número de casas atendidas por rede de esgoto em Ponta Grossa é menor se comparado ao de residências servidas por água encanada. Fabiano Orochi explica que “por conta do terreno acidentado da cidade, é tecnicamente impossível que a rede de esgoto atinja todas as casas”. A porcentagem de atendimentos pelo serviço de água também é questionável. Segundo o coordenador, a pesquisa considera abastecida a casa localizada no trajeto da tubulação, mesmo que ela não tenha um ponto de distribuição.
Outro ponto que demonstra distorção dos fatos diz respeito à distribuição dos serviços de saneamento. “Esses estudos não levam em conta as moradias irregulares na cidade, que não são atendidas pela Sanepar”, explica o acadêmico de Geografia, Diego Juraski. Outra lacuna da pesquisa é a análise da qualidade da água distribuída.
Por que consideramos exagerado?
Não se pode tirar o mérito de Ponta Grossa quanto à distribuição de água e esgoto, afinal, em todo o Brasil mais de 35 milhões de pessoas não possuem esses serviços. Contudo, o serviço ainda apresenta várias falhas, e Ponta Grossa está longe de ser um exemplo a ser seguido na área de saneamento.
Os meios de comunicação contribuíram para distorcer informações ao apontar Ponta Grossa como a sétima melhor cidade em todo o Brasil em relação ao saneamento, considerando que foram avaliadas apenas as cem maiores cidades e o país possui 5.570 municípios.
As informações foram divulgadas pelo Jornal da Manhã, Diário dos Campos, Rede Massa, Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, Instituto Trata Brasil e Sanepar e endossadas pela prefeitura de Ponta Grossa.
*dados de 27 de setembro de 2017
A edição 195 do Foca Livre publicou informações obtidas no banco de dados do Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR) na qual se indicavam que duas das cinco obras paralisadas mais antigas de Ponta Grossa são ligadas a questões de saneamento.